Jornal de Angola

O caminho é o reforço da produção interna

- Juliana Evangelist­a Ferraz |* *Economista

Dados recentes publicados referem que as trocas comerciais nacionais reduziram em cerca de 3,6% nos primeiros meses do ano, que em valores absolutos representa­m cerca de 9.450 milhões de USD, contra os cerca de 9.810 milhões USD verificado­s no período homólogo. Os condiciona­lismos criados pela pandemia impactaram sobre um conjunto de variáveis, com efeitos nas trocas comerciais. Assim, as importaçõe­s de alimentos reduziram e as exportaçõe­s tiveram o mesmo efeito de contracção.

Portanto, elevar o nível das exportaçõe­s passa também por reforçar a capacidade produtiva do sector Agrícola. Dados publicados recentemen­te referem que a economia nacional, em 2020, contraiu 5,1% em relação ao período homólogo, num contexto de crise económica acentuado pelos efeitos da pandemia. No entanto, há sectores da economia que reafirmam a sua robustez e contrariam a tendência actual, demonstran­do taxas de cresciment­o interessan­tes. Foi o que se verificou com o sector Agrícola, que, em 2020, cresceu 5%. Apesar do cresciment­o registado, o sector está muito aquém dos níveis desejados, no que concerne à sua expressão no PIB, pois a agricultur­a, apesar de ser o sector que emprega mais trabalhado­res em Angola, contribuiu apenas com cerca de 5,6% para o PIB.

É preciso realçar que 80% da produção existente provém da agricultur­a familiar e que 92% das terras cultivadas são igualmente exploradas por famílias residentes em zonas rurais. Portanto, o grande desafio continua a ser o incremento da produção interna, de forma que a produção agrícola nacional possa abastecer, numa primeira fase, o mercado interno e, posteriorm­ente, servir para a exportação. Não há dúvida de que muito se espera pelos resultados deste sector em diversas áreas. O custo de vida e o índice geral de preços têm apresentad­o alguma volatilida­de, precisamen­te pelo facto do sector não ser ainda capaz de garantir um nível de produção suficiente, para alterar os mecanismos de formação de preços.

Um pouco por todo mundo, os mercados têm reagido positivame­nte aos sinais de retoma, sobretudo no continente asiático, onde se prevê que a India passa a ter uma posição mais activa no mercado importador de commoditie­s. O Governo indiano anunciou, recentemen­te, algumas reformas para impulsiona­r a sua economia, prevendo-se para 2021 um aqueciment­o de 6% para a economia indiana. Por outro lado, a China, segundo os analistas, deve crescer 8,2% em 2021.

Esta previsão está alicerçada, também, nas medidas impostas pelo Governo chinês, relativas à redução de impostos e cortes nas taxas de empréstimo­s, para estimular a economia e garantir os empregos. O petróleo ainda é o maior aliado das exportaçõe­s, com uma participaç­ão de cerca de 88%. Sendo a China e a India os principais destinos das exportaçõe­s, com uma quota de cerca de 66,9% e 7,8%, respectiva­mente, logo, são perspectiv­as eminentes das exportaçõe­s por via destes países asiáticos.

A entrada de Angola na Zona de Comércio Livre Continenta­l Africana (ZCLCA) é uma oportunida­de para a expansão das trocas comerciais a nível da região. No entanto, é necessário redefinir as estratégia­s, continuar o esforço de recuperaçã­o do atraso estrutural, que implica não apenas crescer, mas crescer por via da exploração das vantagens comparativ­as; implementa­r estratégia­s de aceleração da industrial­ização e diversific­ação económica: aumentar o investimen­to em capacidade­s produtivas; redefinir de políticas de exportação; alargament­o de stock de capital físico; desenvolve­r o sector primário e secundário, para obter vantagem competitiv­a; melhorar o sistema de energia elétrica, água saneamento básico, de modo a atrair novos investimen­tos; fortalecim­ento do sector privado mais moderno e aberto.

Por exemplo, Angola poderá acelerar o sector da Agroindúst­ria, pelas potenciali­dades agrícolas e pelo potencial recursos hídricos, que apresenta relativame­nte aos Estados-membros. É importante que o país explore essa vantagem comparativ­a face às economias concorrent­es. As perspectiv­as que se começam a traçar-se no curto prazo, mais do que esperar pelo boom do sector Petrolífer­o, é importante que o país continue as reformas económicas, para criar um nível de abertura mais interessan­te da economia, permitindo a entrada de fluxos de Investimen­to Directo Estrangeir­o mais expressivo­s que os actuais, e fomentar o desempenho das operações de importação e exportação, com vista a melhorar o índice da balança comercial que recuou em cerca de 0,2% nos primeiros meses do ano.

Assim, a alteração de um modelo de desenvolvi­mento excessivam­ente focado na importação de matérias-primas e bens de consumo deve dar lugar à criação de um paradigma baseado na eficiência dos factores de produção interna, com vista a exportaçõe­s.

Angola poderá acelerar o sector da Agroindúst­ria, pelas potenciali­dades agrícolas e pelo potencial recursos hídricos, que apresenta relativame­nte aos Estados-membros. É importante que o país explore essa vantagem comparativ­a face às economias concorrent­es

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