Ovo podre não é pinto
A semana passada, depois de acabar um romance, dei férias e vi muito televisão mudando de canal para canal e cada vez mais encontrando coincidência com a política e os filmes de violência que assaltam a noite com aquela luzinha vermelha no canto superior do écran a convidar o que é proibido. É quase sempre droga, crime, violência, vilões e heróis com negros detectives e mulheres mestiças por quem o branco marido arrisca a vida pela mulher e filho, numa atitude de produção de cinema integracionista com os afro a entrarem pela pior porta.
De resto a crise de governança e lideranças das democracias que não admitem outros sistemas e, por vezes são a negação de si próprias como Jair da cloroquina exibida, do negacionismo que se mostra ao povo sem máscara, faz passeatas do motoqueiros, enquanto o povo acorda e acusa-o de genocídio, caso impar em todo o mundo com fundamentalismos religiosos na retaguarda da frente enquanto o povo, num gesto poético de maturidade cívica coloca 500.000 rosas nas areias da praia de Copacabana e o representante brasileiro na OMS fala no respeito pela ciência, no crescendo na vacinação e omite os 500.000 mortos actual record mundial e aquele anúncio que somos o maior produtor mundial de soja, de suco de laranja, de carne bovina e frangos… e a maior área verde, pulmão mundial. Emocionei-me ver Chico Buarque numa manifestação popular contra o genocídio e a mentira contumaz.bolsonaro é como é. E há que respeitar uma coisa: foi eleito pelo povo brasileiro. Mas tem outra verdade: o Brasil é um imenso continente como se diz em seu belo Hino Nacional.
Ainda Macron a levar uma chapada, noutro canal parecia o campeonato africano de futebol mas afinal era a selecção da França e quando desfilaram negros por todas as selecções até a da Alemanha, lembrei-me das Olimpíadas de Berlim quando um americano negro ganhou ouro e Hitler abandonou a tribuna… ai se o muata estivesse aqui agora do “Alemanha acima de tudo”….trump com “América acima de tudo” e Bolsonaro com o Brasil acima de tudo” com o acrescento “desta cadeira só Deus me pode tirar”… que bem podia ter cantado aquela marchinha “daqui não saio, daqui ninguém me tira.” Na CPI (Comissão Parlamentar ou para lamentar de Inquérito) um senador governista colocou ordem falando: “O presidente está no lugar porque foi eleito, portanto, em todas essas tratativas vossilências não podem esquecer que foi o povo brasileiro que elegeu ele.” E agora?
Televisão nossa, tive sorte. Não estavam fazendo ritmo. Uma apresentadora que parece merecer um écran maior, falou com todo o peso da palavra que Portugal andava a meterse nos nossos assuntos e que nós aqui nem comentamos a “operação marquês” ou outras. Aplaudi, assim é que se fala. No dia seguinte fui vasculhar na net e fiquei boquiaberto: MIDIA PORTUGUESA ESTREMECE COM O ENVOLVIMENTO ANGOLANO.
O capital angolano (diga-se de milionários angolanos) investido em Portugal aumentou 35 vezes na última década, situação que em alguns círculos é denominada por “colonização inversa.”hoje os mi-angolanos não açambarcam só no sector bancário, de telecomunicações (recordar Isabel dos Santos principal investidora da portuguesa de telecomunicações e multimédia ZON)E empresas de energia mas atacaram a mídia.
Assim acontece com o grupo Newshold, propriedade da Pineview Overseas, offshore com sede no Panamá com poderosos angolanos acionistas, controlando o Sol, terceiro maior semanário português, participações em revistas de referência como Visão e Expresso, ainda Correio da Manhã, tabloide de maior circulação, mais no económico Jornal de Negócios.
O susto maior para os jornalistas portugueses está aí: se o governo privatizar a RTP ( Rádio e Televisão Portuguesa) os mi-angolanos podem atacar… quase todos usando tambémde passaporte português…
Os investidores, por regra, fazem retornos para o seu país de origem. Simplificando, a Africell chegou a Angola, vai empregar cinco mil jovens com transferência de Know How (passagem de conhecimentos aos angolanos, quer dizer, cooperantes fora). Os milionários angolanos em Portugal não têm a mínima dignidade como os pobres cabo-verdianos trabalhando no estrangeiro e fazendo remessas de emigrantes para a sua terra de crecheu.
Os estudiosos de ciências sociais já estão a segurar a matéria de como uma ex-colónia, continua devedora, com o povo passando fome e…uns artistas cantam em Lisboa e outros compram Portugal…
A maka que estamos com ela, por esse mundo fora, é a confusão entre o ovo podre e o pintainho. Na minha infância, quando abria um ovo para fritar na banha, sempre que me saía um podre, um primo meu mais velho uns quatro anos estigava que ovo podre é pinto. Eu, bem avisado, respondia nicles porque ovo podre não tem asas pintainho tem, é lindo, amarelo e canta bonito.
Esse é o erro ou experiência que Portugal tem. Deixar os milionários navegar à bolina até a tempestade que disso os tugas conhecem melhor os mares e as ventanias. E sabem que não são pintos mas ovos podres e omelete não sobra para nós, nem cascas para cálcio.
Felizmente, as Pérolas deram-me a alegria de cantar “Sou angolano é tã sabroso…” desta vez sem chorar porque ganhámos a rir e eu sentado que nem um Ngola Kiluanji. Ganhámos demais. Mas como? A escassez e a criatividade. É verdade que nas horas difíceis conseguimos mais, lembro-me sempre do poema de Agostinho Neto, escrito na cela 13 da cadeia do Aljube em que é tudo mais. Foi nas horas difíceis que inventámos grupos de dança nos terraços de Luanda, os caçulinhas da bola, os quadros humanos nas escolas e tudo com a vontade popular.
Parece que o filão das Pérolas era no Lobito onde as meninas passavam muito tempo na praia inventando andebol. Aprendi isso no Brasil com o Santos e a miudagem dos Neymares a inventarem futebol na praia, diferente das escolinhas, uns são da arte e os outros da indústria. As nossas Pérolas são da arte. O basquete perdeu o filão: eram as tabelas espalhadas pela cidade que desapareceram. Resultado: subimos para baixo.
Gostei do discurso da ministra Cerqueira e da Pérola que falou. Porque não tinham política. Tinham o nosso coração. O coração de Angola!
Felizmente, as Pérolas deramme a alegria de cantar “Sou angolano é tã sabroso…” desta vez sem chorar porque ganhámos a rir e eu sentado que nem um Ngola Kiluanji. Ganhámos demais.
Mas como? A escassez e a criatividade. É verdade que nas horas difíceis conseguimos mais, lembrome sempre do poema de Agostinho Neto, escrito na cela 13 da cadeia do Aljube em que é tudo mais