Ajuda militar da SADC deve demorar meses
A consultora NKC African Economics considerou, ontem, que o apoio da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) a Moçambique vai demorar meses, e que o número de tropas será menor do que o esperado. Segundo a Lusa, num comentário à decisão da SADC, na quartafeira, de enviar tropas regionais para Cabo Delgado, esta filial africana da Oxford Economics escreve que “apesar da insurgência estar a custar ao Estado a realização de acordos de exploração de gás natural com companhias petrolíferas internacionais, até agora o país tem privilegiado a soberania face à segurança”.
Na análise, os analistas apontam que “o Governo de Filipe Nyusi está muito relutante em permitir o acesso de tropas estrangeiras à região, aceitando apenas ajuda, treino e apoio logístico para a resposta à situação”. A NKC African
Economics alerta ainda que “os detalhes relativamente à força de intervenção rápida em Cabo Delgado ainda terão de ser acordados entre os Estados-membros” e lembra que “a própria força é ainda principalmente teórica, já que apesar de os mecanismos para a sua formação terem sido estabelecidos em 2007, uma força deste género só foi mobilizada uma vez, no Lesohto, em 2017”.
Neste caso, a força militar era inicialmente composta por 1.200 militares, mas este número acabou por ser reduzido para 258, lembram os analistas, comparando que para Moçambique há indicações não confirmadas oficialmente de que o número de tropas proposto pode chegar a 2.900.
A SADC, reunida na quarta-feira, em cimeira extraordinária, aprovou o mandato de uma “força conjunta em estado de alerta” para apoiar Moçambique no combate ao terrorismo em Cabo Delgado. A organização não avançou detalhes sobre a força que será enviada ao país nem datas, reiterando apenas que a “missão” é apoiar as forças governamentais moçambicanas no combate contra a insurgência no Norte de Moçambique.
Grupos armados aterrorizam a província de Cabo Delgado, Norte de Moçambique, desde 2017, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo jihadista Estado Islâmico, numa onda de violência que já provocou mais de 2.800 mortes, segundo o projecto de registo de conflitos ACLED, e 732 mil deslocados, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU).
A violência levou também a petrolífera Totalenergies a suspender os trabalhos de preparação para a exploração de gás natural em Cabo Delgado, de que o país depende para aumentar as receitas e relançar a economia. Ainda segundo a ONU, mais de 900 mil pessoas estão sob insegurança alimentar severa em Cabo Delgado e as comunidades de acolhimento estão também a precisar urgentemente de abrigo, protecção e outros serviços.