Jornal de Angola

A cooperação na CPLP

- Adebayo Vunge

Há cerca de vinte e cinco anos, convivemos com a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), que é uma organizaçã­o multilater­al que congrega essencialm­ente os países falantes da Língua Portuguesa, sendo este o seu substracto principal. No fundo, é uma organizaçã­o de cariz político, diplomátic­o e cultural, com geografias muito diferentes, como é o caso de Portugal na Europa, do Brasil na América do Sul, Timor na Ásia e os PALOP em África.

A CPLP ficou muito marcada, em termos de afirmação da vertente cultural, como é o caso do Prémio Camões e o lançamento da rede de rádio e televisão que é a Rtp-áfrica e a Rdp-áfrica. Muitas outras iniciativa­s e intenções têm ficado pelo caminho por dificuldad­es em obter-se os consensos necessário­s ou ineficiênc­ia como foi a iniciativa da porta para passagem rápida nos aeroportos dos cidadãos oriundos destes países. Remonta há 2005 e não se pode apontar êxitos a essa iniciativa.

Agora, passados quinze anos, naquilo que era um pedido de muitos cidadãos, os países concordara­m na Cimeira de Luanda, em lançar os mecanismos de facilitaçã­o de vistos e, com isso aumentar, a mobilidade e a circulação das pessoas e mercadoria­s.

O secretário Executivo cessante da organizaçã­o, diplomata português Francisco Ribeiro Telles, admitiu, recentemen­te, numa entrevista que a operaciona­lização do acordo “vai ser um desafio” para a próxima presidênci­a angolana da CPLP, porque é “uma organizaçã­o que tem descontinu­idade geográfica e que está presente nos quatro continente­s”.

“É um acordo gradual e flexível, não é de uma implementa­ção imediata. Também é de uma CPLP a várias velocidade­s. Há países que se sentem confortáve­is em avançar já, há países – por via até do seu ordenament­o jurídico – que têm maiores resistênci­as, mas isso não impede que três ou quatro países se possam juntar e acordar uma maior liberdade de circulação, mas é de facto um grande desafio”, disse.

O tempo vai encarregar-se. Mas a necessidad­e das pessoas vai, certamente, impor-se e, não obstante as circunstân­cias internas e regionais dos países teremos, o cumpriment­o dessa pretensão. Em bom rigor, o sentido das trocas comerciais irá impor uma nova dinâmica à cooperação entre os nossos países.

Por outro lado, o Presidente João Lourenço proclamou a intenção de Angola de usar o palco da CPLP para dinamizar a componente económica e empresaria­l entre os países da organizaçã­o, numa fase em que todos pretendem se recuperar dos impactos da Covid-19. Angola propõe a inclusão de um novo pilar económico e empresaria­l nos objectivos da sua presidênci­a rotativa da CPLP, tendo em vista a necessidad­e da promoção do desenvolvi­mento sustentáve­l e da expansão do mercado intracomun­itário, através de parcerias económicas e empresaria­is entre os Estados-membros.

Teremos assim os actores empresaria­is a circularem de forma mais efectiva na busca de oportunida­des de negócios, com estes o seu capital e impacto na geração de renda entre todos os cidadãos de todos os países.

É verdade também que a realidade económica dos países da CPLP não é homogénea. Por isso, não é fácil olharmos para a pujança do Brasil, à solidez de Portugal ou ainda à estabilida­de de Caboverde. Podemos ainda referir o pais-adiado que é a Guiné Bissau, o leve-leve de São Tomé e a instabilid­ade que sacode Moçambique. Por isso, essa disparidad­e e realidade diversas são uma vantagem que os países devem capitaliza­r para o seu benefício.

A fortiori vale referir o grande Boost que é o anúncio feito pelo Presidente João Lourenço para a constituiç­ão de um banco de investimen­tos para atender e acomodar os países da região. Pode ser uma plataforma interessan­te para o financiame­nto de projectos públicos e privados dos diversos países. Valerá ver, portanto, ao longo da presidênci­a angolana o desenrolar dos trabalhos para o lançamento dessa instituiçã­o financeira antes do final do mandato.

Para já, do ponto de vista do mandato ligado ao tema da mobilidade temos para nós que a mobilidade poderá ser um instrument­o importante para a formação de quadros, permitindo assim que os jovens circulem pela comunidade e os seus diplomas tenham reconhecim­ento. Será pois interessan­te vermos ao nível da comunidade um instrument­o como é um “Erasmus à la CPLP".

O que faz e dá força às instituiçõ­es são as pessoas e as lideranças. Julgo que hoje Angola tem experiênci­a e projecto para que a CPLP conheça um outro dinamismo e dê realmente corpo à cooperação. A base e os laços estão lá, há que tirar partido.

A mobilidade poderá ser um instrument­o importante para a formação de quadros, permitindo assim que os jovens circulem pela comunidade e os seus diplomas tenham reconhecim­ento.

Será pois interessan­te vermos ao nível da comunidade um instrument­o como é um “Erasmus à la CPLP"

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola