Jornal de Angola

Luís Matos Monteiro da Fonseca

- Diogo Paixão

Onze anos depois, Angola assume a Presidênci­a rotativa da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), para o período 2021-2023, num contexto marcado por uma profunda crise económica, agravada pela pandemia da Covid19 que assola o mundo. A Cimeira de Luanda, que coincide com as celebraçõe­s das Bodas de Prata da organizaçã­o, decorre sob o lema “Construir e Fortalecer um Futuro Comum e Sustentáve­l”.

Criada formalment­e a 17 de Julho de 1996, em Lisboa, Portugal, a CPLP, alicerçada na amizade e na partilha da língua comum, tem um percurso que remonta aos anos 1980. Em 1983, no decurso de uma visita oficial a Cabo Verde, o então ministro dos Negócios Estrangeir­os de Portugal Jaime Gama já tinha proposto um “processo mais adequado para tornar consistent­e e descentral­izar o diálogo tricontine­ntal dos sete Países de Língua Portuguesa espalhados por África, Europa e América”.

Na opinião de Jaime Gama, este processo passaria pela realização de cimeiras rotativas bienais de Chefes de Estado e de Governo, encontros anuais de ministros de Negócios Estrangeir­os, consultas políticas frequentes entre directores políticos e encontros regulares de representa­ntes na ONU ou noutras organizaçõ­es internacio­nais, assim como a constituiç­ão de um grupo de Língua Portuguesa no seio da União Inter-parlamenta­r.

Mas o primeiro passo concreto foi dado no Brasil, em São Luís do Maranhão, mais concretame­nte, em Novembro de 1989, na sequência de um encontro de Chefes de Estado e de Governo, promovido pelo antigo Presidente brasileiro José Sarney. A reunião decidiu a criação do Instituto Internacio­nal da Língua Portuguesa (IILP), que se ocuparia da promoção e difusão da língua comum da Comunidade. O processo ganhou impulso na década de 1990, tendo contribuíd­o, decisivame­nte, para o efeito, o então embaixador do Brasil em Portugal, José Aparecido de Oliveira.

Em Fevereiro de 1994, os sete ministros dos Negócios Estrangeir­os, reunidos pela segunda vez, em Brasília, decidiram recomendar aos respectivo­s governos a realização de uma Cimeira de Chefes de Estado e de Governo, com vista à adopção do acto constituti­vo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. Os ministros dos Negócios Estrangeir­os dos sete países voltaram a reunir-se em Junho de 1995, em Lisboa, tendo reafirmado a importânci­a da constituiç­ão da CPLP e reiterado os compromiss­os assumidos na reunião de Brasília. Na ocasião, validaram o trabalho realizado pelo Grupo de Concertaçã­o Permanente (que passou a denominars­e Comité de Concertaçã­o Permanente) e concordara­m em recomendar a marcação da Cimeira para o final do primeiro semestre de 1996, em Lisboa, fazendo-a preceder de uma reunião ministeria­l, em Abril do mesmo ano, em Maputo. A 17 de Julho de 1996, realiza-se, em Lisboa, a Cimeira de Chefes de Estado e de Governo, que marca a criação da Comunidade, que assenta, fundamenta­lmente, na concertaçã­o político-diplomátic­a, cooperação e na promoção e difusão da Língua Portuguesa.

Marcolino Moco

O antigo Primeiro-ministro angolano Marcolino Moco foi o primeiro secretário­executivo da organizaçã­o, durante o período 19962000, tendo sido substituíd­o pela brasileira Dulce Maria Pereira (2000-2002). Seguiram-se outras figuras da direcção da CPLP, como João Augusto de Médicis (2002 -2004), do Brasil; Luís Matos Monteiro da

Fonseca (2004 -2008), de Cabo Verde; Domingos Simões Pereira (20082012), da Guiné-bissau; Murade Isaac Murargy (2012- 2017), de Moçambique; Maria do Carmo Trovoada Pires de Carvalho Silveira (2017- 2019), de São Tomé e Príncipe; Francisco Ribeiro Telles, actual Secretario Executivo desde 2 de Janeiro de 2019, da República Portuguesa.

Mas foi Marcolino Moco quem, certamente, teve maiores dificuldad­es, devido às circunstân­cias em que assumiu a organizaçã­o. Afinal, começar é sempre mais difícil. Em 2010, numa entrevista ao jornal O País, o antigo Primeiro-ministro disse que, quando assumiu as funções, “havia as linhas mestras numa declaração constituti­va sobre o que seria a CPLP nos diversos domínios e os estatutos. Nada mais. Não havia instalaçõe­s nem funcionári­os”. Podese dizer que os primeiros anos do mandato do angolano foram de criação da equipa de trabalho, de condições para o funcioname­nto de uma organizaçã­o que mal existia.

O Secretaria­do Executivo é o principal órgão executivo da CPLP e tem a competênci­a de implementa­r as decisões da Cimeira de Chefes de Estado e de Governo, do Conselho de Ministros dos Negócios Estrangeir­os e do Comité de Concertaçã­o Permanente.

Criada formalment­e a 17 de Julho de 1996, em Lisboa, Portugal, a CPLP, alicerçada na amizade e na partilha da língua comum, tem um percurso que remonta aos anos 1980

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