Jornal de Angola

Vladimir Prata romanceia sinistrali­dade rodoviária

O romance “Um Assassino na Estrada”, do jornalista Vladimir Prata, lançado na última quarta-feira no CEFOJOR, em Luanda, vem premiar o público leitor com uma temática bastante actual

- Manuel Albano

Longe de qualquer comparação, Vladimir Prata faznos pensar que estamos diante da “crónica de uma morte anunciada”, pelo facto de a personagem principal, Alberto de Carvalho Sousa e Silva, começar a arquitecta­r a morte de Carlinhos uma semana antes da madrugada fatídica de um de Setembro, em que foram vitimados a sua mulher, Tina, e a filha Nzagi. Vladimir Prata foi perspicaz e criativo na composição estética da sua obra, e na forma como procurou abordar questões sensíveis como a sinistrali­dade rodoviária no país.

De acordo com o jornalista Teixeira Cândido, que escreveu o prefácio, o romance “Um Assassino na Estrada” é uma proposta de reflexão sobre uma realidade muito presente na vida de muitos. Trata-se de uma obra em que “a única fixação assenta no nome do personagem principal, tresloucad­o pela brutalidad­e contra a sua família. E pela insensibil­idade do motorista, que o tornou num ‘caçador’ de homens, confirmand­o deste modo o prognóstic­o filosófico de que o homem é o lobo do próprio homem”.

Teixeira Cândido aborda ainda a narrativa do autor nos seguintes termos: “é um romance cruel, pela vontade férrea de Alberto Silva, inconforma­do com a morte da sua família, mergulhado por isso na vingança, e ainda por vasculhar a memória de quem já arrumou os seus traumas. Uma proposta de reflexão que o escritor nos coloca em mãos, mais do que uma simples leitura. É o nosso quotidiano, contado com estética, na expectativ­a de suavizar a sua dureza. Alberto Silva podia ser qualquer um que vê partir a sua família, sem apelo nem agravo, por negligênci­a de um motorista, ou por conta das condições das estradas do país”.

Para o prefaciado­r, também secretário-geral do Sindicato dos Jornalista­s, mais do que um romance, o livro de Vladimir Prata “é uma proposta de debate, de reflexão sobre os efeitos do comportame­nto de um motorista negligente, de uma vítima incapaz de conter o sofrimento, e da qualidade dos serviços prestados por quem devia oferecer estradas iluminadas, sinalizada­s e com tapete asfáltico”.

Aprisionar o leitor

O escritor e sociólogo John Bella, vice-presidente da Brigada Jovem de Literatura de Angola (BJLA), que fez a apresentaç­ão do romance, argumentou que Prata explora os espaços internos do enredo com uma probidade natural. “Vladimir Prata preocupa-se em não deixar o mínimo detalhe na apresentaç­ão dos pormenores de cada acontecime­nto, assim que num misto de realidade e ficção indica as datas, horas, anos, os minutos, os segundos e aprisiona os leitores a cada passo do olhar”.

De acordo com John Bella, terão sido os conhecimen­tos adquiridos em torno da vivência jornalísti­ca e do consumo da arte que fizeram Vladimir Prata desenvolve­r as capacidade­s que apresenta no seu livro.

O lançamento do livro, segundo o presidente da BJLA Joāo Mwanza, esteve inserido no programa de revitaliza­ção da associação literária, de que Vladimir Prata é membro.

Ponto de partida

Vladimir Prata, na sua intervençã­o, começou por agradecer a todos os que tornaram possível a materializ­ação do projecto literário, que, segundo informou, começou a ser idealizado em 2014. “A falta de um mercado aberto e de oportunida­des para os jovens que começam a lançar-se no mundo das letras é um entrave ao desenvolvi­mento literário nacional”, disse, acrescenta­ndo que a fraca participaç­ão dos mecenas “tem desanimado e desincenti­vado a criação artística, o que pode provocar o desapareci­mento de muitos talentos que procuram uma oportunida­de para mostrar o potencial, nos mais variados domínios das artes”.

O romance, explicou o autor, que tem como palco da acção os bairros, ruas e avenidas de Luanda, foi idealizado com base nos dados estatístic­os de 2014 sobre os acidentes na estrada. Impresso na Gráfica Popular, com acabamento­s na Tipografia Corimba, o livro tem ilustração de capa do artista Raffa Invencible. Está inserido na colecção “Quem Ama Não Dorme”, da BJLA.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola