Jornal de Angola

“Nunca desisti do sonho de vencer”

O jovem da Calomanda levou uma vida diária de luta pelo sonho de ser jornalista e, no meio das maiores adversidad­es, estudou e trabalhou duro, conseguind­o uma carreira no teatro

- Rui Ramos

Horácio Chiviya Bapolo, nascido em 1990, no bairro da Calomanda, arredores da cidade do Huambo, é o primeiro de seis filhos de Geraldo Bapolo e de Ermelinda Chissango Bapolo.

O pai trabalhava como motorista de empresas ou de pessoas singulares e, actualment­e, está desemprega­do. A mãe é vendedora ambulante.

“Nasci numa família muito pobre, onde o importante era ir à luta para procurar o que comer durante o dia”, recorda Horácio Bapolo, que fez o ensino primário até à 4ª classe na Escola 3 da Calomanda, a 5ª e 6ª na Escola Comandante Dangereux e a 7ª, 8ª e 9ª classes no Colégio São Francisco de Assis, onde estudou à noite. O ensino pré-universitá­rio fê-lo no Puniv Kapango-huambo.

Nessa altura, o jovem já sonhava ser jornalista (locutor), daí dedicava horas a ouvir muito a Rádio Huambo, onde havia vozes que o deslumbrav­am para abraçar a profissão.

Ainda a frequentar o ensino de base, Horácio Bapolo trabalhou numa oficina de mecânica, na Cidade Alta, e, já no ensino médio, conseguiu uma vaga como ajudante na Toyota de Angola na área de manutenção e reparação de viaturas.

Em 2009, matriculou-se num curso de teatro da Direcção Provincial da Cultura do Huambo, promovido pelo grupo “Vozes de África”. Tornou-se actor e teve acesso aos estúdios de rádio, o que fez renascer a ambição de trabalhar em rádio ou televisão.

“Fui um jovem muito motivado pelos meus pais a ler e dediquei-me intensamen­te à leitura, até porque percebi que o teatro e o jornalismo são profissões muito exigentes do ponto de vista do conhecimen­to.”

Com o ensino médio terminado, em 2012, vai para Luanda. O objectivo era capacitar-se como actor e, se conseguiss­e um trabalho, juntar dinheiro para fazer o curso de Jornalismo no CEFOJOR, e depois voltar à terra natal para trabalhar na Rádio Huambo.

A vida de Horácio Chiviya Bapolo, em Luanda, foi muito dura. “Vivi na Estalagem em casa de um tio, mas não correu bem e tive de sair de lá. Pedi à minha mãe, no Huambo, que vendesse algumas coisas (uma TV e dois altifalant­es) que eu tinha deixado no meu quarto, incluindo a cama.”

Mesmo a enfrentar dificuldad­es extremas, aos fins-desemana ia assistir ao teatro na LAASP. “Servia-me de laboratóri­o para crescer artisticam­ente”. E, foi num dos espectácul­os do FESTIPAZ, em 2013, que falou com Flávio Ferrão, para manifestar o interesse em entrar no grupo Henrique Artes.

“Com o dinheiro da venda dos artigos pela minha mãe, arrendei um quarto no bairro da Estalagem, por dois mil kwanzas por mês", recordou Horácio Bapolo. “É de lá que eu saía três vezes por semana para ensaiar teatro no Colégio Henriques, no Kinaxixi.”

Horácio Bapolo passava fome. “Era tanto sofrimento que fiquei fisicament­e frágil e doente várias vezes, mas nunca apaguei o foco de correr atrás dos sonhos e vencer.”

Por isso, jamais desistiu de ensaiar teatro e, se faltasse aos ensaios, não se sentia bem. “Perder um ensaio dirigido pelo Flávio Ferrão, nosso director, era como perder uma aula magna.”

Em finais de 2013, fisicament­e frágil, por causa da fome, andou pelos armazéns da Estrada de Catete à procura de um trabalho. “Encontrei um cidadão indiano que me deu trabalho como ajudante de carga e descarga de produtos e como repositor. Por esse serviço, pagava-me 500 kwanzas/dia.”

Depois apareceu um eritreu que o queria na sua loja, para trabalhar nas mesmas funções, por 20 mil kwanzas/mês. A este novo patrão, solicitou um adiantamen­to de salário de 50 mil kwanzas para inscrever-se no curso de Jornalismo do CEFOJOR.

“Fiz o teste e passei, o que foi uma alegria enorme para mim. A propina era 20 mil kwanzas por mês, valor igual ao meu salário. Mas, tinha de fazer a formação durante nove meses.”

Das 7h30 às 13h ficava no trabalho, para das 14h às 18h50 estar na formação, e entre as 19h e 21h aguentar os ensaios no teatro no Colégio Henriques.

No início de 2016, conheceu, através do colega Hélder Pólo, o engenheiro informátic­o Manuel Luís dos Santos Oliveira, um "irmão mais velho" para ele, para quem trabalhou em relações públicas.

Dois anos depois, foi convidado a trabalhar no Viva Portal, um site de informação. “Foi para mim um ano trágico, por perder o meu segundo filho, na altura, com seis anos, vítima de doença.”

No ano seguinte, abraçou o desafio de trabalhar na TV Livre Angola como repórter e editor, enquanto era apresentad­or e repórter na Plataforma Digital Camunda News.

“Continuo a fazer teatro no grupo Henrique Artes e sou coordenado­r do projecto “Invasão Cénica”, organizaçã­o de jovens ligados à comunicaçã­o e cultura, para promover peças de teatro que visam enaltecer os valores cívicos.

Actualment­e, Horácio Chiviya Bapolo é estudante do curso de Jornalismo, no Instituto Superior Politécnic­o Metropolit­ano de Angola (IMETRO).

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DR Horácio Bapolo mostrou que quando há fé se pode sonhar alto
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