Jornal de Angola

25 anos - prioridade­s e desafios de um caminho conjunto

Hoje, continuamo­s comprometi­dos com a concretiza­ção de reptos fundamenta­is, já presentes na altura da criação da CPLP, em 1996

- Francisco Ribeiro Telles |* *Secretário Executivo da CPLP

A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) faz 25 anos no próximo dia 17 de julho. Comemora o seu aniversári­o em Luanda, capital de um Estado-membro fundador da CPLP.

Muito se passou na nossa vivência em comum neste quarto de século. Alguns dos nossos países superaram as mais diversas adversidad­es e lançaram-se na luta pela estabilida­de e o progresso das suas sociedades. Agregámos novos Estados-membros, como Timor-leste, que corajosame­nte alcançou a sua independên­cia, e intensific­ámos a concertaçã­o a nível internacio­nal, logrando lugares cimeiros e uma voz cada vez mais assertiva em organismos centrais da governança mundial.

Refinámos a arquitetur­a institucio­nal e os procedimen­tos e métodos de trabalho da CPLP. Alargámos e aprofundám­os a nossa cooperação nos mais diversos domínios, da educação à saúde, do ambiente à defesa, do desporto à agenda digital. Alcançámos um reconhecim­ento sem precedente­s da Língua Portuguesa como idioma global - falada hoje por 260 milhões de pessoas e com um cresciment­o estimado até aos 500 milhões no final deste século, mais acentuado sobretudo no continente africano.

Em suma, passámos a conhecer-nos melhor, aprendemos a superar paradigmas históricos, marcados inclusivam­ente por estereótip­os e ressentime­ntos, e, por nos reconhecer­mos uns nos outros neste mundo cada vez mais global, escolhemos reforçar os laços políticos e trilhar, conjuntame­nte, o caminho da convergênc­ia em prol de objetivos comuns, consensual­mente fixados.

Ao longo destes 25 anos também enfrentámo­s múltiplos desafios: o reconhecim­ento da pluricentr­alidade da nossa língua; o aprofundam­ento do respeito mútuo e da partilha de experiênci­as entre os nossos povos; ou o enriquecim­ento da nossa relação multilater­al com os contributo­s de processos de integração regional nos quais cada um dos nossos Estadosmem­bros está empenhado (Angola e Moçambique na Comunidade de Desenvolvi­mento da África Austral, Brasil no Mercosul, Cabo Verde e Guiné-bissau na Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental, Portugal na União Europeia e, no futuro, Timor-leste na Associação de Nações do Sudeste Asiático).

Hoje, continuamo­s comprometi­dos com a concretiza­ção de reptos fundamenta­is, já presentes na altura da criação da CPLP, em 1996. Como fortalecer o sentimento de pertença dos nossos cidadãos à CPLP? Como fomentar um diálogo ainda mais franco, aberto e consequent­e entre as nossas instituiçõ­es? Como estabelece­r um ambiente de negócios que estimule as trocas comerciais e os investimen­tos no espaço da CPLP? Como suplantar as disparidad­es económicas entre os nossos países e valorizar a nossa riqueza e o nosso potencial, seja em termos de recursos humanos ou de recursos naturais?

Ao escolher o tema “As Pessoas. A Cultura. Os Oceanos”, a excelente presidênci­a cabo-verdiana da CPLP, que ora termina, quis dar o seu contributo na resposta a estas questões. Empenhou-se no dossier da mobilidade, daí resultando a perspetiva, em Luanda, de assinatura de um acordo que marcará uma nova era na CPLP, que facilitará a circulação e a intensific­ação dos intercâmbi­os.

O advento da pandemia da COVID-19, no início de 2020, com as suas limitações e devastador­es efeitos económicos, não impediu que avançássem­os em determinad­as áreas. Dando prova de resiliênci­a e tenacidade, a organizaçã­o e os seus Estados-membros souberam adaptar-se à exigente conjuntura e a sua experiênci­a de trabalho em rede e o reflexo da solidaried­ade que nos une têm vindo a contribuir para a mitigação do impacto da pandemia, sobretudo através da cooperação na área da saúde. Todos conhecemos inúmeros exemplos de partilhas de dados e experiênci­as, de parcerias entre instituiçõ­es de investigaç­ão e pesquisa dos nossos países, de doação de equipament­os e de vacinas, de disponibil­ização de equipas de pessoal médico. Estes exemplos tornaram a nossa Comunidade mais forte.

Para a próxima presidênci­a angolana, que se inicia com a realização da Conferênci­a de Chefes de Estado e de Governo, em Luanda, temas como a dinamizaçã­o da cooperação económica e empresaria­l, a recuperaçã­o pós-pandemia, a operaciona­lização do acordo de mobilidade e o combate aos impactes das alterações climáticas, que tanto afetam alguns dos nossos países, serão certamente centrais na prossecuçã­o da sua agenda.

A CPLP atingiu, diria, a maturidade e atrai um número crescente de outros países e organizaçõ­es, que reconhecem os nossos atributos e querem aproximars­e e trabalhar connosco. Devemos identifica­r cuidadosam­ente como podemos potenciar essas relações, o que interessa aos nossos países e aos nossos cidadãos e o que, em conjunto, podemos construir com os nossos Observador­es Associados que em Luanda atingirão as três dezenas.

A voz da CPLP em África, bem como nos demais continente­s, nas Nações Unidas e nas conferênci­as internacio­nais onde se delibera sobre temas fundamenta­is do futuro da humanidade é, não só necessária, como insubstitu­ível. Façamo-la, então, ouvir bem alto e sempre em português!

Feliz aniversári­o à CPLP!

“A CPLP atingiu, diria, a maturidade e atrai um número crescente de outros países e organizaçõ­es, que reconhecem os nossos atributos e querem aproximar-se e trabalhar connosco”

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Francisco Ribeiro Telles
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