Estudos em redor de nós
Segundo a Bíblia o patriarca Noé teve três filhos: "Sem", "Cam" e "Jafet". De "Sem" procederiam os povos semitas, de "Cam" os camitas e de "Jafet" os indo-europeus. Na actualidade, quando falamos de semitas, camitas e indo-europeus referimonos a falantes de três grandes famílias linguísticas.
As semitas são por antonomásia os hebreus ou judeus. As línguas semitas têm ao que parece a sua origem geográfica no chamado Próximo Oriente e incluem, para além do hebreu, outras línguas como o acírio, o acádio, o fenício e o árabe.
As indo-europeias estendem-se por uma vasta área que abarca quase toda a Europa até ao Norte da Índia passando pelo Cáucaso e pelo Irão. De entre os grupos ocidentais derivados do indoeuropeu há o grupo de línguas latinas (como o português, o galego, o castelhano, o catalão, o francês, o italiano, o sardo, o romeno…); o grupo de línguas germânicas (como o inglês, o flamengo, o holandês, o alemão, o dinamarquês, o norueguês, o sueco, o islandês…); o grupo de línguas eslavas (como o polaco, o checo, o eslovaco, o esloveno, o servocroata, o macedónio, o búlgaro, o ucraniano, o russo, o lituano, o letão…); o grupo de línguas celtas (como o galés, o bretão, o gaélico escocês, o gaélico irlandês…); para além ainda do grego e do albanês.
Na terceira família de línguas estão as do tipo camita, descendentes de «Cam». De entre elas encontravam-se o egípcio primitivo e a maioria das línguas de toda a África do Norte, incluindo as línguas aborígenes do arquipélago das Canárias. Acossadas, actualmente, pelo árabe, as línguas do tipo camita, constituem hoje “ilhas culturais” no meio de um mar de cultura predominantemente árabe e semita. Todavia, assiste-se lentamente a um “renascimento cultural” das línguas camitas.
Tanto John Gunter, em «El Drama de África», como Bohumil Holas, em L´homme noir d’afrique», citados pelo P. Raul Ruiz de Asúa Altuna, em «Cultura Tradicional Banto», estão convencidos que os “bantu” resultaram de um cruzamento realizado há milhares de anos entre camitas e negros. Este é um dos aspectos em que Cheik Anta Diop se baseia para considerar que “o Egipto foi negro até uma fase muito avançada da sua história” e que “existe um parentesco cultural entre o Egipto e a África negra”.
José Redinha, em «Distribuição Étnica de Angola», refere que “datam de 943 as primeiras notícias acerca dos banto, atribuídas a Mas’oudi, nas descrições do Golden Meadows. Segundo este autor, os Zindj (nome que os árabes deram aos banto) começaram por ocupar o leste de África, entre o Nilo Superior e o Oceano. Em 547 da nossa era. Cosmas Indicopleustes, monge egípcio, referese à existência e às relações de vários povos com os banto, na costa de Zanzibar e ao longo do Índico, então chamado Mar dos Zindj”.
O termo “bantu” aplica-se a uma civilização que conserva a sua unidade e foi desenvolvida por povos negros. O radical “ntu” comum a muitas línguas “bantu” significa “homem, pessoas humanas”. O prefixo “ba” forma o plural da palavra “muntu” (pessoa). Portanto, “bantu” significa “seres humanos, pessoas, homens, povo.” Apesar de puramente linguístico, o termo “bantu” é, não só, utilizado para o conjunto de populações falantes de línguas da mesma família, como também para tudo o que se relaciona com a filosofia “bantu” ou a cultura “bantu”.
Espalhando-se desde a orla sudanesa até ao Cabo da Boa Esperança e desde o Atlântico ao Índico, ainda não são conclusivos os estudos empreendidos sobre a origem dos povos “bantu”, cuja extraordinária migração se terá iniciado há cerca de 3.000 ou 4.000 anos atrás. Todavia, os cerca de 500 povos “bantu”, apesar de não constituírem uma unidade do ponto de vista meramente antropológico, apresentam características comuns.
Da sua formação e expansão migratória surgiram comunidades culturais com civilização comum e línguas aparentadas resultantes de uma enorme variedade de cruzamentos, após séculos de muitas deslocações, guerras e assunção das mais diversas influências exteriores ao seu “modus vivendi”. Por exemplo: a norte, os “bantu” são miscigenados com os etíopes e negrilhos, a sul com elementos não “bantu” do tipo Khoïsan. Existem indivíduos braquicéfalos, dolicocéfalos e mesocéfalos. Uns são bastante negros, enquanto outros não. Há grupos com estatura bastante alta, enquanto a estatura média de outros não ultrapassa um metro e sessenta e dois centímetros.
Todavia, “os grupos banto conservam ainda as raízes de um tronco originário comum”. Daí que se torna possível falar de um povo “bantu” ainda que subdividido em múltiplos grupos de características muito variáveis e com uma história diferenciada, por vezes até antagónica. No entanto, tais factos de similaridade constituem, pelo menos, a sua mais ampla forma de identidade, apesar de não possuírem características antropológicas comuns e definidas.
Das várias classificações existentes, para a distinção entre os diferentes povos “bantu”, a mais generalizada refere-se aos “bantu” orientais (com traços camitas), aos “bantu” meridionais (ao sul dos rios Zambeze e Cunene), aos “bantu” ocidentais (Zaire). Outra divisão mais pormenorizada distingue vários grupos de povos “bantu” com características geográficas e com traços culturais diferenciados, em muitos aspectos acidentais: “Bantu” do noroeste, do sudeste, equatorial, do nordeste, “semi-bantu” dos Camarões, central, dos Grandes Lagos, do sudoeste, do ciclo zambiano, do Zambeze médio, “bantu” com traços camitas e “bantu” do Congo sul.
* Ph. D em Ciências da Educação e Mestre em Relações Interculturais
“Bantu” significa “seres humanos, pessoas, homens, povo.” Apesar de puramente linguístico, o termo “bantu” é, não só, utilizado para o conjunto de populações falantes de línguas da mesma família, como também para tudo o que se relaciona com a filosofia “bantu” ou a cultura “bantu