Chefe para tudo (I)
Quando todas as evidências apontavam o desfecho da presente época chuvosa em jejum, com resultados desagradáveis para o ano agrícola (salvaguardando as excepções), eis que Luanda, cidade capital do País, foi banhada com uma estridente chuva, no dia 3 de Abril, que quase comprometia as eleições na Associação da Imprensa Desportiva Angolana.
Na tentativa de alguns jornalistas habilitados para o referido pleito tentarem “enganar o estômago”, decidiram comer e tomar qualquer coisa numa das pastelarias tradicionais de Luanda, lá pelas bandas da livraria Sá da Bandeira, que já foi das mais famosas da nossa urbe.
Entre a escola de formação de jornalistas e o café escolhido, -a distância não é tanta-, caiu água suficiente para molhar quem circulasse na zona, e que não tinha outra hipótese, que não procurar o abrigo possível para, pelo menos, evitar o que a chuva produz de mal à saúde humana.
Foi na busca do circunstancial abrigo, que alguns jornalistas abeiraram-se da porta de um estabelecimento comercial vocacionado a fotocópias, impressão de documentos e, claro, outros tantos serviços dentro de um nicho empresarial que se tornou propriedade exclusiva de cidadãos vietnamitas e chineses que não se envergonham do que fazem.
Nem estavam completamente abrigados, ecoou a voz de um jovem cuja atitude indelicada teve força suficiente para deixar escapar que não era, o tal jovem, o proprietário do estabelecimento, e que não passava de assalariado de um expatriado, sem que isso retire o mérito e o que se rende do ofício.
“Saiam daí senhores. Esta porta é minha”, disse o jovem com um semblante que espargia o desejo de ser chefe do estilo daqueles que, no tempo de outra senhora, pensavam ter o rei na barriga, e que a vida de todo o mundo dependia do que eles pensavam e decidissem.
Evitando entrar em bate-boca, os jornalistas assumiram o risco de molharem e contraírem, se o organismo permitisse, uma gripe capaz de provocar tantas outros colaterais típicos desta fase da pandemia da Covid-19, cuja variante inglesa já circula em Angola, e faz-se necessário, redobrar os cuidados.
Enquanto aguardavam pelo mantimento, os jornalistas doaram-se à realização de várias interpretações sobre o comportamento do jovem e, de forma unânime, concluíram que, infelizmente, ainda há um longo trabalho a fazer para a reformatação da mentalidade dos angolanos, para actos de cidadania.
Alguém soltou estas: “Senhor! Não posso fazer nada”. “Apenas estou a cumprir ordens do meu chefe”. “A minha colega que trata deste assunto não está a trabalhar”. “É ordem de cima”. “Não pode passar por aqui, dê a volta, pois esta é porta do chefe, e não quero perder o emprego”.
De seguida, perguntouse se existirá algum angolano que nunca esteve exposto a situações acima referidas, não tardando a resposta em coro que, se sim, para lá de se considerarem felizes, somos convocados a considerar outros tantos quês e porquês, que irão desembocar em compadrios, facilitismos e todos os demais actos que corroem o normal exercício das instituições, onde tem chefe para tudo.
E assim fomos/vamos nós na relação entre servidores e servidos, que consubstanciam práticas de autêntica corrupção, nepotismo e tudo o resto que se pretende combater, no sentido de reposicionar o país como uma verdadeira nação, em que os cidadãos tenham igualdade de oportunidades.
Seja para o que for, claro, deve funcionar como elemento de qualidade, mais do que a ordem e a vontade do chefe, as qualificações técnicas, académicas e profissionais de cada um, bem como o princípio de racionalidade entre a produção e a presença, muitas vezes confundidas.
Quando todas as evidências apontavam o desfecho da presente época chuvosa em jejum, com resultados desagradáveis para o ano agrícola (salvaguardando as excepções), eis que Luanda, cidade capital do País, foi banhada com uma estridente chuva, no dia 3 de Abril, que quase comprometia as eleições na Associação da Imprensa Desportiva Angolana