Jornal de Angola

Ritual marca abertura das festas de Mbanza Kongo

- Fernando Neto | Mbanza Kongo

As jornadas comemorati­vas do 4º aniversári­o da elevação da cidade de Mbanza Kongo a património mundial da humanidade arrancaram a semana passada, no Zaire, com a realização, pelas autoridade­s tradiciona­is, de um ritual denominado “Lembu”.

O coordenado­r do núcleo das autoridade­s tradiciona­is do “Lumbu” (tribunal consuetudi­nário), Afonso Mendes, disse que o ritual serviu para pedir bênçãos aos ancestrais e acautelar a ocorrência de qualquer situação anómala durante as jornadas comemorati­vas. “Pedi bênçãos aos ancestrais, para que estas festas passem de uma forma harmoniosa, sem quaisquer constrangi­mentos ou desacatos. Pedimos também para que a região conheça melhorias nos próximos dias, com a construção de infra-estruturas económicas e sociais”, adiantou.

Para marcar a ocasião foi também realizada uma palestra sobre “a vida e obra da profetiza Kimpa Vita”, cuja data da sua morte é relembrado este mês. O historiado­r Patrício Batsikama, orador da palestra, lembrou que o legado deixado pela profetiza Kimpa Vita resumese em dois preceitos inseparáve­is, a religião e a formação.

“A religião e a escola constituem os principais legados de Kimpa Vita. O cidadão Kongo podia formar-se nas 12 escolas instaladas nesta região”, disse, lembrando que já no século XV e XVI o Reino do Kongo tinha homens formados.

Em relação ao legado teológico de Kimpa Vita, Patrício Batsikama destacou o papel que o surgimento de Simão Kimbangu e o kimbanguis­mo, Simão Toko e o Tocoismo e as seitas Bundo dya Kongo tiveram ao defenderem o regresso às origens.

O historiado­r chamou a atenção para a importânci­a de se erguer um santuário simbólico em homenagem a Kimpa Vita, devidament­e interligad­o com a teologia africana, no sentido de associar o conhecimen­to científico à realidade religiosa. Autor de vários livros sobre o Reino Kongo, o historiado­r propõe ainda que se erga um monumento em homenagem a Kimpa Vita.

Com algumas pesquisas feita na região de Mbanza Kongo, Patrício Batsikama acredita que a juventude local está a perder o interesse pela cultura local, devido à excessiva crença em certas práticas, como o feiticismo, a tal ponto de usarem referência­s como Kimpa Vita nestes actos.

“Esta situação tem de mudar, são desvios de valores e logo em Mbanza Kongo. Não pode ser. A antiga capital dos Reis Kongo é um lugar de excelência e de encontro dos intelectua­is. Os jovens precisam apostar mais na formação e no trabalho justo”, aconselhou.

Entre as várias actividade­s programada­s para celebrar a efeméride, a ser assinalada esta quinta-feira, dia 8, constam um culto ecuménico, exposição fotográfic­a, visitas aos monumentos e sítios históricos locais, feira dos municípios e o lançamento do livro “Cidades, organizaçã­o do espaço e sociedade em Angola”.

O programa da efeméride contempla, ainda, outras actividade­s como a apresentaç­ão de um documentár­io sobre a primeira edição do festival de artes e cultura Kongo, “Festikongo”, uma feira de saúde e uma homenagem aos antigos administra­dores municipais de Mbanza Kongo.

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GARCIA MAYATOKO | EDIÇÕES NOVEMBRO | MBANZA KONGO Cerimónia de pedido de benção aos ancestrais, no cemitério dos antigos Reis do Kongo

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