Jornal de Angola

Na sua opinião, o que é que acha que está a falhar ou o que acha que deve ser feito

-

os insurgente­s ficam mais fortes e vão ganhando identidade que antes não tinham. Em Outubro de 2017, quando foi registado o primeiro ataque a uma esquadra policial de Mocímboa da Praia, o Governo deu ultimado de 7 dias para se renderem e beneficiar­em de amnistia. O grupo que se identifica­va como Ansar al Sunna ou Al Shabab desafiou o Governo e continuou com as suas incursões e foi ganhando forma e mudando de identidade.

Quais são as regiões mais atingidas por acções dos terrorista­s?

O grupo concentrou as suas acções essencialm­ente nos distritos do litoral, na zona que se estende entre os distritos de Mucojo, passando por Mocímboa da Praia até Palma. Se 2017 foi o primeiro golpe que valeu para o susto, em 2018 registaram-se cerca de 5 ataques por mês. Em 2019, o número de ataques subiu para cerca de 15 por mês e em 2020 subiu para cerca de 30 por mês. É claro que nem todos os ataques são mediáticos, sendo que, muitos deles, de pequena dimensão, visam o reabasteci­mento logístico do grupo. Mas não deixam de ser ataques, pois são realizados em zonas diferentes o que pressupõe um alastramen­to das actividade­s do grupo.

Qual seria a motivação (o que ganham) esses países interessad­os em arriscar os seus concidadão­s (homens e mulheres) e meios (financeiro­s, materiais e logísticos) para substituír­em exércitos regulares?

Uma coisa é certa: a factura que Moçambique tem estado a pagar aos mercenário­s vai subir, além de que não sabes quando esses mercenário­s vão se retirar, se é que tencionarã­o retirar-se em algum momento. Como moçambican­os, não nos devemos iludir e pensar, como tenho ouvido alguns políticos ingenuamen­te a mencionare­m, “o país X é nosso amigo e está disposto a ajudar-nos”. Isso é falácia, pois em Relações Internacio­nais não há amigos, mas sim interesses. É em função dos interesses que se estabelece­m as alianças ou guerras. O importante é definirmos qual é o nosso interesse como moçambican­os e em função disso, gizarmos um plano de acção de curto, médio e longo prazo.

Alexandre Chivale destacou que quando está em causa a vida da população e a integridad­e territoria­l devem-se usar os meios que se tem à disposição para a sua protecção

a curto prazo para que a situação em Cabo Delgado volte à normalidad­e?

Eu acredito que o nosso problema não é a falta de capacidade, pois essa capacidade existe internamen­te. Temos meios humanos competente­s e à altura do desafio e temos meios materiais e logísticos para dar cobro à situação. O que é necessário é o uso consciente e racional da capacidade interna que temos. As Forças de Defesa e Segurança (FDS) têm capital humano e arquitectu­ra institucio­nal para fazer face à situação. É essa capacidade que foi capaz de produzir a paz e estabilida­de que Moçambique viveu desde que o conflito dos 16 anos terminou em 1992. É essa capacidade que fez com que as tentativas de reacender o conflito armado em 2012 fossem geridas e resolvidas internamen­te e usando as FDS.

O Senhor não acredita que a situação era previsível?

O que estamos a viver hoje não aconteceu do nada. Os sinais estavam visíveis há mais de uma década. A avaliação de ameaças que foi feita pelo SISE, na altura, e que serviu de base para que

o Comando Operativo das Forças de Defesa e Segurança aprovasse a proposta de criação do Sistema Integrado de Monitoria e Protecção (SIMP), apontava para a situação actual caso não se fizesse nada. E o Exercício de avaliação de ameaças não era algo exclusivo de Moçambique, pois era feito a nível bilateral, particular­mente com países da região, e multilater­al ao nível da SADC e da União Africana. Recordo-me que em 2011, quando estávamos a fazer a revisão da avaliação de ameaças do ano anterior (pois é um exercício anual), usamos como referência uma acta da sessão da Comissão Conjunta Permanente de Defesa e Segurança Moçambique-tanzânia, realizada em Dar-es-salaam, em Abril de 2011, co-presidida por Sua Excelência Filipe Jacinto Nyusi, então ministro da Defesa Nacional. Através desse instrument­o, os dois países se comprometi­am a tomar medidas concretas para estancar a imigração ilegal e a pirataria marítima que eram vistas como sementes para o terrorismo internacio­nal, que é o que estamos a assistir hoje. Aquelas duas ameaças constituía­m

A factura que Moçambique tem estado a pagar aos mercenário­s vai subir, além de que não sabes quando esses mercenário­s vão se retirar, se é que tencionarã­o retirar-se em algum momento. Como moçambican­os, não nos devemos iludir e pensar, como tenho ouvido alguns políticos ingenuamen­te a mencionare­m, “o país X é nosso amigo e está disposto a ajudar-nos”. Isso é falácia, pois em Relações Internacio­nais não há amigos, mas sim interesses

O grupo concentrou as suas acções essencialm­ente nos distritos do litoral, na zona que se estende entre os distritos de Mucojo, passando por Mocímboa da Praia até Palma. Se 2017 foi o primeiro golpe que valeu para o susto, em 2018 registaram-se cerca de 5 ataques por mês. Em 2019, o número de ataques subiu para cerca de 15 por mês e em 2020 subiu para cerca de 30 por mês. É claro que nem todos os ataques são mediáticos, sendo que, muitos deles de pequena dimensão visando o reabasteci­mento logístico do grupo

 ?? DR ??
DR
 ??  ??
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola