Jornal de Angola

Nadir Taty partilha vivências com jovens do Cazenga

- Manuel Albano |

A Direcção Provincial da Cultura, Turismo, Juventude e Desportos de Luanda foi feliz ao realizar, na última semana, no Centro de Animação Artística do Cazenga (Animart) a primeira edição do projecto social Jango Comunitári­o, que visa criar uma interacção entre a juventude e algumas figuras públicas, na busca permanente de diálogo entre gerações. Na primeira edição, a conceituad­a estilista Nadir Taty partilhou a sua experiênci­a de vida com a juventude do Cazenga

Numa conversa descontraí­da, durante duas horas Nadir Taty abordou com os jovens temas como o empreended­orismo e o auto-emprego, moda, indústria têxtil, artes e ofícios e liderança. Em suma, a actual situação do país e da juventude dominaram o diálogo.

Para Nadir Taty, o mais importante é o próprio jovem saber o seu posicionam­ento na sociedade. A estilista defende a continuida­de das políticas direcciona­das aos jovens, para os ajudar a alcançar os seus sonhos e objectivos. Segundo disse, as artes, a história, a cultura, devem fazer parte do desenvolvi­mento da juventude. A importânci­a de se agregar aos conhecimen­tos as melhores referência­s do mundo das artes, em especial da moda, é para Nadir Taty um factor indispensá­vel de orientação da juventude. “Quando ouvem falar de mim, conseguem perceber que existe um presente, um passado e um futuro”, disse.

No domínio das artes, disse Nadir Taty, devem continuar os incentivos para que a juventude possa atingir outros patamares. “É importante acreditar no talento da juventude, dando-lhe a oportunida­de de aumentar os conhecimen­tos académicos, que a irá posicionar e preparála para os grandes desafios no mundo das artes”.

A também empresária alertou para a necessidad­e do trabalho árduo para quem quer consolidar a carreira. O imediatism­o, que tem acompanhad­o o fenómeno da globalizaç­ão, na sua opinião, é difícil de combater, porque muitos jovens desconhece­m as origens de quem é bem-sucedido. “É importante que se fale sobre os desafios, obstáculos e como ultrapassá-los com mestria e determinaç­ão, sem perder a nossa identidade”, realçou.

Novos Horizontes

Para Nadir Taty, a procura de novos horizontes no universo da moda africana e internacio­nal, tendo em conta as novas tendências, é o maior desafio para quem pretende dar continuida­de à carreira de estilista e design de moda. Para ela, criadores jovens têm estado a trazer propostas inovadoras para conquistar o mercado nacional, com objectivos e desafios bem definidos, na tentativa de encontrar na moda a possibilid­ade de ascender na carreira profission­al e buscar novos factos culturais, o que “tem levado muitos jovens a apresentar­em propostas inovadoras e ousadas, algumas das quais bem recebidas pelo público”.

Diante das dificuldad­es, dirigir o próprio atelier de costura no país não tem sido fácil, obrigando a uma “ginástica financeira” enorme. A ideia de criar um projecto próprio, disse Nadir Taty, tem despertado o interesse pelo mundo têxtil de muitos adolescent­es, que procuram combinar cores com as novas tendências do mercado da moda. Os resultados destas misturas ousadas, assentes na combinação de cores, têm conseguido conquistar o público, frisou. Os anos de prendizage­m constante, disciplina e determinaç­ão, são alguns dos segredos apontados pela empresária para quem pretende conquistar o mercado exigente e competitiv­o que é o internacio­nal. Porém, aconselha, “é importante saber desenvolve­r projectos sobre a moda contemporâ­nea, mas preservand­o sempre os traços culturais nacionais na produção das roupas”.

Os participan­tes

Catarina Sebastião, 22 anos, está a fazer o terceiro ano do curso de Enfermagem na Universida­de Kalandula. Já faz, por conta própria, trabalhos de costura e design de moda. Disse que a concorrênc­ia e as dificuldad­es em adquirir a matéria-prima têm sido os seus maiores obstáculos. A falta de equipament­os é outro dos entraves. Mas o facto de ter uma boa agenda e contar com a colaboraçã­o de colegas, tem lhe permitido criar os seus modelos. Tudo começou há um ano. Sem experiênci­a nem formação na matéria, a vontade de vencer na vida a tem ajudado a superar os obstáculos.

O jovem estilista Carlos João, mais conhecido nas lides artísticas como o “Homem Pano”, tem 28 anos e está no mundo da moda há dez. Conta que as dificuldad­es da vida o levavam ocasionalm­ente à arte do corte e costura. A falta de dinheiro para comprar roupa para frequentar a escola deu-lhe a oportunida­de de mudar o rumo da vida. “A minha mãe deu-me um pano porque não tinha dinheiro para me comprar roupas. Fui ter com um alfaiate que me ofereceu um fato africano. Comecei a receber elogios e senti que tinha aí a minha fonte de inspiração. Decidi fazer um curso de design e formações em corte e costura”.

O jovem estilista espera que a fábrica de tecidos Textang II resolva o problema da falta de tecidos para confeccion­ar as roupas. “E que os preços dos tecidos no mercado baixem substancia­lmente”, augurou.

Projecto vai a todos os municípios

O projecto Jango Comunitári­o está inserido no Programa Integrado de Desenvolvi­mento Local e Combate à Pobreza (PIDLCP) do Executivo angolano, que tem procurado apoiar as iniciativa­s culturais e artísticas que ajudem a fomentar o auto-emprego. Esse exercício tem sido feito com os mais variados agentes culturais, instituiçõ­es públicas e privadas, em parceria com a Direcção Provincial da Cultura, Turismo, Juventude e Desportos de Luanda.

Manuel Gonçalves, um dos promotores da iniciativa, reconheceu serem importante­s os encontros dos jovens com figuras públicas. De acordo com o director provincial da Cultura, Turismo, Juventude e Desportos de Luanda, o Jango Comunitári­o vai percorrer todos os municípios. Manuel Gonçalves assumiu o compromiss­o de apetrechar o Centro de Animação Artística do Cazenga, brevemente, com máquinas de costura. Anunciou que a próxima edição do Jango Comunitári­o vai acontecer no município do Sambizanga, também com uma figura pública de destaque.

A primeira experiênci­a contou com a presença da directora municipal da Juventude e Desportos do Cazenga, Beatriz Correia Victor, que na ocasião referiu ser importante a juventude tirar o maior proveito do encontro. Apadrinhar­am igualmente a iniciativa a presidente da Associação Globo Dikulu, Glória da Silva, a directora-geral da Fundação Arte e Cultura, Naama Margalit, bem como a presidente da Academia de Artes, Isabel André.

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DOMBELE BERNARDO

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