A minha Lista de estátuas
Neste deambular da vida tenho gravado vários nomes para a minha Lista de Estátuas, dedicadas àquelas pessoas que, a partir da minha consciência, decidi criar, uma a uma, de tempos a tempos, primeiro, para adubar a minha própria personalidade. Umas consolidadas na juventude, outras, surgidas no acaso de vida adulta, num longo percurso que se vai tornar já exausto. A bem ou a mal, porque foram escolhidas pela minha consciência, vão permanecer na memória, enquanto eu viver. Depois disto, sendo minhas estátuas, desaparecerão, evidentemente, comigo. O desejo seria que as novas gerações as conhecessem para e, se concordarem comigo, as perpetuarem com alguma placa numa ruela,das tantas das cidades e vilas que temos por aí vazias de nomes angolanos. Pois, algumas delas, até, não por vontade própria, continuam a memorizar aqueles que cuspiram sobre nós. As crianças das gerações vindouras soletrariam alguns nomes da minha
Lista de estátuas e eu morreria mais descansado, por ter cumprido o dever de a tornar pública.
Aconteceu em tempos não muito recuados, na apresentação de um documento da minha área ao Grupo Parlamentar do MPLA na ausência da Titular. A discussão sobre o mesmo tornou-se acesa, devido a uma intervenção de um camarada que gostava de acender as discussões. Gostava e gosta, repito, muitas vezes, até com brio. Naquele dia, acendeu a discussão sobre o tema que eu tinha acabado de apresentar. Orientava a mesma sessão o Camarada Ferreira Pinto. Intervém aqui , intervém, acolá, o assunto que parecia simples tornou-se, minuto a minuto, muito complexo, assim acontece, quando surgem muitas intervenções sobre um tema nos parlamentos. O Camarada Ferreira Pinto, afinal, estava a tomar notas de tudo. Naquele seu jeito que lhe era peculiar interveio, finalmente, afirmando: camaradas, esta matéria não merecia tanta discussão, porém, pelo nível de debate que já atingiu, vou remetê-la à consideração superior. A sala ficou surda e muda. Foi, assim, que o Camarada Ferreira Pinto entrou na minha memória. Vezes seguidas, quando nos encontrávamos no corredor da sede do MPLA, aproximava-me a ele, eu inventava uma conversa e falávamos amenamente, como se nos tivéssemos conhecido já muito tempo. Falei dele com o meu filho e este disse: olha ele é mesmo assim, bom camarada. Um dia, interpelei-o, fazendo-lhe recordar a discussão que surgira no dia de apresentação do tema ao Grupo Parlamentar do partido. Voltou-se para mim, calmamente e disse: camarada, são ossos do ofício. Depois, não o perdi mais, segui os seus passos e, pergunta aqui, pergunta acolá, o Camarada Ferreira Pinto entrou na Lista das minhas estátuas que a Pátria deveria erguer, evidente, a partir da aprovação da Assembleia Nacional. Prometo propô-la a esse órgão de soberania do povo. E, estejas FIRME,CAMARADA FERREIRA PINTO,LÁ no santo etéreo,porque o teu nome não será riscado.
Até sempre! A nação vos reconhecerá.