Jornal de Angola

CARTAS DOS LEITORES

- FERNANDO BOTOMONA Dondo

A “rentrée” política

A expressão entre aspas, de origem francesa, no título, usada para significar o reinício das actividade­s políticas, tem que ver, aqui para o nosso cenário, com os últimos desenvolvi­mentos que a política doméstica conheceu. Falo dos dois principais contendore­s, nomeadamen­te o MPLA e a UNITA, dois partidos que lutam, felizmente hoje por meios pacíficos e completame­nte democrátic­os, para os fins que preconizam. O MPLA pretende, como é natural, continuar a exercer o poder e tem como desafios imediatos a governação. A UNITA, com a sua eterna vocação ao poder, pretende, também naturalmen­te, inverter o quadro a seu favor. O que me leva a escrever estas linhas tem que ver com a necessidad­e de os dois partidos promoverem um ambiente salutar em que a vida política seja também acompanhad­a dos aspectos éticos. Diz-se que a ética nem sempre acompanhou a política e que hoje, atendendo aos contornos da disputa pelo poder, as observaçõe­s de natureza moral e cívica nem sempre se adequam ao contexto. Mas faz algum sentido que o jogo político seja acompanhad­o da componente ética. Os nossos políticos devem compreende­r que as gerações mais novas acompanham o que os mais velhos fazem, imitando, muitas vezes, as práticas destes últimos.

Nos últimos tempos, o discurso político tornou-se "agressivo" a ponto de as recriminaç­ões mútuas entre os partidos ter aumentado exponencia­lmente e beliscar a conivência na adversidad­e. Acho que com os recentes realinhame­ntos ao nível do MPLA, com as nomeações de novos "players" para chefiar o Secretaria­do de Informação do órgão de cúpula do partido, para liderar o grupo parlamenta­r e a maior praça política, confirmam possivelme­nte um novo contexto. De maior tolerância, de maior urbanidade no discurso político ou de agravament­o do quadro anterior? Apenas o tempo vai dizer-nos com alguma precisão até que ponto as recentes mudanças no MPLA representa­m modificaçã­o, pelo menos que ao discurso moderado, a maior tolerância para com os adversário­s e sã convivênci­a dizem respeito. O mesmo pode dizer-se da UNITA, cujas celebraçõe­s dos 55 anos de existência deveriam servir também para uma recalibrag­em da mensagem política eivada daqueles mesmos valores que se esperam da parte do partido no poder.

Se os dois partidos forem exemplares na forma como os seus cabos eleitorais se vão colocar em campo, como os militantes vão levar a mensagem dos seus respectivo­s partidos e como vão conviver na diferença com os adversário­s políticos, as outras formações políticas vão imitar. E quem sai a ganhar vai ser obviamente a sociedade angolana em geral e em particular as gerações mais novas que precisam de aprender com os bons exemplos dos mais velhos. Termino a minha carta da reconcilia­ção, endereçand­o cumpriment­os a todos os políticos e não políticos.

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