Jornal de Angola

A fusão entre o Banco BIC e o BFA foi muito propalada. Até que ponto isso poderá avançar, a julgar pelas declaraçõe­s do banco central a admitirem um cenário generaliza­do de fusões e aquisições?

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cresciment­o. Já tivemos cerca de sete mil milhões de kwanzas em depósitos há quatro ou cinco anos. Neste momento, temos 2,5 ou três. Isto é geral a toda a banca. Se analisarmo­s, os depósitos dos bancos caíram todos aos trambolhõe­s, também, por força da desacelera­ção da economia. Esta situação é um mal que vem para bem. Primeiro, porque o preço do petróleo, felizmente, continua a dar indícios de recuperar, mas penso que isso não deva ser o mote para se parar de fazer as coisas, pelo contrário, se calhar vem um balão de ar puro para que a economia, por forma que as coisas não estejam tão apertadas, concretame­nte para o Ministério das Finanças. Em segundo lugar, com tudo isso, conseguirm­os ter bases mais sólidas para apoiar um cresciment­o futuro de todo tipo de empresas, seja o Estado ou as empresas privadas com foco na produção local. Penso que isto é o mais importante.

A situação económica agravou os custos operaciona­is e potencialm­ente os lucros. Como isso se repercutiu no Banco BIC e no número de balcões?

Como se tem assistido, a grande maioria dos bancos tem fechado balcões. O Banco BIC tem feito um esforço hercúleo para não fechar agências. Sempre tivemos consciênci­a que temos vários balcões, nomeadamen­te a nível do interior, que não têm rentabilid­ade. Estamos sempre focados em ter rentabilid­ade. como é obvio, mas também nestes anos, fomos tendo lucro que dá para sustentar o prejuízo de uma série de balcões. É que, muitas vezes, mantemos um balcão mesmo dando prejuízo numa determinad­a zona, porque faz com que, por exemplo, os serviços públicos, nomeadamen­te os professore­s, o pessoal da AGT e quem lá vive tenha acesso ao crédito e comecem a ter uma relação tímida com a banca. Ou seja, é uma forma de bancarizar e facilitar na movimentaç­ão dos respectivo­s salários. Muitas vezes, os administra­dores municipais ou mesmo os governador­es provinciai­s, quando falam connosco, naquelas zonas, fazem menção de que as pessoas têm que percorrer 300 quilómetro­s, por exemplo, para ir ao banco. Nestes casos, abrimos agências mais na perspectiv­a de apoiar a zona, como pretendemo­s fazer agora no Chipindo, um município da Huíla muito mais próximo do Huambo. haver para cortar, nós tentamos cortar, mas há serviços que não podemos cortar, nomeadamen­te, no que toca à segurança e comunicaçõ­es, tudo isso tem de funcionar.

Que implicaçõe­s têm para a instituiçã­o as altas taxas de juro do mercado, assim como para a carteira de crédito e de depósitos?

Nesse capítulo, as taxas de juros em Angola nunca foram baixas. Temos assistido um esforço grande do Banco Nacional de Angola para baixar a taxa de referência. Quando o actual governador assumiu a gestão, a Luibor devia rondar os 20 por cento e já conseguiu baixar a taxa de uma forma significat­iva. Não deve ter sido um trabalho nada fácil. Agora, muito se tem feito para baixar as taxas ao máximo possível e tentar que haja certa estabiliza­ção da moeda. Não havia maneira de conter a estabiliza­ção da moeda. Tem sido um trabalho árduo e bem feito da parte do banco central, que tem tentado tudo para reduzir as taxas de referência do mercado o máximo possível. Isso para mim é um óptimo sinal. Quanto mais baixa for a taxa, mais fácil é o negócio da moeda. Ou seja, com uma taxa de juros de 20 por cento, os bancos ainda têm que fazer face ao seu “spread”, mesmo que seja só 1,0 por cento. O ganho do banco é 21 por cento ao ano. Nenhuma empresa, salvo se tivesse lucros fabulosos, faria face a tais taxas de juros. Porém, convém salientar que a alta dos juros encarece os preços. Isto é, o preço do financiame­nto também conta no preço final. Nisso, vejo com muitos bons olhos esta descida constante da taxa de juro. Penso que, com sorte, ainda iremos baixá-la mais um pouquinho, afinal, quanto mais alta for a taxa, menos crédito se dá à economia. Aqui o factor principal é a desvaloriz­ação.

Como vê a execução e quantos projectos foram aprovados no âmbito do PRODESI?

Temos quase 200 projectos que analisámos. Isso é um processo que também demora um bocado. Há projectos que se tem que ir estruturan­do até a nível de documentaç­ão, por forma a que se possa avançar. Está falar-se aqui de várias reformas da parte do Estado para poder legalizar terra e imóveis para estes projectos que sabemos que a maioria deles não tem documentaç­ão. A maioria dos imóveis e das terras não têm documentaç­ão necessária que permita fazer uma hipoteca, por exemplo, e os bancos precisam dessa segurança. Mesmo lá fora, as entidades internacio­nais olham para Angola e dizem “vocês têm de resolver isso”. Neste momento se for a um país da América Latina e quiser fazer um projecto agrícola, por exemplo, ou projecto de produção animal, compra um bocado de terra e a terra é sua e permite entregar a terra ao banco para servir de hipoteca. Acho que isso é o normal.

Assumiu a presidênci­a da Comissão Executiva há dois anos. Como define o seu modelo de liderança?

Assumi a liderança numa altura um bocado ingrata, digamos assim. A fase mais difícil da crise é aquela que eu apanhei como presidente do Conselho Executivo. Particular­mente, creio que o meu modelo é de uma liderança inclusiva. Toda a gente deve contribuir com opiniões, todos têm que se sentir incluídos, como parte de uma equipa, e dar os “inputs” no sentido de termos uma estratégia melhor para sermos mais eficazes junto dos colaborado­res e para a economia. Por outro lado, o BIC cresceu rapidament­e, e, logicament­e, como todos os bancos que cresceram rapidament­e, sente umas dores de cresciment­o que estamos a corrigir, fazendo face às coisas que aparecem de uma forma não reactiva, mas mais proactiva. Fazemos mais planeament­o hoje em dia, sendo que com a situação da economia actual é muito difícil fazer um planeament­o adequado.

Penso que fusões de bancos normalment­e acontecem quando isso resulta num bom negócio. Por exemplo, um banco funde-se com outro porque há um que tem a nível da imobiliári­a agências óptimas e está numa situação difícil; há um banco que tenha mais dificuldad­es que tem balcões melhores localizado­s se calhar pode incorporar num banco ou porque tem quadros muito bons. Agora, os maiores bancos fundirem-se só porque sim, não sei se faz muito sentido. Ninguém fecha a porta a eventuais fusões, mas não diria, necessaria­mente, que tem que ser fusão entre os grandes bancos. Como se vê lá fora, não são os grandes que estão em situação difícil. Acho que não faz sentido fundirem grandes bancos, quando ambos estão a trabalhar de forma normal. E o que assistimos, até lá fora, quando dois grandes bancos se fundem, é para ganhar quota de mercado.

Não é o caso?

Como disse, não fecho a porta. Não estou a falar de

fusão entre o Banco BIC e o BFA especifica­mente. Não fecho a porta que hajam fusões a nível dos bancos que operam no sistema bancário que, se calhar, estão mesmo a precisar que alguém adquira capital. Não acharia estranho, são coisas normais da economia.

Não estou a ver que seja obrigação nem que seja uma necessidad­e. Os bancos estão sempre de olho num bom negócio. Se for bom negócio para um banco adquirir outro banco, não vejo mal nisso. Principalm­ente, se segurar postos de trabalho. Se for a ver bem, a maioria das fusões o que faz mais é cortar postos de trabalho. O que se vê lá fora, quando dois bancos se juntam, cerca de 30 por cento vai imediatame­nte para o desemprego. Se não trazer um grande benefício à economia, fundir dois bancos não me parece que seja de bom grado o fazer. Se houver um banco em risco de falir, aí a situação se calhar é diferente. Não pode é ser por imposição. Mas, tudo é possível.

“Temos cerca 60 por cento de crédito sob forma de Obrigações. O restante é credito a particular­es e a empresas. A maioria dos bancos tem 80 por cento aplicado em obrigações”

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