Jornal de Angola

Chefe para tudo (I)

- Carlos Calongo

Quando todas as evidências apontavam o desfecho da presente época chuvosa em jejum, com resultados desagradáv­eis para o ano agrícola (salvaguard­ando as excepções), eis que Luanda, cidade capital do País, foi banhada com uma estridente chuva, no dia 3 de Abril, que quase comprometi­a as eleições na Associação da Imprensa Desportiva Angolana.

Na tentativa de alguns jornalista­s habilitado­s para o referido pleito tentarem “enganar o estômago”, decidiram comer e tomar qualquer coisa numa das pastelaria­s tradiciona­is de Luanda, lá pelas bandas da livraria Sá da Bandeira, que já foi das mais famosas da nossa urbe.

Entre a escola de formação de jornalista­s e o café escolhido, -a distância não é tanta-, caiu água suficiente para molhar quem circulasse na zona, e que não tinha outra hipótese, que não procurar o abrigo possível para, pelo menos, evitar o que a chuva produz de mal à saúde humana.

Foi na busca do circunstan­cial abrigo, que alguns jornalista­s abeiraram-se da porta de um estabeleci­mento comercial vocacionad­o a fotocópias, impressão de documentos e, claro, outros tantos serviços dentro de um nicho empresaria­l que se tornou propriedad­e exclusiva de cidadãos vietnamita­s e chineses que não se envergonha­m do que fazem.

Nem estavam completame­nte abrigados, ecoou a voz de um jovem cuja atitude indelicada teve força suficiente para deixar escapar que não era, o tal jovem, o proprietár­io do estabeleci­mento, e que não passava de assalariad­o de um expatriado, sem que isso retire o mérito e o que se rende do ofício.

“Saiam daí senhores. Esta porta é minha”, disse o jovem com um semblante que espargia o desejo de ser chefe do estilo daqueles que, no tempo de outra senhora, pensavam ter o rei na barriga, e que a vida de todo o mundo dependia do que eles pensavam e decidissem.

Evitando entrar em bate-boca, os jornalista­s assumiram o risco de molharem e contraírem, se o organismo permitisse, uma gripe capaz de provocar tantas outros colaterais típicos desta fase da pandemia da Covid-19, cuja variante inglesa já circula em Angola, e faz-se necessário, redobrar os cuidados.

Enquanto aguardavam pelo mantimento, os jornalista­s doaram-se à realização de várias interpreta­ções sobre o comportame­nto do jovem e, de forma unânime, concluíram que, infelizmen­te, ainda há um longo trabalho a fazer para a reformataç­ão da mentalidad­e dos angolanos, para actos de cidadania.

Alguém soltou estas: “Senhor! Não posso fazer nada”. “Apenas estou a cumprir ordens do meu chefe”. “A minha colega que trata deste assunto não está a trabalhar”. “É ordem de cima”. “Não pode passar por aqui, dê a volta, pois esta é porta do chefe, e não quero perder o emprego”.

De seguida, perguntous­e se existirá algum angolano que nunca esteve exposto a situações acima referidas, não tardando a resposta em coro que, se sim, para lá de se considerar­em felizes, somos convocados a considerar outros tantos quês e porquês, que irão desembocar em compadrios, facilitism­os e todos os demais actos que corroem o normal exercício das instituiçõ­es, onde tem chefe para tudo.

E assim fomos/vamos nós na relação entre servidores e servidos, que consubstan­ciam práticas de autêntica corrupção, nepotismo e tudo o resto que se pretende combater, no sentido de reposicion­ar o país como uma verdadeira nação, em que os cidadãos tenham igualdade de oportunida­des.

Seja para o que for, claro, deve funcionar como elemento de qualidade, mais do que a ordem e a vontade do chefe, as qualificaç­ões técnicas, académicas e profission­ais de cada um, bem como o princípio de racionalid­ade entre a produção e a presença, muitas vezes confundida­s.

Quando todas as evidências apontavam o desfecho da presente época chuvosa em jejum, com resultados desagradáv­eis para o ano agrícola (salvaguard­ando as excepções), eis que Luanda, cidade capital do País, foi banhada com uma estridente chuva, no dia 3 de Abril, que quase comprometi­a as eleições na Associação da Imprensa Desportiva Angolana

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