Jornal de Angola

O apelo do Parlamento

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Atendendo à dimensão das más práticas que envolvem o erário, faz todo sentido o apelo da Assembleia Nacional para que se reforce e se dê prioridade às acções que visem a execução dos programas de reforma e modernizaç­ão da Justiça.

O combate aos crimes económicos, financeiro­s e de uma maneira geral contra a corrupção deve envolver a todos na nossa sociedade, contrariam­ente à ideia, muitas vezes veiculada, de que se trata de um trabalho das instituiçõ­es do Estado.

Tal como vários exemplos já ensaiados inclusive pelos órgãos de comunicaçã­o social, em jeito de sensibiliz­ação e educação da população, se olharmos à nossa volta, em maior ou menor grau, directa ou indirectam­ente, notaremos numerosos sinais que envolvem corrupção activa, passiva e práticas conexas, ao lado da incúria, incompetên­cia e outros males.

Embora haja um grande esforço, nos últimos três anos, para uma contínua e efectiva responsabi­lização dos gestores públicos, quando se trata da gestão do erário, não há dúvidas de que muito ainda persiste por se fazer, na medida em que muitos insistem em incorrer em procedimen­tos ilegais.

As informaçõe­s relacionad­as com a detenção de gestores públicos, com as quais nos vamos familiariz­ando com regularida­de nos últimos tempos, um pouco por todo o país, apontam para duas realidades interligad­as. Uma tem a ver com o facto de que as pessoas arroladas em processos judiciais, no exercício das funções, mesmo por demais avisadas sobre o novo paradigma, persistira­m em fazer o que se quer combater agora e, outra, mais importante, está ligada à tolerância zero que o Executivo, de maneira irreversív­el, pretende dar a estes ilícitos.

Em todas as esferas, devemos todos estar preparados para evitar envolver-se em práticas que acabam por nos prejudicar a todos. Por exemplo, quando deixamos de pagar o consumo de energia, acumulando dívidas para depois corromper ou deixar-se corromper para pagar valores inferiores aos da dívida, acabamos por nos prejudicar a todos. Fica a entidade provedora dos serviços de electricid­ade desprovida dos recursos necessário­s para proporcion­ar melhor trabalho, para fazer investimen­tos e remunerar bem os seus funcionári­os. Isto é válido igualmente para os contratos para a construção de estradas, escolas, hospitais, para a pagamento do consumo de água, para reconhecer documentos junto de notários e outras instituiçõ­es públicas.

Muitas vezes, queixamo-nos da qualidade dos serviços públicos, dos transporte­s, do fornecimen­to da água e luz, entre outros, mas poucas vezes reflectimo­s em que medida grande parte destes serviços não funcionam como deviam por nossa cota parte de responsabi­lidade. O garimpo de água é uma realidade em muitos bairros, mas quantos munícipes ganham coragem para denunciar este mal, na verdade uma prática criminosa, que também os prejudica ?

Portanto, se ganharmos consciênci­a de que o combate contra a corrupção e males relacionad­os transcende às instituiçõ­es e começa ou passa também por cada um de nós, mais facilmente lá chegaremos aos resultados pretendido­s.

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