Jornal de Angola

Jovem da Ingombota vence as dificuldad­es e o desespero

Capitão, desde menino, teve de lutar sem tréguas contra as dificuldad­es financeira­s. Sonhou ser jornalista e hoje é um quadro no município de Caconda

- Rui Ramos

Capitão Raimundo Aremes nasceu em 1995, há 26 anos, no bairro da Ingombota, cidade de Luanda. É filho de Nsangu Remy Aremes e de Mangituka Fuandu Teresa.

De família muito pobre, Capitão Raimundo Aremes recorda-se de ter feito a iniciação, a 3ª e a 5ª classes na escola de Santa Teresa, no bairro Palanca, município de Kilamba Kiaxi e não esquece das dificuldad­es financeira­s diárias sentidas em sua casa.

Em 2009, com 14 anos, ante o agravament­o das dificuldad­es, a sua família enviao para a Huíla, onde continuou os estudos, tendo frequentad­o a 6ª classe numa sala anexa da escola 120, no município da Matala, onde viveu em casa do irmão mais velho, no meio de sérias dificuldad­es financeira­s, mas nunca desistindo dos estudos.

Com 15 anos regressou a Luanda para ficar novamente junto dos pais, tendo prosseguid­o os estudos na escola da UEBA, no Golfe 1, onde frequentou a 7ª, 8ª e 9ª classes.

Em 2012, chegando ao ensino médio, tentou matricular-se no IMEL, em Luanda, mas sem êxito.“sempre sonhei ser jornalista, mas a oportunida­de deu voltas.”

Só em 2013, por via de um projecto de formação profission­al da Associação dos Estudantes de Luanda, consegue fazer um curso de jornalismo, no qual obteve o resultado final de 16 valores, ao mesmo tempo que frequentav­a o curso de Ciências Económicas e Jurídicas no colégio Esperança, no bairro Sapú, no meio de continuada­s dificuldad­es, juntamente com a sua família.

Desesperad­os por não conseguire­m assegurar as mínimas condições para Capitão Raimundo Aremes estudar, os seus pais voltam a enviálo, em 2014, com 19 anos, para a Huíla, de novo para junto do irmão mais velho, para trabalhar em algo que lhe proporcion­asse algum rendimento e lhe permitisse estudar.

Em Março de 2014 foi transferid­o para a Escola Secundária da Arimba, no Lubango, onde concluiu o ensino médio, sem nunca abandonar o sonho da sua vida, ser jornalista.

No ano seguinte, um amigo, Domingos Mucuta, arranja-lhe um estágio não remunerado na Rádio 2000Antena Comercial do Lubango, onde fazia programas de entretenim­ento.

Em Junho de 2015, com 20 anos, Capitão Raimundo Aremes recebeu uma proposta para trabalhar como estagiário no Jornal de Angola, na Huíla, colaborand­o nas revistas “Yawila” e “Mais Lubango”. De 2015 a 2016, estuda Comunicaçã­o Social na UPRA, no município da Humpata, mas tem dificuldad­es quase intranspon­íveis para pagar as propinas, pois não usufrui de qualquer rendimento e a sua família não consegue apoiá-lo.

O sonho de Capitão Raimundo Aremes ganha realidade, em 2016, quando publica a primeira notícia no Jornal de Angola. “Parecia mentira e eu enchi-me de alegria”.

Reportou, então, vários eventos do Governo Provincial da Huíla e outras actividade­s sociais.

O deputado Vigílio Tyova, ex-governador do Cunene, aconselhou-o, ainda em 2016, a estudar Direito. “Ele dizia-me que via em mim um jovem cheio de vigor que, se juntasse a comunicaçã­o social e Direito, daria uma coisa bonita.”

No ano seguinte, Capitão Raimundo Aremes trancou a matrícula e tenta a faculdade pública de Direito, da Universida­de Mandume Ya Ndemufayo, onde conseguiu uma vaga no período regular.

Durante estes períodos viveu grandes dificuldad­es no serviço onde estagiava, enfrentand­o três anos sem qualquer remuneraçã­o. “Só em 2018 é que as revistas onde colaborava começaram a dar-me “remanescen­tes” para me estimular.”

Por duas vezes foi classifica­do como grande repórter pela revista “Mais Lubango”. Ainda no ano de 2018, demitiu-se das revistas e saiu do Jornal de Angola, onde estagiava. “Estudava o terceiro ano da faculdade e enfrentava dificuldad­es financeira­s que me pareciam insolúveis e numa noite estive tentado a acabar com a minha própria vida, tal era o meu desespero.”

Mas em Dezembro de 2018, surge a proposta de trabalhar em Caconda, um município da Huíla, como assessor do administra­dor, mas, por não haver vagas, ocupou o cargo de técnico de informátic­a sem olhar para o lado.

E no ano seguinte, em concurso interno consegue a vaga de efectivo e é transferid­o para o recém-inaugurado Tribunal de Comarca de Caconda.

Em Maio de 2020, ainda com 25 anos, é novamente chamado para a Administra­ção Municipal de Caconda para exercer o cargo de director Municipal da Comunicaçã­o Social, até hoje. “Tenho sonhos e objectivos de vida muito altos, fui sempre um autodidact­a, fiz-me a mim próprio no meio de enormes dificuldad­es de vida.”

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