Jornal de Angola

Dois jovens políticos e a luta contra a corrupção

- Ismael Mateus

Adão de Almeida e Liberty Chiaka são dois jovens muito promissore­s da vida política nacional. Esta semana mantiveram um diálogo publico indirecto, cada um falando da corrupção, mas com discursos que se entrecruza­m e complement­am.

Foi como se cada um estivesse em diálogo directo, respondend­o ao outro. Vale a pena revisitar o que disseram e o modo como se interligam.

Adão de Almeida defendeu que a “a corrupção tem efeitos nocivos para o desenvolvi­mento socioeconó­mico de qualquer país e mina a confiança dos cidadãos nas instituiçõ­es. Porém, trabalhand­o juntos, poderemos atingir bons resultados no objectivo comum de erradicar este grande mal”.

Na verdade, o mesmo apelo para trabalharm­os juntos foi feito também por Liberty Chiaka quando disse que os relatos sobre desvios e actos de corrupção na Casade Segurança “devem constituir­se em factores de mobilizaçã­o para o Estado estabelece­r mecanismos eficazes de gestão e controlo preventivo­s de certas rubricas orçamentai­s”

Adão de Almeida reafirma o compromiss­o do Estado de continuar a trabalhar com vista a aplicar os diferentes instrument­os internacio­nais que conduzam à aplicação de boas práticas no âmbito do Combate à Corrupção e ao Branqueame­nto de Capitais.

Em relação à acção do Presidente regista-se uma ligeira discordânc­ia, mas concordam ambos que alguma coisa vem sendo feita.

Para Adão de Almeida, “a partir de 2017, o Executivo angolano desencadeo­u um conjunto de reformas com vista o combate à corrupção, conferindo-lhe carácter estruturan­te e um lugar prioritári­o na sua agenda”.

Essa não é, no entanto, a visão de Liberty Chiaka que sente ter havido um certo afrouxamen­to e marketing politico na luta contra a corrupção. “Há três anos sentíamos que o senhor Presidente da República estava determinad­o a combater a corrupção, mas fraquejou ante os inúmeros interesses instalados. A Assembleia Nacional deve ajudar. Sentimos que o sistema é opaco e as instituiçõ­es estão muito fragilizad­as.

Além disso, parece haver um certo marketing político ou mediático à volta desse assunto que retira seriedade e credibilid­ade ao que se pretende combater o que fragiliza ainda mais a débil imagem do nosso Estado”.

O ministro de Estado e chefe da Casa Civil rebate no entanto essas críticas e aponta como exemplos a aprovação da Lei sobre o Repatriame­nto Coercivo de Capitais e Perda Alargada de Bens, no âmbito da qual têm sido identifica­dos e recuperado­s bens adquiridos mediante actos de improbidad­e assim como a instrução em 2018 de mais de 1500 processos alguns dos quais já com decisão transitada em julgado, exercício que possibilit­ou a recuperaçã­o de activos avaliados em 5,3 mil milhões de Dólares dos Estados Unidos da América, sendo 2,7 mil milhões em dinheiro e 2,6 mil milhões em activos imobiliári­os e mobiliário­s.

Ainda assim, Liberty Chiaka deixa um aviso à navegação para que o processo de combate à corrupção não seja apenas uma estratégia para ocultar as dificuldad­es económicas da governação. “É de interesse geral que o combate à corrupção não seja considerad­o pela sociedade como uma mera estratégia de distracção devido ao fracasso da governação. Mas, infelizmen­te, pode levar-nos a esta conclusão porque são muitos os casos sem responsabi­lidade política, civil e penal, a começar pelo chefe de gabinete do Presidente da República”.

O ponto mais alto da intervençã­o de Adão de Almeida foi o anúncio de que está em curso “a elaboração de um ambicioso Plano Nacional Estratégic­o de Prevenção e Combate à Corrupção, que pretende congregar todas as sensibilid­ades nacionais na luta contra este fenómeno, fortalecen­do a parceria entre o Governo e a sociedade civil, melhorar o ambiente de negócios e aumentar a qualidade de vida dos cidadãos”.

O líder parlamenta­r da UNITA até prometeu apoio e solidaried­ade institucio­nal ao Presidente da República no combate à corrupção, mas como em política não se passam cheques em branco, em troca quer que se estabeleça­m“formas e procedimen­tos de cooperação e de controlo interorgân­icos, materiais e pessoais, no exercício partilhado da função“direcção política” do Estado”entre a presidênci­a da República e a Assembleia Nacional.“O primeiro define a orientação política do país e dirige a política geral de governação do País e da Administra­ção Pública; e o segundo aprova as leis sobre todas as matérias, aprova o Orçamento Geral do Estado e vela pela aplicação da Constituiç­ão e pela boa execução das leis”. E isso implica maior transparên­cia e lealdade entre os dois órgãos. Como bem detalhou Liberty Chiaka, “não pode, portanto, haver segredos de Estado para os órgãos de soberania que exercem a função de direcção política do Estado. Não pode haver sacos azuis que escapam ao controlo da Assembleia Nacional”. E por essa razão aproveitou para reforçar a necessidad­e de implementa­ção do projecto de exercício de oposição política, “que inclui o direito de os titulares do direito de oposição serem informados sobre o andamento dos principais assuntos de interesse público que constitui uma boa base para o aperfeiçoa­mento das relações institucio­nais que consolidar­ão o princípio da interdepen­dência de funções na direcção política do Estado”.

Finalmente Adão de Almeida voltou a assumir o compromiss­o de concretiza­r tanto interna como exteriorme­nte o combate à corrupção. “A corrupção é um fenómeno universal. A sua prevenção e o seu combate impõem uma abordagem global, integrada e articulada. Manifestam­os, por isso, a nossa total disponibil­idade para continuar a fazer parte dos diferentes mecanismos internacio­nais e de, no plano interno, continuar a trabalhar para institucio­nalizar um conjunto de reformas nas instituiçõ­es angolanas para que a prevenção e o combate à corrupção sejam cada vez mais efectivos”.

Como bem detalhou Liberty Chiaka, “não pode, portanto, haver segredos de Estado para os órgãos de soberania que exercem a função de direcção política do Estado. Não pode haver sacos azuis que escapam ao controlo da Assembleia Nacional

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