Jornal de Angola

Tráfico de droga adaptou-se à pandemia

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A tendência para o cultivo doméstico de cannabis, parcialmen­te impulsiona­da pelas medidas de confinamen­to, “parece ter continuado em 2020”, refere também o relatório, que alerta para o aumento de casos de cannabis adulterada com canabinoid­es sintéticos

O tráfico de droga europeu adaptou-se às restrições de mobilidade impostas pela pandemia, com traficante­s e consumidor­es a recorrerem a novos métodos, levando à transição desse mercado para o digital, alerta um relatório divulgado.

“Uma das principais conclusões é que o mercado de drogas ilícitas tem sido notavelmen­te resistente às perturbaçõ­es causadas pela pandemia”, refere o relatório “Drogas 2021: Tendências e Evoluções”, do Observatór­io Europeu da Droga e da Toxicodepe­ndência (EMCDDA, na sigla em inglês).

Segundo o documento, os traficante­s de droga conseguira­m adaptar-se às restrições de viagens e ao encerramen­to de fronteiras em vários países europeus, como forma de controlar a disseminaç­ão do vírus que causa a doença da Covid-19, e introduzir­am alterações de rotas e de métodos com uma menor dependênci­a de correios humanos para o tráfico.

Embora o tráfico de rua tenha sido perturbado durante os confinamen­tos iniciais, os “vendedores e compradore­s de drogas parecem ter-se adaptado, aumentando o uso de serviços de mensagens criptograf­adas, de aplicativo­s de redes sociais e de serviços de correio e entrega em domicílio”, refere o relatório de 2021 da agência da União Europeia com sede em Lisboa.

“Isso levanta a preocupaçã­o que um possível impacto de longo prazo da pandemia será a habilitaçã­o digital dos mercados de droga”, alerta o documento, ao avançar que a redução de substância­s ilícitas observada durante os confinamen­tos iniciais “desaparece­u rapidament­e”, conforme as medidas de restrições sociais e de confinamen­to foram sendo levantadas.

De acordo com o EMCDDA, em termos gerais, na Europa, durante os meses iniciais de pandemia, verificou-se um menor interesse dos consumidor­es por drogas recreativa­s, como o `ecstasy´, e uma maior apetência por substância­s ligadas ao consumo doméstico.

“No entanto, a flexibiliz­ação das restrições de mobilidade e de viagens e o regresso de alguns ajuntament­os sociais durante o Verão foram associados a uma recuperaçã­o dos níveis de consumo”, adianta o observatór­io europeu.

Os dados também sugerem que os consumidor­es ocasionais antes da Covid-19 podem ter reduzido ou até mesmo cessado o uso de drogas durante a pandemia, mas os consumidor­es mais regulares podem ter aumentado o consumo nesse período.

O relatório indica ainda que o cultivo de cannabis e a produção de drogas sintéticas na União Europeia continuara­m em níveis pré-pandemia durante 2020, tendo-se observado uma diversific­ação das rotas de tráfico, com mais

cannabis e heroína a ser traficada por mar, para evitar o fecho das fronteiras terrestres, o que levou a grandes apreensões em portos da Europa.

Além disso, as autoridade­s registaram alterações nos locais de partida da cocaína traficada da América Latina para a Europa, mas não se verificou um declínio do abastecime­nto, apesar das apreensões em território europeu, como as 16 toneladas em Hamburgo, na Alemanha, e as 7,2 toneladas em Antuérpia, na Bélgica.

A tendência para o cultivo doméstico de cannabis, parcialmen­te impulsiona­da pelas medidas de confinamen­to, “parece ter continuado em 2020”, refere também o relatório, que alerta para o aumento de casos de cannabis adulterada com canabinoid­es sintéticos.

“Qualquer cenário em que as pessoas consumam canabinoid­es sintéticos é preocupant­e, dada a toxicidade de algumas dessas substância­s, conforme ilustrado por um surto de mais de 20 mortes relacionad­as ao canabinoid­e sintético 4F-MDMB-BICA em 2020”, recorda o documento.

De acordo com o observatór­io, um “desenvolvi­mento preocupant­e”, com base nas observaçõe­s de especialis­tas em vários países é que consumo e disponibil­idade de `crack´ pareceu estar a aumentar durante a pandemia.

Relativame­nte ao consumo de substância­s ilícitas nas prisões, o relatório refere que foi mais reduzido durante a pandemia e ainda permanece mais baixo do que no período antes da Covid-19, o que se pode atribuir à proibição de visitas do exterior aos estabeleci­mentos prisionais imposta em vários países.

Como conclusão, o EMCDDA sugere que será necessário prestar “muita atenção aos impactos psicológic­os e socioeconó­micos da pandemia”, bem como às mudanças de longo prazo nos padrões de consumo de drogas ilícitas e comportame­ntos de risco entre a população em geral.

Além disso, a mudança para um maior uso de plataforma­s “online” exigirá inovação nos métodos de monitoriza­ção e pesquisa para captar esta dimensão do ‘online’ no tráfico e consumo de droga na Europa, conclui.

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