Voz de Bula Atumba clama por patrocínio e mais incentivos
A falta de apoio e incentivos à nova geração de músicos é um problema que em muito trava o desenvolvimento das artes a nível nacional, com a maioria dos criadores limitados, devido a questões financeiras, lamentou, ontem, em Luanda o cantor Eliseu Muhete.
Natural de Bula Atumba, província do Bengo, o cantor disse que os criadores locais e das demais províncias do país vivem inúmeras dificuldades para vencer no mercado, devido, em grande parte, à centralização de tudo na capital, Luanda.
Trajecto
Apesar de ser natural de Bula Atumba, Eliseu Muhete viveu quase toda a adolescência na capital, devido à situação de conflito armado na altura. Embora tivesse o gosto pela música desde tenra idade, conseguiu emprego em outras áreas, como a administração, razão que o levaria a ir viver em outras províncias, como Huambo e Benguela, onde era um dos responsáveis de uma empresa de segurança.
Depois, consegue ingressar no Ministério da Educação e até hoje é professor de Língua Portuguesa e Inglês, num complexo escolar em Bula Atumba, onde reside e trabalha.
Em 2005, chega a participar no concurso Estrelas ao Palco. Dessa participação recorda os colegas concorrentes Mauro Elísio, Sandra Cordeiro, Kueno Ayonda, vozes que chegaram a se firmar no mercado musical angolano. Depois da experiência, começou, oficialmente, a cantar para o público em 2010, altura em que grava a música “Comecei a te amar”. Sem grande visibilidade, apenas teve repercussão a nível do bairro, precisamente no Hoji-ya-henda, onde viveu por muito tempo. “Devido a este sucesso, fui chamado a actuar em várias actividades do bairro e sou muito conhecido na comunidade”, garante.
A nível de Bula-atumba e da província do Bengo, o público rendeu-se ao talento de Eliseu depois da participação numa actividade competitiva organizada pelo Conselho Municipal da Juventude, isto em 2011. Eliseu sagrou-se vencedor com a música “Lágrima”.
Volvidos quase doze anos, neste momento, tem uma música a concorrer no Top dos Mais Queridos-bengo e Top Rádio Eclésia-bengo.
Sonhos
Ainda a trabalhar arduamente para um dia gravar o disco de estreia, um sonho que para Eliseu Muhete até ao momento parece inalcançável. “Falta patrocínio. As pessoas já deram conta de que tenho talento e pedem o disco”, disse, acrescentado que já tem os temas prontos para o CD, entre os quais “Fogo”, “Não se mete com ela”, “As mulheres” e “A bebida”. “Caso a sorte bata a porta, o disco vai ter o título de ‘Até chegar aqui”, revelou o cantor.
Na busca pelo álbum, já foi recebido em programas que impulsionam a música angolana, como o “Caminhos do Som”, “Revista Musical” e “Ritmos de África”. Atento aos problemas da actual geração, adiantou que tem criado, mesmo nesta fase de pandemia, composições com várias chamadas de atenção à sociedade, em particular aos jovens, para determinadas práticas erradas.
Falante fluente da língua kikongo, o cantor disse ter canções compostas nessa língua do Norte de Angola. Amante da trova, persegue os estilo de Lokua Kanza, Kyaku Kyadaff, mas é Wyza a grande inspiração. “Eu ouvi muito o Wyza. Ele foi a minha grande inspiração em cantar estórias da terra, com toda a carga de angolanidade. Penso que é um caminho que devemos tomar, porque nos representa enquanto africanos”, justifica.