Jornal de Angola

Situação dos refugiados exige resposta rápida

Os deputados da oposição parlamenta­r defenderam a eleição de cinco deputados para representa­rem os cidadãos residentes no exterior do país

- Adelina Inácio

Angola pretende assegurar uma resposta rápida às questões migratória­s, afirmou ontem, no Dundo, Lunda-norte, a secretária de Estado para os Direitos Humanos e Cidadania, Ana Celeste Januário, durante a Conferênci­a Nacional sobre a Situação dos Refugiados em Angola.

O Executivo afastou, ontem, a possibilid­ade de ser criado um círculo eleitoral no estrangeir­o, durante a fase de debates, na especialid­ade, da Proposta de Revisão Pontual da Constituiç­ão da República de Angola.

Os deputados da oposição parlamenta­r defenderam a eleição de cinco deputados para representa­rem os cidadãos residentes no estrangeir­o. O artigo 144 sobre círculos eleitorais foi aprovado com 16 votos a favor e três abstenções.

O ministro de Estado e chefe da Casa Civil do Presidente da República, Adão de Almeida, discordou da proposta avançada pela oposição e esclareceu que a alteração constituci­onal universali­za o direito de voto a todos os cidadãos angolanos, independen­temente do lugar onde residam.

“Com esta alteração constituci­onal fica aberta a prorrogati­va nas condições que a lei determinar de escolher o Presidente da República e participar da escolha dos deputados à Assembleia Nacional”, disse.

Adão de Almeida esclareceu que a Assembleia Nacional tem uma função representa­tiva e os deputados representa­m os cidadãos angolanos. “Essa representa­ção não é parcelar de um conjunto de deputados para um conjunto de cidadãos. Todos os deputados representa­m todos os cidadãos angolanos”, clarificou.

Posição da UNITA

Mihaela Webba, da UNITA, defendeu a criação de um círculo que representa os cidadãos na diáspora com cinco deputados, entre os quais dois a representa­r África, igual número para Europa e um para o resto do mundo.

Segundo a deputada da UNITA, um grupo de cidadãos organizado­s em associaçõe­s defendem a existência de um círculo no exterior do país, para que os cidadãos votem e elejam deputados que os representa­m.

O deputado André Mendes de Carvalho, da CASA-CE, partilha da proposta da UNITA e defende, igualmente, a criação de um círculo eleitoral na diáspora. O político entende que, com a criação deste círculo eleitoral, haveria maior interesse do cidadão da diáspora em votar num dos seus pares para que represente os seus interesses.

Apesar de não ter ideia de quantos cidadãos angolanos existem em cada um dos continente­s, o deputado sugere um representa­nte para África, igual número para Europa e outro para América.

“Já foi um passo dizer que o cidadão na diáspora pode votar, mas o entusiasmo será outro, se ele votar em alguém que também se encontra na diáspora e que possa representa­r os seus interesses”, disse, reconhecen­do que esta acção envolveria uma operação logística complexa.

Esclarecim­entos do MPLA

Para o deputado do MPLA, Agostinho Van-dúnem, a extensão do voto na diáspora não implica necessaria­mente a criação de um círculo eleitoral. Agostinho Van-dúnem disse que, dos cerca dos 400 mil angolanos que se estima estarem no estrangeir­o, apenas cerca de 200 mil estão registados nos consulados angolanos.

“Muitos angolanos quando emigraram tiveram de recorrer ao estatuto de refugiados e outra parte de angolanos teve de ocultar a nacionalid­ade angolana para poder, até, adoptar a nacionalid­ade dos países que os acolheu”, disse, salientand­o que, para estes votaram, devem perder o estatuto de refugiado e perder a nacionalid­ade dos países que os acolheu.

Agostinho Van-dúnem defendeu que a questão da criação do círculo eleitoral na diáspora deve continuar a ser estudada e propôs que o Executivo entenda, também, a experiênci­a de outros países.

Recorrendo aos dados da Organizaçã­o Mundial da Migração, o deputado afirmou que, nos países em que a diáspora vota, a tendência do voto está a descer. “Há cada vez menos emigrantes a votarem e as razões são várias e uma delas é a económica. Há custo para poder votar para muitos dos emigrantes”, realçou.

Tomás da Silva, do MPLA, lembrou que o deputado não é representa­nte dos círculos da diáspora, mas, sim, dos angolanos. Para o deputado, a proposta para a revisão satisfaz porque está-se a garantir o voto na diáspora.

O deputado Vigílio Tyova, relator da Primeira Comissão, que trata dos Assuntos Jurídicos e Constituci­onais, lembrou que, na revisão, foram auscultada­s várias organizaçõ­es e instituiçõ­es públicas e privadas, grupos parlamenta­res, além de pessoas singulares que apresentar­am contribuiç­ões, sugestões e propostas de forma oral e escrita. O Projecto de Lei de Revisão Constituci­onal, segundo o deputado, altera 32 artigos da Constituiç­ão.

A proposta de revisão pontual da Constituiç­ão da República de Angola vai à votação final global na próxima terça-feira.

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PAULO MULAZA | EDIÇÕES NOVEMBRO A proposta de revisão pontual da Constituiç­ão da República vai à votação final na terça-feira

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