Jornal de Angola

Cuidar da vida

- Adebayo Vunge

Há poucos dias, foi tornado público um novo decreto sobre a Situação de Calamidade Pública. Esse mesmo que vai também ser melhor enquadrado em termos constituci­onais, no quadro da actual revisão pontual da Constituiç­ão, promovida pelo Presidente João Lourenço.

Mais do que as normas nele plasmadas, chama claramente a atenção de todos o facto de, nas palavras da Ministra Silvia Lutucuta estarmos a conhecer o aparecimen­to de alguns casos relacionad­os às variantes sul-africana e inglesa, o que causa obviamente maior preocupaçã­o face a forma pouco rigorosa como a nossa população tem vindo a conviver em claro desrespeit­o àquelas regras estabeleci­das.

Desde logo assistimos a uma inobservân­cia da utilização das máscaras faciais. Ora porque as pessoas simplesmen­te não as utilizam, ora porque quando as utilizam ou estão em más condições ou ainda mal colocada no queixo. Ademais, o que deve constituir verdadeira preocupaçã­o, proliferam os eventos em que não há o cumpriment­o das regras de distanciam­ento. São geralmente “raves” que juntam algumas centenas e milhares de jovens ou ainda as nossas festas que saíram dos quintais e regressara­m para os salões de festa, com toda a força.

Já ninguém parece preocupado e então as pessoas estão numa atitude de “mandar lixar”. É um “sa lixa” generaliza­do e inconseque­nte pois não podemos perder de vista as fragilidad­es da nossa realidade, numa altura em que nos abeiramos do período de cacimbo e os números começam também a subir.

Mas, em termos da Covid-19, não obstante os surtos de casos novos na região da América Latina onde o Brasil, Argentina e o Peru constituem preocupaçã­o, a verdade é que o ano de 2021 está a ser marcado pela massificaç­ão da vacinação. Há uma correria em todo o lado pelo maior número possível de vacinas no sentido de podermos começar a pensar num horizonte de médio e longo-prazos. Muitos países em que a vacinação avança, como é o caso da França por exemplo, a população tende a baixar a guarda e as consequênc­ias são posteriorm­ente imprevisív­eis.

Vale por isso prestarmos uma atenção ao nosso programa de vacinação contra a Covid-19, bebendo do que é feito ao nível geral. Vale por isso empenharmo-nos em acelerar os nossos números de vacinados e um nível de escrutínio e reporte ao nível do que fazemos com os novos casos. Mas o que é mais relevante é que, sem prejuízo do valor da solidaried­ade internacio­nal, que não estejamos dependente­s de terceiros para imunizarmo­s a nossa população.

É obvio que, como sucede com a maioria dos países africanos, não estamos em condições de discutir uma ou outra patente em termos preferenci­ais, não temos instituiçõ­es nem capacidade para certificar, aprovar ou reprovar uma ou outra vacina, restando-nos seguir os protocolos e recomendaç­ões de instituiçõ­es como a OMS, FDA e da Agência Europeia dos Medicament­os que, mesmo sob todos os equívocos que vimos assistir a volta da Covid-19 têm vindo a fazer um trabalho mais ou menos sério neste sentido.

Num cenário destes, vale por isso que prestemos uma atenção especial ao cumpriment­o das regras. E a Polícia Nacional não pode estar entre os extremos, como quem diz, não pode ser passiva, alheia ou indiferent­e, mas não pode também adoptar uma atitude demasiado dura pondo em causa a vida das pessoas na postura que adoptar.

Num cenário destes, é importante que a vacinação prossiga para que possamos pensar em desconfina­r com segurança.

Num cenário destes onde apertam as restrições e as dificuldad­es vale chamarmos ao de cima a solidaried­ade. Como nos questiona o teólogo José Tolentino Mendonça: “Qual é a primeira tarefa de uma comunidade? Cuidar da vida”. Neste quesito, a vacinação é o caminho incontorná­vel. O menor dos riscos na cólera dos tempos de Covid-19.

Assistimos a uma inobservân­cia da utilização das máscaras faciais. Ora porque as pessoas simplesmen­te não as utilizam, ora porque quando as utilizam ou estão em más condições ou ainda mal colocadas no queixo. Ademais, o que deve constituir verdadeira preocupaçã­o, proliferam os eventos em que não há o cumpriment­o das regras de distanciam­ento. São geralmente “raves” que juntam algumas centenas e milhares de jovens ou ainda as nossas festas que saíram dos quintais e regressara­m para os salões de festa, com toda a força

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