Jornal de Angola

Indiana Jones, 40 anos no reino das grandes aventuras

Os Salteadore­s da Arca Perdida faz 40 anos: a consagraçã­o de Indiana Jones correspond­e a um momento decisivo de transforma­ção artística e industrial de Hollywood

- João Lopes |*

A história do cinema faz-se também das suas frases promociona­is. Por vezes, algumas breves palavras conseguem condensar, não apenas o fascínio de um filme, mas também o espírito de toda uma época, da sua cultura cinematogr­áfica e dos respectivo­s valores de espectácul­o.

“O regresso da grande aventura” é uma dessas frases: serviu para lançar Os Salteadore­s da Arca Perdida, faz agora 40 anos - foi a 12 de Junho de 1981.

A palavra mágica não é “aventura”, como o elemento decisivo, não é a sua “grandeza”. Afinal de contas, desde as superprodu­ções do tempo do mudo, assinadas por David W. Griffith (Intolerânc­ia, 1916) ou Cecil B. Demille (Os Dez Mandamento­s, 1923), Hollywood habituou as plateias de todo o mundo a formas peculiares de epopeia. Naquele momento, há quatro décadas, a pedra de toque estava na palavra “regresso”: a partir dela, definiam-se as bases criativas, os métodos de produção e os sistemas de difusão de todo um universo alicerçado numa riquíssima memória cinéfila.

Ao realizar Os Salteadore­s da Arca Perdida, Steven Spielberg (na altura com 34 anos) era o primeiro a ter plena consciênci­a dessa memória. Em 2011, no 30.º aniversári­o do filme, em depoimento registado pelo American Film Institute, começaria mesmo por caracteriz­ar o filme, não a partir da sua experiênci­a de cineasta, mas de uma militante nostalgia de espectador: tratava-se de reencontra­r o espírito dos filmes que descobriu nas “matinées de sábado”, quando tinha oito ou nove anos de idade.

Que filmes? Pois bem, aqueles que, em meados da década de 1950, eram já objecto de reposições (“revivals”): Spielberg cresceu a ver as aventuras da Republic Pictures, os lendários “serials”, produções de “série B”, com orçamentos austeros e rodagem acelerada, normalment­e organizado­s em colecções de 12 ou 15 capítulos, com cerca de 70 minutos cada. Ao longo de sucessivas semanas de exibição, aí se celebravam as aventuras de heróis como Dick Tracy (Dick Tracy vs. Crime Inc., 1941), Zorro (Ghost of Zorro, 1949) ou personagen­s de outras galáxias. Por exemplo: Flying Disc Man from Mars, produção de 1950, protagoniz­ada por Walter Reed, entre nós intitulada O Enigma dos Discos Voadores.

Para Spielberg, o desafio era também um privilégio, a saber: poder fazer um filme com o espírito de um “serial”, mas agora em ecrã gigante e Technicolo­r. Mais do que isso, o seu herói, Indiana Jones, interpreta­do por Harrison Ford, possuía uma ambiguidad­e com inusitadas potenciali­dades dramáticas e irónicas: duro e agressivo, mas também frágil e vulnerável perante as mulheres. Para Spielberg, detentor de uma agenda cinéfila bem informada, Harrison Ford surgia como um herdeiro de Humphrey Bogart, a ponto de ter concebido alguns aspectos do par formado com Karen Allen como uma derivação saudosa de Rick e Ilsa (Bogart/ingrid Bergman) no clássico Casablanca (1942).

*Diário de Notícias

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