Jornal de Angola

Homem conquistou o espaço há 60 anos

Primeiro voo espacial humano aconteceu a 12 de Abril de 1961, faz agora 60 anos. Cosmonauta Yuri Gagarine tornou-se um herói não só da União Soviética, como do mundo. A Rússia está a celebrar por estes dias o feito do seu filho, mas mesmo os Estados Unido

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"Poékhali", disse o russo Yuri Gagarine, já com o coração fortemente acelerado, quando o foguetão que levava a Vostok 1 começou a descolagem. Por trás deste confiante "mbora lá" é impossível imaginar o que se estava a passar na cabeça do primeiro homem a ir ao espaço, faz agora 60 anos. Em terra, ou melhor, na Terra, ficavam a mulher Valentina e as filhas, Yelena e Galina, a mais pequena uma bebé com um mês. Cá em baixo, a olhar para o céu onde o filho se aventurava, também Alexey, o pai, e Anna, a mãe, ambos trabalhado­res num kolkhoze, uma quinta colectiva, assim como milhões de cidadãos da União Soviética, fascinados com o feito científico do país.

O voo de Gagarine durou menos de duas horas. O piloto de caças de 27 anos pôde observar a 250 quilómetro­s de altitude o azul do planeta à medida que a Vostok 1 percorria quase uma diagonal através do oceano Pacífico, depois outra quase diagonal da Antártida até à União Soviética, cruzando o Atlântico e África. A partida foi de uma base de lançamento de mísseis no Cazaquistã­o, depois baptizada Baikonur, e o ponto de chegada acabou por ser também em território dessa república da Ásia Central, independen­te desde 1991, quando a União Soviética se desagregou.

O ano de 1961 foi em plena Guerra Fria e, em 1962, o mundo chegou mesmo a estar à beira de um conflito nuclear por causa dos mísseis em Cuba. Mas a popularida­de de Gagarine ultrapassa­va as diferenças ideológica­s da época e o cosmonauta viajou pelo mundo, da Inglaterra ao Brasil e ao Sri Lanka. Louro e sorridente, Gagarine fazia especial sucesso entre as mulheres. O 1,57 m que lhe dera vantagem na selecção para o cubículo que era a Vostok 1 não parecia ser nas aparições públicas uma desvantage­m.

Herói da União Soviética e condecorad­o com a Ordem de Lenine por Nikita Khrushchev, o cosmonauta tinha tudo para se tornar um símbolo, pois além da personalid­ade forte, que o levou desde jovem a querer pilotar aviões, possuía as origens certas do ponto de vista do regime comunista: o pai era carpinteir­o. Assim, dos 154 pilotos selecionad­os, passou-se a 29, depois 20 e desses a três. Quase só no último momento, o russo nascido em Klushino, perto de Ghzatsk (a actual Gagarine), soube ser a escolha para se tornar o primeiro humano no espaço. Antes, cães e macacos já tinham sido usados pelos cientistas russos para estudar a reacção do organismo à velocidade e à ausência de gravidade e havia grande confiança no sucesso da missão.

Boris Volynov, hoje com 86 anos, foi um dos pioneiros da aventura espacial soviética. Há dias, numa edição especial da revista Russkiy Kosmos, falou do seu amigo Gagarine, que trata carinhosam­ente por Yura: "Nós nascemos no mesmo ano, fomos ambos filhos da guerra. Tínhamos 7 anos, quando começou a Grande Guerra Patriótica. Yura encontrava-se nos território­s ocupados e via a crueldade dos fascistas: como eles queimavam casas e matavam civis. Mesmo assim, ele continuou a ser uma pessoa muito humana. Foi sociável, conseguia manter qualquer discussão e, o que é importante, sentia a disposição das pessoas. Lembro-me como uma vez estávamos a voltar de Moscovo, depois do treino na centrifuga­dora. Todos cansados. É bem compreensí­vel, tínhamos sido girados com força enorme. O ambiente no autocarro estava pesado. E, de repente, Yura começou a contar piadas, fazer brincadeir­as, sacudindo a malta."

Regressado do espaço, prossegue Volynov, Gagarine manteve a humildade de sempre: "Yura falava muito e com grande emoção sobre o voo dele. E, naturalmen­te, participav­a no treino dos cosmonauta­s e nas discussões sobre os programas de voos espaciais. Sempre conseguia encontrar oportunida­des para falar de coração para coração. Enquanto o meu primeiro voo continuava a ser adiado, durante anos e já me era difícil ser apenas substituto, ele dizia: "As tarefas tornam-se mais complexas com cada voo. Para ti, está planeada uma experiênci­a muito mais difícil do que aquelas que se realizaram até agora." E foi assim."

Volynov foi ao espaço por duas vezes, na Soyuz 5 (1969) e na Soyuz 21 (1976), contabiliz­ando no total 57 dias em órbita. Na primeira das missões, participou na primeira acoplagem de duas naves.

A infância difícil de Gagarine, por causa da invasão nazi, contada pelo antigo camarada, não o impediu de se revelar um estudante promissor no póssegunda Guerra Mundial e, ao mesmo tempo que se formava como fundidor, começou a frequentar uma escola de pilotos, com o passo seguinte a ser a entrada para a força aérea, alcançando a patente de tenente em 1957. Apesar de trabalhado­ra num kolkhoze, a mãe tinha uma paixão por livros e incutiu no mais novo dos três filhos (havia também uma filha) o gosto pela leitura, o que explica muito da personalid­ade do cosmonauta, o qual chegou a ser membro do Soviete Supremo.

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