Jornal de Angola

“Queremos continuar a ser o motor da economia”

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Acho que os bancos não estão a conceder crédito porque também não têm assim muitos pedidos. Esta é uma fase de crise. A maioria das pessoas, ou estão a fazer um negócio novo, ou retraem-se um pouco no que toca em pedir crédito ao banco, o que é normal. As pessoas dizem que os bancos não querem conceder crédito, isso não é verdade. Os bancos querem conceder crédito, a não ser que hajam motivos muito fortes para não o concederem. No nosso caso, nós queremos continuar a conceder crédito e a ser o motor da economia.

Qual a sua visão quanto à reforma cambial?

Se me perguntar se eu acho bem que haja estabiliza­ção de preços entre o mercado oficial e o paralelo, acho que sim: quanto mais próximo estiverem o preço do banco central e do informal, melhor é o negócio cambial e menor é a vontade de ir à rua comprar dinheiro. Tudo que traga negócio para a banca é bom e, consequent­emente, tudo passa a ser oficial e deixa de haver o oficioso. Acho que o caminho é este. Agora, relativame­nte às reformas e estratégia­s que estão a ser implementa­das, depende de quem de direito e que tem esta responsabi­lidade.

O governador do BNA advoga que os bancos comerciais reavaliem os modelos de negócios que assentam na dívida pública e nas operações cambiais, por não ser sustentáve­l. O que se lhe oferece comentar?

Se calhar por isso é que os bancos estão a ser obrigados a constituir provisões, parece-me bem. Aliás, como lhe disse, o Banco BIC será um dos bancos que está um pouco contra a corrente, ou seja, apesar de ter uma grande fatia de carteira de dívida pública, mas isso fruto do tamanho da liquidez que possui, somos um dos bancos que mais apoia os particular­es e as empresas. Acho que o caminho é por aí. Penso que conceder crédito ao

Estado é muito mais fácil para alguns bancos. É um crédito que, à partida, não tem risco nenhum.

Portanto, encostamon­os todos ao

Estado. Compramos Obrigações do

Tesouro e ficamos à espera. Não me parece mesmo que o caminho seja por aí.

Nesse caso, estou de acordo com o governador, mas os bancos só o fazem, ou seja, alguns o fazem mesmo por inércia, por ser fácil, mas a maioria dos bancos poderia ter mais liquidez empregue no crédito a particular­es e às empresas. Concordo com a afirmação de que os bancos, ao tentarem ir aplicar recursos em Obrigações do Tesouro, é um bocado tentar deixar seguros os depósitos dos clientes. Os bancos têm que se proteger contra a desvaloriz­ação da moeda.

Como é que o Banco BIC soluciona estas questões?

No nosso caso, preferimos dar crédito a particular­es e empresas. Não pode ser sempre o Estado a fazer tudo. O Estado tem responsabi­lidade sim, mas ficar-se única e exclusivam­ente a depender do Estado não é o caminho. O caminho é as pessoas começarem a empreender, começar a fazer. Acho que a maioria das pessoas que quer empreender tem que começar devagarinh­o. Vejo muita gente que quer e está a empreender. Usa os seus fundos próprios e com algum receio de ir ao banco. Acham que é muito difícil, mas não é nada assim. Há também pessoas a querer sempre dar passos maiores do que a perna. Também não me parece boa ideia. O indivíduo tem que ir devagar, se calhar demora mais tempo. O banco também vai conhecer melhor o negócio da pessoa e a seguir vem buscar um bocadinho mais e cresce um pouco mais e por aí fora. É assim que gostamos de apoiar as empresas. Pensamos que não é certo uma pessoa que tem um negócio pequeno e depois quer ganhar uma escala enorme com um financiame­nto enorme que nem sequer sabe se vai conseguir acompanhar esse negócio. Desta maneira, para entrar em crédito malparado, é melhor nem conceder. Uma das regras do crédito é: havendo dúvida em relação à operação, não se concede o crédito. Acho que é uma gestão responsáve­l.

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O crédito concedido à economia continua a ser pouco expressivo no balanço dos bancos. A que ponto isso tem a ver com os riscos que a economia real ainda representa?

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