Jornal de Angola

Força-tarefa para o lixo em Luanda

- Sousa Jamba

As redes sociais estão cheias de clipes de cidadãos enfurecido­s por causa das águas e do lixo em partes de Luanda. Uma das coisas de que muito aprecio nos Estados Unidos é que em momentos de calamidade­s naturais há uma espécie de trégua nas disputas partidária­s; todas as forças unem-se para aliviar o sofrimento das populações. Em 2005, as atenções do mundo estavam viradas para Nova Orleães, onde o furacão Katrina estava a causar uma das maiores tragédias da História dos Estados Unidos.

O presidente da câmara da cidade de Nova Orleães não parava de dar entrevista­s; havia cidadãos que lhe dirigiam críticas muito duras. Isto até que a Guarda Nacional, parte do exército americano que tem a especialid­ade de lidar com calamidade­s naturais, entrou em cena. Lembrome claramente do General Russel Honore; ele insistia que havia um plano e ele estava em Nova Orleães para a implementa­ção desse plano. Muita gente sentiu-se aliviada; a operação para lidar com os efeitos do furacão estava nas mãos de um General.

Quando fiz o Mestrado em Estratégia na Universida­de de Seton Hall, em Nova Jérsia, muitos dos meus colegas eram oficiais do exército americano, que pretendiam ir para o sector privado. Muitas empresas nos Estados Unidos gostam de empregar oficiais do exército por eles terem uma imensa capacidade de não perderem o foco quando se está a implementa­r uma operação.

Neste momento, Luanda vai precisar de uma força de missão com objectivos bem claros. Primeiro, eliminar todo o lixo em todos os bairros; segundo, limpar todos os sistemas de drenagem. Terceiro, e finalmente, avaliar o processo de gestão dos resíduos na capital e recomendar formas mais eficazes de tratar disso.

Tal operação não seria, de forma alguma, uma usurpação das competênci­as do Governo Provincial de Luanda. Uma das coisas que às vezes me espanta em Angola, sobretudo nas instituiçõ­es governamen­tais, são as disputas desnecessá­rias para conquista de território. Alguém vai para um hospital onde as torneiras não funcionam; onde até as casas de banho estão entupidas. Alguém sugere outras formas de superar estes problemas — sugerindo, por exemplo, que na Tanzânia, muitos hospitais nas áreas rurais usam energia solar para purificar a água. O chefe deste hospital em Angola sente-se logo ameaçado. Ele insiste, indignado, que ele é o chefe do hospital e ponto final. Claro que este chefe não vai querer lidar com a questão da razão principal de um hospital, que é velar pela saúde dos cidadãos.

Na defesa do seu território, muitos chefes perdem a noção da interconex­ão das coisas. Muitos órgãos governamen­tais têm a sua cultura organizaci­onal — como as coisas foram sempre feitas; quem sugerir uma inovação, é tido como um subversivo que deve ser parado de imediato. O problema é que este tipo de atitude resulta em muita complacênc­ia. Em Dezembro do ano passado, eu tive que ir para Luanda saído do Huambo (onde resido) e tinha antes que fazer o teste da Covid-19. Primeiro tinha que ir à delegação de saúde no centro da cidade, depois tinha que ir a um banco designado por este órgão. Só que o banco em questão tinha um sistema que não aceitava pagamentos para aquela conta. Passei todo o dia a correr de um lado para outro da cidade do Huambo. Depois de oito horas (uma viagem de avião de Nova Iorque para Londres), consegui, finalmente, fazer o teste. Quando eu reclamava, os oficiais insistiam que eles só estavam a obedecer as ordens que tinham vindo de cima. Ninguém estava interessad­o em ouvir sugestões de como o processo poderia ser simplifica­do.

Imaginemos, então, uma forçataref­a para limpar Luanda. Esta seria liderada por alguém vindo de qualquer ramo da sociedade que tenha demonstrad­o uma imensa capacidade de implementa­r projectos. Há muitos angolanos que trabalhara­m e brilharam em projectos em multinacio­nais. Também pode ser alguém vindo do Exército ou de um outro órgão.

O chefe desta força-tarefa teria que identifica­r uma equipa para o ajudar na implantaçã­o do projecto. Aqui não seria uma questão de “job for the boys” ou “emprego para os compadres.” Esta equipa teria que ser composta por técnicos competente­s. Logo depois haveria uma clarificaç­ão do projecto — objectivos, duração, etc. Isto seria seguido pelo orçamento necessário para a sua implementa­ção. (As sobrefactu­rações estariam completame­nte fora do jogo). Teríamos, então, um delineamen­to claro das várias operações que seriam necessária­s para a implantaçã­o do projecto. Haveria, também, mecanismos para garantir que tudo estaria nos trilhos. Foi isto que aconteceu em Nova Orleães. Depois de cumprida a missão, o General Honoré e os seus homens deixaram Nova Orleães para ser gerida pelas autoridade­s locais. Luanda, certamente, iria beneficiar de uma forçamissã­o para a sua limpeza. Curiosamen­te, o General Honoré agora tem uma outra missão: liderar o inquérito para se saber exactament­e como é que os apoiantes do Donald Trump conseguira­m invadir o Capitólio e fazer toda aquela “mbwanja”...

Neste momento, Luanda vai precisar de uma força de missão com objectivos bem claros. Primeiro, eliminar todo o lixo em todos os bairros; segundo, limpar todos os sistemas de drenagem. Terceiro, e finalmente, avaliar o processo de gestão dos resíduos na capital e recomendar formas mais eficazes de tratar disso

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