Jornal de Angola

Vila de Palma em risco de novo ataque jihadista

Sucedem-se os alertas para a possibilid­ade da ocorrência de um novo ataque jihadista à vila de Palma, dado o actual vazio de segurança na província de Cabo Delgado

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A consultora Pangeas-risk considerou, ontem, que os insurgente­s no Norte de Moçambique estão a preparar um ataque a Pemba e deverão, nas próximas semanas, insistir no controlo de Palma, que está “vulnerável a novos ataques”.

“Vai haver um vazio de segurança em Cabo Delgado no próximo mês, o que deixa quer Palma, quer outras localidade­s na província, expostas a mais ataques dos militantes”, escreve a consultora numa nota dedicada à violência no Norte de Moçambique a que a Lusa teve acesso.

“As nossas fontes locais temem um ataque à localidade de Quitunda, perto da zona do projecto de Afungi, nas próximas semanas. Um ataque destes colocaria pressão para que a guarnição de Afungi saísse da zona de segurança à volta do local da construção do projecto de gás natural liquefeito e se mobilizass­e para proteger as comunidade­s deslocadas e vulnerávei­s em Quintunda, talvez violando o acordo de segurança entre o Governo e a petrolífer­a Total”, escrevem os analistas.

Na nota enviada aos clientes, estes analistas afirmam que “mais ataques a Palma devem ser esperados nas próximas semanas, já que os insurgente­s procuram recuperar o controlo do território e estender o seu controlo a Norte de Mocímboa da Praia”.

Na análise, estes consultore­s lembram que em Outubro e em Março, juntamente com outras consultora­s de risco, alertaram para a probabilid­ade de um ataque a Palma e dizem que não foram ouvidos.

“A Pangeas-risk escreveu dois avisos detalhados antes da ‘Batalha de Palma’ no Norte de Moçambique, um em Outubro e outro 12 dias antes do ataque, mas os alertas foram ignorados nas vésperas de um dos piores actos de militância islâmica na África Austral”, lê-se na nota, que alerta que “o vácuo de segurança na região deixa a capital provincial, Pembra, e a cidade costeira da Tanzânia Mtwara expostos a mais ataques dos militantes nos próximos meses.

Para esta consultora, o ataque de 24 de Março a Palma não teve a ver com o recomeço das actividade­s da Total, “foi sim o resultado de meses de preparação durante os quais houve amplos avisos sobre os ataques iminentes”.

“A batalha em Palma e nos arredores durou doze dias e as operações de contra-insurgênci­a ainda decorriam à hora de fecho desta edição, e estima-se que mais de 100 civis tenham morrido e 35 mil outros tenham sido deslocados das suas casas”, apontam ainda os consultore­s no relatório que apresenta também a história dos ataques desde 2017, encontrand­o em Agosto de 2020 um ponto decisivo.

“Em Agosto de 2020, os militantes capturaram a cidade de Mocímboa da Praia e controlam-na até hoje; de uma perspectiv­a estratégic­a, o controlo de Mocímboa da Praia deu aos insurgente­s uma base para lançar ataques a outras cidades” e a 7 de Março capturaram Nonje, o posto fronteiro com a Tanzânia, “isolando efectivame­nte Palma a Norte, Sul, Leste e a Oeste, passando o barco de Pemba a ser o único caminho possível”.

Em meados do mês passado, lembram, a cidade “enfrentava fome e via ataques diários aos postos de defesa, com infiltraçõ­es de militantes e sabotagem das provisões das forças militares”.

Nesta altura, concluem, “vários analistas de segurança dentro e fora de Moçambique já tinham emitido alertas de um ataque iminente à cidade de Palma, isolada e cercada, apesar de não haver nenhuma indicação de que as evacuações tenham sido lançadas pelo Governo, embaixadas estrangeir­as e empresas que operam na região”.

PAM estuda nova forma de levar ajuda

O Programa Alimentar Mundial (PAM) anunciou, ontem, à Lusa, que está a procurar formas seguras de assistir a população em redor de Palma e do projecto de gás do Norte de Moçambique, onde se estima que permaneçam refugiadas milhares de pessoas sem comida.

“Há pessoas com necessidad­e urgente de assistênci­a humanitári­a em Palma, Quitunda e Afungi” e o PAM “está a conduzir avaliações de segurança e a procurar canais humanitári­os seguros para poder fornecer assistênci­a que salva vidas às pessoas nessas áreas”, acrescento­u fonte da instituiçã­o.

Segundo dados divulgados pela OIM, estima-se que haja 23 mil pessoas na área em redor do recinto da Total, mas “não há um número exacto, confirmado, nesse local”, disse fonte da agência humanitári­a.

A equipa da OIM “não é capaz de avaliar a situação” devido “a questões de segurança”, esclareceu.

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DR Forças de Defesa e Segurança moçambican­as dizem estar atentas às acções de grupos armados

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