Crude angolano recupera valorização face ao Brent
Analista atribui evolução às características das ramas angolanas e aos esforços dos produtores para estabilizar o mercado mundial
O preço do petróleo bruto produzido em Angola recupera, desde o terceiro trimestre do ano passado, a tendência para permanecer sobrevalorizado, acima do preço do Brent datado, a rama internacional de referência para as vendas angolanas.
A declaração é do analista do mercado petrolífero Gaspar Sermão, num texto dedicado ao “Impacto da Covid-19 no valor das exportações do petróleo bruto angolano e o papel da OPEP+”, a associação da Organização de Países Exportadores de Petróleo e produtores de fora do cartel liderados pela Rússia.
O analista, que ocupa o posto de consultor do secretário de Estado para o Petróleo e Gás, atribui a evolução recente do preço do crude, incluindo o das ramas angolanas, ao “papel preponderante da OPEP e seus aliados, no sentido de manter o equilíbrio da oferta e procura de petróleo no mercado”, que “contribuiu para inverter o enfraquecimento dos preços provocado pela pandemia da Covid-19”.
O marco dessa recuperação, aponta Gaspar Sermão, deu-se com a intervenção da OPEP+ na reunião extraordinária realizada no dia 9 de Abril de 2020, em que foi acordado um programa de cortes de produção de petróleo bruto, com uma redução inicial de cerca de 10 milhões de barris por dia.
Isso, recorda, permitiu o regresso do fortalecimento dos preços do petróleo bruto no mercado internacional, assim como ajudou à recuperação dos diferenciais de alguns tipos de petróleo bruto produzido em Angola, com ênfase para o terceiro e quarto trimestres.
A tendência do fortalecimento dos diferenciais do petróleo bruto angolano, manteve-se durante o primeiro trimestre de 2020, período em que a maior parte do crude de Angola foi comercializado acima do preço do Brent datado.
Mas, à medida que a pandemia se espalhava pelo mundo e face à falta de consenso em relação a novas reduções do excesso da oferta entre os países membros da OPEP e aliados (OPEP+), o período entre o começo de Março e o início de Abril de 2020 “deverá ser considerado, literalmente, como se a OPEP não existisse.
De acordo com Gaspar Sermão, naquele período, cada país membro da Organização produziu o máximo da sua capacidade”, conduzindo ao excesso de oferta e ao forte declínio da procura causado pela rápida expansão da Covid-19 em todas as regiões, com o encerramento das fronteiras em todo mundo.
Cinco dólares por barril
Observou-se uma significativa redução do preço do petróleo bruto no mercado internacional, tendo o preço do barril de Brent decrescido, em média, cerca de 45,39 dólares, passando da média mensal de 63,70 dólares, em Janeiro de 2020, para a média mensal 18,55, em Abril/2020.
O autor revela que, durante o segundo trimestre, os diferenciais das ramas angolanas deterioraram-se de forma tão drástica, que caíram para mínimos históricos: a rama Palanca chegou a ser vendida a 5,50 dólares por barril, abaixo do preço do Brent Datado.
“O enfraquecimento do mercado petrolífero provocou perdas monetárias significativas, na ordem de milhares de milhões de dólares, em consequência da diminuição do preço do petróleo bruto, bem como da depreciação dos diferenciais das ramas angolanas”, escreve o analista.
Isso contrasta com a situação dos preços observada em 2019, quando, à excepção do primeiro trimestre, o petróleo bruto angolano sobrevalorizou-se em relação ao preço do Brent datado, atingido mais de três dólares acima do preço da rama de referência internacional, como é o caso do crude produzido nos campos Girassol e Olombendo, nos Blocos 17 e 15 respectivamente.
A valorização do crude angolano beneficiou do início de implementação das Normas da Organização Marítima Internacional 2020, que consiste na redução do teor de enxofre nos combustíveis marítimos, uma característica atribuída a 93,8 por cento das exportações angolanas, segundo Gaspar Sermão.
O autor indica números que conferem a Angola a décima posição entre os maiores exportadores mundiais de petróleo de 2000 a 2018, com uma taxa de crescimento médio de 3,5 por cento.
Em 2018,exportou diariamente cerca de 1,4 milhões de barris por dia, correspondentes a 18 qualidades de petróleo, o que representou uma diminuição de 8,5 por cento em relação ao volume de exportações de 2017, algo que ficou a dever-se ao declínio da produção petrolífera.