Rebeldes impõem condições para aceitar o cessar-fogo
As forças rebeldes da região de Tigray, na Etiópia, comunicaram, ontem, que aceitam um "cessar-fogo de princípio", mas impõem uma lista de condições apertadas para o formalizarem.
"Sujeito à garantia, a toda a prova, de que a segurança do nosso povo não será comprometida por uma segunda vaga de invasões, aceitamos um cessar-fogo de princípio", disse o "Governo do Tigray", em comunicado, citado ontem, pela agência de notícias Efe.
"Porém, antes de formalizar um acordo de cessarfogo, os problemas espinhosos que se seguem devem ser resolvidos", frisou, enumerando condições.
Entre elas está a retirada, para "as suas posições antes da guerra", das forças eritreias e amhara (grupo étnico da Etiópia) que apoiam o Exército etíope na operação militar desencadeada há oito meses contra as autoridades locais da região do Norte. Mas também há exigências políticas, como a reposição no poder do "Governo democraticamente eleito de Tigray".
A região de Tigray é palco de combatesdesdequeoprimeiroministro etíope, Abiy Ahmed, enviou o Exército, no início de Novembro, para derrubar o Executivo local, da Frente de Libertação do Povo de Tigray.
O Primeiro-ministro - Prémio Nobel da Paz 2019 - acusa os dirigentes locais de terem orquestrado ataques a bases militares, o que estes desmentem. Os rebeldes querem ainda que Abiy Ahmed e Issaias Aferworki, Presidente da Eritreia, sejam responsabilizados pelos "danos que causaram" e que as Nações Unidas criem uma Comissão de Inquérito independente para apreciar os "horríveis crimes" cometidos nos últimos meses.
As forças de Tigray exigem ainda a "distribuição, sem entraves, da ajuda humanitária, a partir de todas as direcções e por todos os meios de transporte" e o retorno de todos os deslocados. As autoridades rebeldes reafirmam o "apoio sem reservas" à ajuda humanitária e dizem poder garantir a segurança dessas operações.
Vários países e as Nações Unidas já apelaram a um cessar-fogo, para permitir que a ajuda humanitária chegue à população. No sábado, o Secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, apelou a um "cessar-fogo autêntico" e reclamou "acesso humanitário a todo o território". A organização denunciou, nos últimos dias, dificuldades em chegar às pessoas que estão a necessitar de assistência.
Segundo dados divulgados na sexta-feira pelas Nações Unidas, cerca de 400 mil pessoas estão em situação de fome na região de Tigray, e outras 1,8 milhões em risco.
Depois de em 28 de Junho as Forças de Defesa de Tigray terem recuperado a capital regional, Mekele, o Governo federal decretou um "cessarfogo unilateral". Em seguida, recuperou o controlo de uma grande parte de Tigray. Addis Abeba tem rejeitado dialogar com os líderes das TPLF.