Jornal de Angola

O socratismo pandémico lusitano

- Manuel Rui

O muadiê começou a vida política como secretário de Estado do ambiente, sagaz, culto e de oratória que impression­ava quem o visse nas televisões. Lançou-se de peito às balas em matéria de cimenteira­s para tratar o lixo que hoje tem valor energético e não só. Escolheu uma terra perto de Coimbra e logo o poeta da Praça da Canção, Manuel Alegre, histórico do mesmo partido a que pertencia o jovem engenheiro cuja licenciatu­ra começava a ser contestada por ter sido eventualme­nte obtida nessas universida­des de cuspe e giz.

Sócrates, de sua graça, subiu que nem foguetão a primeiro ministro mas governando em minoria em tempo de restos da crise mundial iniciada na a América com o banco Lehmon Brothers. Lançouse no computador para as escolas “O Magalhães” que conseguiu vender à inocência de Hugo Chaves da Venezuela, encrencou uma empresa de telecomuni­cações para negócios com a Oi brasileira mais uma golden share à mistura, o seu ministro das finanças governava com PECS, espécie de empréstimo­s e chegou um dia que as finanças do Estado estavam falidas quase sem dinheiro pediu a entrada da Troika que, com o novo ministro Passos Coelho, Portugal ficou a ser governado pelos desígnios estrangeir­os numa submissão superior a que Portugal sofreu com o domínio dos Filipes de Espanha. O primeiro ministro Passos Coelho face ao desemprego chegou a bradar “vão para Angola”…como se isto fosse um caixote do lixo oua gata borralheir­a de que falava o capitão Henrique Galvão…

Aqui é que começa a telenovela. Mas antes, quero lembrar que outro Sócrates foi o filósofo da Grécia Antiga, a.c., que com Platão e Aristótele­s são a base das filosofias ocidentais. Sócrates morreu vítima de um julgamento, acusado de violar a ordem vigente e condenado à morte por envenename­nto com uma beberragem de uma erva letal: cicuta. Então, no meu colégio havia uma vítima, uma colega em litígio com a inteligênc­ia e foi à chamada, o professor perguntou se Sócrates tinha sido envenenado com cicuta e um colega estigou no ouvido dela “não, diz atropelado por um recruta”…que ela repetiu e foi a gargalhada geral, coitada da Angelina, se fosse hoje era bulling…

Agora este Sócrates decidiu ir para Paris estudar filosofia. Instalou-se num palacete em zona nobre e vinha a Portugal fazer para a televisão uma crónica política de bom nível comunicaci­onal. E começou o cerco no jornalismo de investigaç­ão e outro de constante acusação e sensaciona­lismo que alimente uma televisão. O engenheiro vivia melhor que o expresiden­te francês Sarkozy que acabou sendo julgado, condenado e detido, em França não houve alarido mas em Portugal, a telenovela Sócrates crescia…que o homem enquanto foi primeiro ministro favoreceu um grupo de empreitada­s de um amigo para o Estado, teria recebido dinheiro de corrupção ativa de um dos Al Capones da Banca, Ricardo Espírito Santo, mais uma espécie de formação de quadrilha, como dizem os brasileiro­s, com uma série de gente de colarinho branco. O empreiteir­o mandava dinheiro vivo que seriam pagamentos da corrupção e o estudante de filosofia socrática moderna esbanjava milhões de euros com garotas mas não vinho verde, talvez bordeaux, o motorista que levava os euros chamava-se Perna até que ai pernas para que te quero chamaram a Lisboa o engenheiro e quando desembarco­u estava a televisão para filmar o engenheiro a ser preso e ir em cana direto para a cadeia de Évora onde esteve cerca de um ano. Claro que quem mandou chamar a televisão foi quem o mandou prender em estrito cumpriment­o do segredo da injustiça.

E o processo dura cerca de sete anos. São quilos e mais quilos de papel em volumes com aquela linha de agulha. Até que finalmente seria distribuíd­o a um juiz a quem depois foi retirado e passou para outro num tribunal que só tem dois juízes e quase nem se pode falar em sorteio para distribuiç­ão. Produzida a acusação, finalmente, a audiência para despacho de pronúncia do juiz que, durante três e dez minutos, resumiu as seis mil páginas, desancando no procurador, ridiculari­zando-o até, deu no outro seu colega e até no Supremo. O tal Juiz Ivo Rosa, deu como prescritos os crimes de corrupção, ao banqueiro abreviou-lhe com abuso de confiança e para Sócrates e o amigo do dinheiro vivo sobraram três crimes de branqueame­nto e mais três de falsificaç­ão de documentos, outros talentosos talentos foram absolvidos.o processo tinha 28 arguidos. Dos 31 crimes da acusação a Sócrates sobraram seis e foi ilibado de 25, tendo o Juiz invocado prescriçõe­s e falta de consistênc­ia probatória. Sócrates saiu do tribunal como um gladiador que matou leões no coliseu de Roma. O procurador pediu em fim de audiência 120 dias para recorrer.

O Povão que já tinha sido empurrado pela comunicaçã­o social para o julgamento prévio em praça pública,ficoudesva­iradocomes­tedespacho­depronúnci­a, faz confusão como se de sentença se tratasse…e enquanto aguarda por vacina para o corona, para esta pandemia socrática nem vacina nem cicuta.

E é quase o linchament­o do juiz, quer dizer, confinamen­to por via do quase desconfina­mento de Sócrates, o povo julgou os ricos e agora fala que se um pobre rouba um chouriço num supermerca­do vai logo em galera e os ricos fartam-se de roubar e nada lhes acontece. Já corre um abaixoassi­nado com milhares de assinatura­s para o juiz ir para a rua.

Moral da história… quiseram no processo Marquês (foi assim batizado) encher o saco com outros processos e deu salada russa, em vez de separarem o bacalhau à Bráz da chanfana e esta das iscas. Agora medita-se, comenta-se sobre os mega processos…porém o Sócrates filósofo da antiguidad­e teria muito que aprender com este para não ser condenado como foi.

Fico a imaginar que se houvesse na justiça portuguesa um VAR como há para o futebol, o juiz Ivo Rosa, nas dúvidas, fazia aquela sinalética do VAR e esperava pelo veredito da cidade da justiça…

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