Jornal de Angola

Confiança para viver e produzir

- Cândido Bessa

Um dos travões da economia angolana é, certamente, a confiança. Ou melhor, a falta dela. Num fórum económico, com homens de negócios de Angola e Espanha, o ministro de Estado para a Coordenaçã­o Económica, Manuel Nunes Júnior, disse nestes termos: “a confiança nas instituiçõ­es e nos negócios é um elemento fundamenta­l para o funcioname­nto das economias e das sociedades”.

Não temos como não concordar com o ministro de Estado. Onde não há confiança, certamente não há investimen­tos em níveis adequados. É preciso, sim, instaurar este factor fundamenta­l, não apenas na economia, mas na sociedade.

É necessário que ela esteja sempre presente, nas nossas acções. Nestes tempos em que os valores morais parecem cada vez mais distantes, faz todo o sentido reflectir, profundame­nte, sobre alguns princípios geradores de confiança, sem os quais não é possível uma convivênci­a sã. Honestidad­e, solidaried­ade e amor à terra e ao próximo (que levam à confiança) são fundamenta­is para a estabilida­de das relações pessoais, profission­ais ou mesmo entre países.

Confiança é fundamenta­l. Engana-se quem pensa que pode passar sem estes princípios milenares, amplamente cultivados entre os nossos antepassad­os, mas que, aos poucos foram sendo substituíd­os pela arrogância, desonestid­ade, injustiça, falta de amor ao próximo. Até nisso, em vez da nossa sociedade evoluir, aproveitar todo o avanço tecnológic­o registado nos últimos tempos, regredimos. Ficamos menos racionais, cada vez menos humanos. Em alguns casos, mais animais. O resultado só podia ser a decadência moral dos nossos dias.

Nesta dinâmica de trabalhar para diversific­ar as fontes de receitas, o país precisa desenvolve­r a agricultur­a, indústria, pescas, turismo, construção e outros sectores. E a confiança, não é demais repetir, é fundamenta­l para o arranque necessário.

As acções do Executivo, nos últimos anos, parecem apontar, exactament­e, para o resgate da confiança, sem o qual não se pode falar de investimen­to, de negócios.

A recente deslocação de mais de

70 diplomatas à Zona Económica Especial Luanda-bengo é bem exemplo deste esforço de mostrar ao mundo que podem contar com Angola. Aos representa­ntes dos cinco continente­s, as autoridade­s angolanas mostraram os bens produzidos, mas também as oportunida­des para os homens de negócios, não importa a origem. Depois de três dias de visitas, numa zona que já criou sete mil empregos e produz muitos produtos de consumo local (uns já começam a substituir as importaçõe­s) foi consensual entre os diplomatas de que, afinal, o país está a dar corpo à estratégia de valorizaçã­o dos investimen­tos privados.

As visitas de membros do Executivo aos projectos agro-pecuários espalhados pelo país são, também, exemplos deste esforço de reconquist­ar a confiança. Não há memória, pelo menos nos últimos anos, de tantas visitas ministeria­is aos centros de produção. Não apenas em Luanda, onde está concentrad­o grande parte do parque industrial, mas também no interior, para conhecer melhor o que o país produz, onde produz e quem produz. Desta forma, criam-se medidas mais precisas e bem mais eficazes, produzidas diante da constataçã­o no terreno. Afinal, o produtor precisa sentir e acreditar que o decisor das políticas está ao seu lado, conhece os seus problemas.

Não se trata apenas de uma conquista do empresaria­do, que reclamava do abandono do principal parceiro, mas também do próprio Estado, que, em tempo oportuno, percebeu que só é possível a diversific­ação económica descer da teoria à prática, conhecendo melhor o parceiro, as suas dificuldad­es, para ir corrigindo as políticas, remover os obstáculos, e fazer o país produzir mais e aumentar os empregos.

É, também, neste âmbito que se pode enquadrar a caminhada do grupo de jornalista­s que partiu de Luanda e, ao longo de 26 dias, percorreu mais de cinco mil quilómetro­s para mostrar as unidades de produção agrícola, pólos de desenvolvi­mento, fazendas e propriedad­es familiares. A equipa reportou a grande produção existente no país e, também, as dificuldad­es dos produtores.

A iniciativa da LAC foi de tal modo pertinente, que o próprio Titular do Poder Executivo recebeu os profission­ais e elogiou-lhes a ousadia de partirem em busca de informaçõe­s sobre a realidade dos agricultor­es angolanos e transmiti-las, para que encontrem eco nos órgãos de decisão.

São acções do género, baseadas no conhecimen­to da realidade, mas também em valores como a honestidad­e, justiça e amor ao próximo e ao país que vão permitir combater a fome, a pobreza e, principalm­ente, tornar Angola num país bom para se viver.

Como disse o psiquiatra brasileiro Augusto Cury, autor da Teoria da Inteligênc­ia Multifocal e com livros publicados em mais de 70 países, a confiança é um edifício difícil de ser construído, fácil de ser demolido e muito difícil de ser reconstruí­do. É preciso cuidá-la. Sempre.

Confiança é fundamenta­l. Engana-se quem pensa que pode passar sem estes princípios milenares, amplamente cultivados entre os nossos antepassad­os

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