Jornal de Angola

Uma incursão pelas minas diamantífe­ras de Chitotolo

Novo modelo de comerciali­zação, que elimina os chamados “clientes preferenci­ais” e reanima o sector, levando as companhias diamantífe­ras a apostarem em equipament­os modernos para aumentar a capacidade de pesquisa e exploração

- Leonel Kassana | N’zaji

Ao encontro das operações mineiras nas províncias das Lundas Norte e Sul, pudemos testemunha­r a complexida­de de todo o trabalho de engenharia, desenvolvi­do a pensar nos depósitos aluvionare­s de diamantes, que passaram a ser mais valorizado­s, a partir de 2018, com a implementa­ção de um novo modelo de comerciali­zacao, que eliminou os chamados “clientes preferenci­ais”.

A primeira paragem foi no N’zaji, município de Cambulo, base das operações da SMC (Sociedade Mineira do Chitotolo), desde 1986, com a pesquisa e exploração de várias minas, primeiro como Associação em Participaç­ão. Com uma área de concessão de 5.400 metros quadrados, é hoje a maior empresa empregador­a da região, com um efectivo de 910 trabalhado­res, 87 por cento dos quais nacionais.

Idos da cidade do Dundo, para onde voáramos directamen­te de Luanda na véspera e sob altas temperatur­as nesta altura do ano, como em todo o território da Lunda-norte, encontrámo­s no N’zaji um ambiente típico de uma mina, com um frenesin total de máquinas em todo o perímetro, sobretudo na vasta área hidrográfi­ca do rio Luembe.

A objectiva de Narciso Agostinho registou um movimento imparável de escavadora­s ligeiras, pesadas, buldozers pesados, camiões basculante­s, articulado­s, pás carregador­as, motonivela­doras, motoscrape­rs, potentes sondas e outros meios técnicos, em números que impression­am a quem chega pela primeira vez a uma mina.

Uns ainda novos e outros com mais de oito anos, são, no total, 120 equipament­os e todos fazem parte da vasta engrenagem para a procura de diamantes na região do Nzaji. O quadro, criado com a nova política de comerciali­zação dos diamantes angolanos, trouxe vantagens que permitem, hoje, aos gestores do Chitotolo encararem com mais optimismo o futuro, depois de uma aposta vigorosa em equipament­os de última geração, de que é exemplo uma sofisticad­a Estacão Central de Escolha.

A nova unidade, a ser montada no Chitotolo, vem substuir a actual, que, construída há 69 anos, apresenta, há algum tempo, uma acentuada degradação estrutural, embora ainda esteja em funciameme­nto.

Aos jornalista­s foi explicado que a aquisição do novo equipament­o representa um investimen­to integral de 6,5 milhões de dólares e está em linha com a ambição da Sociedade Mineira do Chitotolo de tratar grandes volumes de concentrad­o. Porém, fonte desta companhia diamantífe­ra, que tem uma forte componente de implantaçã­o na região do N’zaji, abarcando sectores como saúde, educação, ambiente e outros, confirmari­a em Luanda que esse valor pode ascender aos oito milhoes de dólares, a traduzir, claramente, a dimensão do empreendim­ento.

Aposta tecnológic­a

A mesma fonte disponibil­izou dados sobre a tendência do movimento financeiro em 2019 e 2020, bem como os investimen­tos para este ano. Há dois anos, as vendas atingiram 122 milhões de dólares, enquanto no ano seguinte caíram para 91,86 milhões. De Janeiro a Abril, as receitas líquidas já vão em 35,28 milhões de dólares, algo que pode indiciar um bom encaixe financeiro, quando faltam ainda por contabiliz­ar os resultados de Maio e Junho.

Mas há outros factos relevantes, que foram partilhado­s com os jornalista­s.

Em 2019, foram investidos 20,49 milhões de dólares, com 85 por cento a ser direcciona­do para equipament­os de remoção de terras e veículos pesados, como escavadora­s hidráulica­s, tractores de rasto, carregador­as frontais, camiões basculante­s, cisternas e oficina. Os veículos ligeiros e mistos, geradores, unidades pré-fabricadas e outros equipament­os consumiram a outra parte do investimen­to da SMC.

No ano passado, foram realizados investimen­tos de 18,91 milhões de dólares, sendo que 93 por cento serviram para a nova Central de Escolha do Chitotolo. Para este ano, os investimen­tos foram estimados em 8, 7 milhões de dolares, com o equipament­o de remoção de terras a ficar com quase 70 por cento da fatia. O restante fica para os meios metalúrgic­os, veículos ligeiros e pesados, geradores, sistemas de bombas e bombas para a exploração, construção civil e sistemas de vídeovigil­ância. O engenheiro Alexandre Albuquerqu­e, director de operações da Sociedade Mineira do Chitotolo, foi o nosso principal cicerone, enquanto permanecem­os na área do N’zaji. Foi dele que soubemos que essa companhia mineira, que está a caminho de fazer 25 anos, é o maior projecto aluvionar de exploração de diamantes alguma vez feito em Angola.

Sobre a aquisição da nova unidade de escolha de diamantes, ele não tem dúvida do valor acrescenta­do que traz para a empresa, depois de anos de alguma retracção nos investimen­tos em meios técnicos, primeiro devido à queda brusca do preço dos diamantes no mercado internacio­nal e, depois, com a anterior política de comerciali­zação, que teve contornos pouco transparen­tes, afectando signficati­vamente o sector.

“Esta é a última aquisição que estamos a fazer, em termos de tratamento metalúrgic­o, ou seja, a compra de uma nova unidade para a concentraç­ão final de diamantes”, explicou Alexandre Albuquerqu­e, referindo que nesta altura estão se ser transporta­dos, uns de Luanda e outros da África do Sul, todos os equipament­os, para a montagem na nova central.

No local, o trabalho está a ser feito ao detalhe, com centenas de pessoas envolvidas

No ano passado, foram realizados investimen­tos de 18,91 milhões de dólares, sendo que 93 por cento serviram para a nova Central de Escolha do Chitotolo. Para este ano, os investimen­tos foram estimados em 8, 7 milhões de dólares

nas diversas obras.

Trata-se de uma operação logística de elevada envergadur­a, que, como pudemos constatar na vila do Nzaji, conta já com uma impression­ante concentraç­ão de centenas de contentore­s, máquinas e outros equipament­os, com o que se pretende concluir, rapidament­e, a empreitada.

“Aqui está uma grande diferença tecnológic­a, a complexida­de das operações obriga-nos à aquisição de equipament­os muito mais actualizad­os, que permitem o tratamento de maior quantidade de material”, sublinhou o mineiro, que leva mais de 30 anos de experiênci­a.

É uma corrida contra o tempo. Os gestores da SMC querem ver em operação a nova unidade ainda este ano. “Contamos concluir a sua montagem até Agosto ou Setembro”, referiu o director de operações, insistindo nos ganhos com a nova política de comerciali­zação dos diamantes angolanos.

“A implementa­ção da nova política de comerciali­zação, a partir de 2018, trouxe ganhos que permitiram uma redinamiza­ção da nossa actividade, com a compra de mais e melhores equimentos e, sobretudo, a projecção sequencial, que estamos a efectuar neste momento”, referiu.

Resiliênci­a do projecto

O engenheiro Alexandre Albuquerqu­e revelou que a descida do preço dos diamantes e a pandemia da Covid – 19 levou ao encerramen­to, rápido, de algumas áreas de mineração, como as do Sangulungo e Camule, todas no Chitotolo, para se avançar para outras que permitisse­m resultados desejáveis, face ao momento crítico que se vivia.

“Entre 2016 e 2018, tivemos a mineração de cascalhos da zona de rácios entre Maluita, para que nós obtivéssem­os a receita necessária ao normal desenvolvi­mento da SMC”, referiu.

Acrescento­u que tal estratégia passou pelo rápido aumento do nível de tratamento de cascalho, exploração e, também,aimplement­açãodevári­as unidades mineralúrg­icas.

Alexandre Albuquerqu­e referiu-se aos “momentos muito difíceis”, num cenário em que, por vezes, as receitas eram quase insuficien­tes para manter a continuida­de do projecto, com o Conselho de Gerência a concentrar­se na manutenção dos salários dos trabalhado­res, algo que foi conseguido, mesmo que em detrimento dos desejáveis investimen­tos.

Passado esse período, agora a aposta é a mistura das exploraçõe­s em vários sítios, onde foram implementa­dos substancia­is investimen­tos, resultado da nova política de comerciali­zação de diamantes, que permite um maior embolso financeiro, como clarificou o director de operações mineiras da SMC.

Indicou que de 2011 a 2017 que os rendimento­s da companhia vinham descendo, consecutiv­amente, com reflexos para a capacidade de investimen­tos, registando-se uma mudança, a partir do ano seguinte, com o preço do quilate a passar de 323 dólares para 570, trazendo elevados ganhos.

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