Doença mostrou “falta de protecção das mulheres”
A pandemia
de Covid-19 mostrou “a vulnerabilidade e a falta de protecção das mulheres e quão pouco as sociedades se preocupam realmente em proteger elementos-chave em matéria de segurança”, considera Edit Schlaffer, directora-executiva da Women without Borders.
Em entrevista à Lusa, a responsável pela organização internacional sem fins lucrativos, que fundou em 2001, recordou que as mulheres estiveram na linha da frente do combate à pandemia, revelando-se “incrivelmente resilientes”.
Por isso, “não é justo” que “a maioria do trabalho mal pago” seja feito por mulheres. “Como é possível? Isto tem de mudar”, reivindica, em entrevista realizada por via remota.
Um estudo divulgado pelo Instituto Europeu para a Igualdade de Género, a 5 de Março, mostrava que o impacto da pandemia foi mais forte nas mulheres, nomeadamente com as “pesadas reduções de emprego em profissões dominadas por mulheres”, como é o caso dos sectores têxtil, retalho, alojamento, lares e trabalho doméstico.
As mulheres representam a maior fatia da força de trabalho nestes sectores e foi nestes que se perderam “40% dos empregos” femininos, apontava o relatório “Igualdade de género e as consequências socioeconómicas da crise de Covid-19”, preparado a pedido da presidência portuguesa do Conselho da União Europeia.
Na primeira vaga de Covid19, verificou-se uma redução de 2,2 milhões de empregos para as mulheres em toda a União Europeia - com Portugal a ser o quinto país com mais perda de trabalho feminino (dados do segundo trimestre de 2020).
Os homens perderam 2,6 milhões de empregos, mas a recuperação do trabalho no Verão beneficiou-os mais - as mulheres resgataram apenas metade dos empregos que os homens retomaram.
Isso significa que “o impacto económico da pandemia está a ter efeitos mais duradouros nas mulheres”, alerta o EIGE, sublinhando que as jovens (15-24 anos) são as mais vulneráveis.
Acresce que, com base em dados do primeiro trimestre de 2020, entre a população europeia que está a passar à inactividade - que, depois de ficar desempregada, não está a procurar emprego -, há mais mulheres em quase todos os Estados-membros (média de 40% vs. 33% nos homens). Também aqui Portugal ocupa a segunda posição, só atrás de Itália, no caso das mulheres, mas desce para sétimo no caso dos homens.