Fases da angolofobia
A angolofobia, muitas vezes (mal) disfarçada, embora antiga, que se avolumou logo aos primeiros sinais da queda do regime colonial, reacendeu-se, agora, designadamente em Portugal, com manifestações, inclusive de auto-apregoados defensores de Angola.
Em Angola, logo a seguir ao 25 de Abril de 1974, parte dos colonos - não a maioria, refira-se em salvaguarda da verdade - quis reinventar “Fevereiro de 61”, quando, por exemplo, em Luanda, formaram milícias para “garantir a ordem”... deles, claro, mas saíram-se mal. Em breve engrossaram as filas no aeroporto de regressos às terras de origem. Juntaram-se-lhes multidões, uns com pesos de consciência, outros, pelo medo feito de boatos.
Antes das esperas dos aviões que os transportaria à borla para Lisboa, fomentados por interesses partidários portugueses, os dois grupos ocuparam literalmente a avenida Marginal com camiões a abarrotar de caixotes, com tudo o que podiam levar. Houve quem destruísse o que não conseguiu emalar. Na terra que os acolhera, à qual muitos chegaram com uma mão à frente e a outra atrás, não deixavam nada. Restou houve uma minoria, que foi embora sem nada, apenas com medo do desconhecido.
Dos que deixaram Angola, naquela altura, pouquíssimos levantaram a voz contra o culpado da situação que viviam: o regime colonial, cujos responsáveis lhes mentiam, quando lhes falavam do “Portugal uno e indivisível, do Minho a Timor”. Salazar e apaniguados serviamse da ignorância que caracterizava parte substancial dos portugueses para se manterem no poder, beneficiando uma pequena elite.
Os antigos angolófobos, que sempre os houve no país colonizador, viram, de repente, o coro aumentado pelos chamados retornados que, desocupados, com cama, mesa e subsídios, sem terem de “vergar a mola”, ocupavam parte dos dias a destilar ódios contra Angola e angolanos. Depois, uns emigraram de novo. Então, para Europa e Américas. Os restantes, com mentes mais abertas pelos horizontes que se lhes abriu durante a estada na terra da qual dizem mal, fizeram-se à vida, criaram pequenos negócios, “modernizaram” aldeias, vilas, até cidades, voltaram a sentir-se superiores. Mas, isso são capítulos da nossa História recente que está por contar.
A algazarra de aversão a Angola e angolanos foi esmorecendo, à excepção de alguns órgãos de comunicação social, certas formações políticas e pequenos grupos de ressabiados.
A alteração do cenário foi de tal modo, que alguns dos que, após o 25 de Abril de 1974, abandonaram Angola, dizendo o piorio dela, regressaram. Para isso, esconderam intentos e gritaram elogios a “Angola modernizada” povoada de hábitos e bens importados, mesmo os poucos que produzíamos. Viviam como jamais lhe passara pela cabeça, ganharam simpatias dos donos do poder instituído e dos que lhes eram mais próximos. Bajular nunca lhes foi avesso. Até que a crise económica, que abalou o mundo, chegou a Angola, pondo a nu o país real, sem aquilo que devia ter sido feito e não foi e o que foi e não devia.
Os mentores do país falho do essencial, porque os dinheiros públicos tinham sido esbanjados por um pequena burguesia inculta e egoísta, começaram a sentir o chão fugir-lhes dos pés. Perceberam que os tempos da roubalheira impune tinham os dias contados. Por isso, em desespero, tentaram inverter os papéis. De gatunos quiseram passar a vítimas. Uns puseramse ao fresco, outros foram impedidos ou passaram a viver em sobressalto, cientes que, a qualquer momento, podem ser chamados a prestar contas.
No estrangeiro, com tudo isto, a algazarra da angolofobia volta a dar sinais. Para os porta-vozes desta infâmia - os mentores não dão a cara, pagam para os representarem - quem não faz corro com eles, é contra Angola. De certeza, a deles, não a da maioria.
No estrangeiro, com tudo isto, a algazarra da angolofobia volta a dar sinais.
Para os porta-vozes desta infâmia - os mentores não dão a cara, pagam para os representarem quem não faz corro com eles, é contra Angola. De certeza, a deles, não a da maioria