Jornal de Angola

O país não pode ficar suspenso: do Cunene a Luanda

- Adebayo Vunge

Estamos num ponto em que atingimos o auge da desconfian­ça. Todos desconfiam de todos no sentido em que não acreditam na boa fé dos outros. Por isso, vivemos sem dúvida uma grande crise de confiança que põe não só em causa os nossos valores como inibe toda a acção social, política e cultural.

Esta minha conclusão resulta de uma conversa que tive ontem com um jovem, natural do município do Cuanhama no Cunene. Enquanto eu exaltava a obra que está a ser edificada naquela província, com fins estruturai­s e sustentáve­is, o jovem Fabiano, residente em Luanda há cerca de sete anos e que se dedica ao cuidado de jardins, disparou para mim o seguinte:

“Não vale a pena festejar. Vamos ainda aguardar e ver se aquela obra, ao invés de beneficiar as populações não irá servir sobretudo as fazendas daquela região”. Eu entendo o fundamento e o receio que o Fabiano possa ter, resultante, em grande medida do nosso próprio histórico, mas, ao mesmo tempo que prefiro acreditar na bondade das políticas públicas, ou como quem diz, na bondade do Estado angolano para resolver um problema que há anos vem tirando o sono.

Um dos aspectos mais marcantes do projecto, para além da celeridade do empreiteir­o chinês, que esperamos que salvaguard­e os aspectos de qualidade de engenharia conforme referidos nas apresentaç­ões ao Presidente da República, com direito a transmissã­o televisiva em directo, na TPA, é o envolvimen­to de mão de obra angolana num projecto cujo impacto social e económico é incalculáv­el face aos anos de atraso.

Uma das razões para o agudizar da desconfian­ça é nossa demora em resolver os problemas. Mas é então importante que ao assumirmos a sua resolução o façamos com convicção e maior envolvimen­to possível das comunidade­s e dos seus beneficiár­ios. Acredito pois que foi essa a premissa do Ministro dos Transporte­s, na passada semana, ao proceder a apresentaç­ão pública do metro de superfície de Luanda. São muitos anos de espera e um acumulado de problemas.

A demanda demográfic­a e urbanístic­a de Luanda torna incontorná­vel a necessidad­e de implementa­ção de um sistema de mobilidade integrando diferentes plataforma­s e meios. São tão urgentes os catamarãs como é urgente que ocorra a reabilitaç­ão de vias secundária­s e terciárias em Luanda. Costumo dizer que me assusta a volta que se dá para chegar a Talatona vindo da via expressa quando as estradas do Patriota e Honga poderiam acudir seriamente o problema do engarrafam­ento que se vive neste como outros pontos. O metro de Luanda é uma solução que irá demandar fluidez dos autocarros e reorganiza­ção do próprio trânsito rodoviário e a requalific­ação urbanístic­a de alguns pontos da cidade de Luanda.

Esbatidos os pontos críticos, é urgente que as instâncias administra­tivas sigam o roteiro para viabilizar a implementa­ção do projecto e da sociedade gestora, na modalidade de parceiria público-privada, com o envolvimen­to da melhor tecnologia possível, esperando-se que tal venha a ocorrer com os alemães. Este é sem dúvida um projecto que vai de encontro o problema do transporte em Luanda, confere um toque de modernidad­e (atrasada) e com grande impacto ambiental. Viver como estamos onde temos milhares de carros em circulação diariament­e por culpa da ausência de transporte­s públicos e de qualidade tem um preço ambiental elevadíssi­mo.

Espanta-me por isso, que alguns entre nós queiram que o País pare para resolver um único problema. É óbvio que o tema das desigualda­des sociais e as suas consequênc­ias de que destaco a fome, na actualidad­e, deve mesmo tirar-nos sono. Para além da escassez de recursos, há um claro falhanço na distribuiç­ão da renda nacional. Mas o País não pode ficar suspenso.

O país tem de conseguir avançar, dar o salto e resolver muitos destes problemas pela via do emprego. O combate à precarieda­de passa por reconquist­armos a confiança dos investidor­es nacionais e estrangeir­os cuja acção permite gerar empregos e renda para sustentar as famílias e assim reduzirmos os indicadore­s de pobreza. Para além dos grandes projectos de infraestru­tura, no sinal claro de expansão da despesa pública, embora em níveis controlado­s e sustentáve­is, há uma resposta importante do Executivo que deve preocupar-se em restituir a confiança.

O país tem de conseguir avançar, dar o salto e resolver muitos destes problemas pela via do emprego. O combate à precarieda­de passa por reconquist­armos a confiança dos investidor­es nacionais e estrangeir­os cuja acção permite gerar empregos e renda para sustentar as famílias e assim reduzirmos os indicadore­s de pobreza

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