Jornal de Angola

“Temos de perdoar e seguir em frente”

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Eunice

foi à cerimónia privada de atribuição da certidão de óbito e certificad­o de homenagem, no Ministério da Justiça e dos Direitos Humanos, acompanhad­a da tia Laurinda Gomes Gonga de Almeida, irmã de Nito Alves.

Quando morreu o pai, acusado de ser um dos artífices de uma sublevação interna no MPLA que provocou a purga do 27 de Maio, Eunice tinha apenas três anos. O rosto de Nito Alves é o que resta na memória da jovem de 47 anos que, com mais duas irmãs, suportou o desapareci­mento prematuro do pai nas suas vidas.

“Passámos por coisas tristes nas nossas vidas, porque o pai para nós era tudo. Não tenho na memória gestos de carinho, porque tiraram-me o pai cedo. Só tenho tristeza. É difícil encontrar explicaçõe­s pelo que passámos”, disse.

Eunice, que disse que ganhou uma amiga nas cerimónias de homenagem às vítimas dos conflitos políticos, afirmou que conheceu a Xisolla num momento “único e indescrití­vel.”

Cristã católica devota, Eunice disse que acredita no perdão. “Temos de perdoar porque até Jesus Cristo perdoou quem lhe fez mal”, admitiu. Sem generaliza­r, a jovem afirmou que, no seu caso, o passado ficou para trás. “Temos de seguir em frente”, afirmou.

O processo de entrega de corpos das vítimas de conflitos políticos, no quadro dos trabalhos da CIVICOP, começou, formalment­e, na quinta-feira, mas havendo a necessidad­e de assegurar o procedimen­to de identifica­ção dos restos mortais, decorre ainda a fase de identifica­ção visual e de recolha de amostra para testes de ADN às famílias consanguín­eas e às ossadas das vítimas.

Só depois dos testes de ADN e do cruzamento com as ossadas das vítimas é que deve ser entregue o respectivo corpo a cada família, com base na identifica­ção feita.

No ano passado, ao Jornal de Angola, o ministro Francisco Queiroz admitiu que “o 27 de Maio foi uma sucessão de erros políticos históricos lamentávei­s.”

Faz 44 anos que aconteceu em Angola uma purga precipitad­a por acontecime­ntos políticos e ideológico­s do regime do MPLA, que proclamou a Independên­cia do país a 11 de Novembro de 1975.

Morreu muita gente vítima da perseguiçã­o política do regime e, também, da acção de insurgente­s contra o poder político estabeleci­do. O ministro Francisco Queiroz esclareceu que os crimes cometidos nos acontecime­ntos que ficaram conhecidos como “fraccionis­mo” foram amnistiado­s ao longo dos anos de governação.

O Governo leva a cabo um processo de reconcilia­ção das vítimas de conflitos políticos de 11 de Novembro de 1975 a 4 de Abril de 2002, que vai culminar com a inauguraçã­o, na zona da Boavista, em Luanda, de um memorial.

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