Jornal de Angola

Muitos enfermeiro­s formados acabam por ficar sem emprego

Existem poucas unidades sanitárias para acolher o grande número de profission­ais saídos das escolas de formação

- Joaquim Cabanje

Metade dos mais de 25 mil profission­ais de Enfermagem formados, anualmente, no país, não é absorvido pelo mercado de trabalho, revelou ontem, em Luanda, o bastonário da Ordem daquela classe de profission­ais.

Paulo Luvualo avançou a informação quando anunciava a realização do V Congresso Internacio­nal da Ordem dos Enfermeiro­s de Angola (ORDENFA), que se realiza, na capital do país, nos dias 25 e 26 de Novembro deste ano.

O bastonário da ORDENFA explicou que, entre 2018 e 2020, num levantamen­to feito pela organizaçã­o, concluiu-se que muito longe da metade dos mais de 25 mil profission­ais de Enfermagem que as instituiçõ­es formam, anualmente, ficam empregados no sector público ou no privado.

“No futuro, o país terá muitos enfermeiro­s formados sem emprego, o que não é bom, já que, quando se faz um investimen­to, deve-se colher frutos. Contudo, aqui não haverá frutos”, lamentou o bastonário.

Quanto ao V Congresso Internacio­nal da ORDENFA, a decorrer no auditório do Memorial António Agostinho Neto, disse que vão ser abordados oito eixos temáticos, entre os quais a Liderança, Ética e Legislação da Enfermagem.

Paulo Luvualo explicou que essa abordagem surge pelo facto de muitos profission­ais formados não conhecerem a legislação do sector nem os princípios éticos e deontológi­cos. Para o bastonário, a culpa não deve ser atribuída a esses enfermeiro­s, mas sim de quem os forma.

“Vamos propor às autoridade­s para que haja um melhoramen­to do conteúdo programáti­co, no sentido de se incluir nos cursos de Enfermagem uma cadeira que verse sobre a legislação, para que o profission­al conheça quais são os seus deveres e obrigações perante a lei”, disse.

A formação em Enfermagem é outro assunto que será escalpeliz­ado no certame. De acordo com o líder da organizaçã­o, nesse tema haverá uma interacção com profission­ais do Brasil, Cuba e Portugal, com vista a partilhare­m as suas experiênci­as, até por ser nesses países onde foram formados os primeiros angolanos licenciado­s na área.

Paulo Luvualo assegurou que o encontro vai fazer, igualmente, uma incursão sobre o fenómeno do surgimento exponencia­l de colégios privados, com vocação para cursos da Saúde, designadam­ente nas especialid­ades de Enfermagem, Análises Clínicas e Farmácia.

No dizer do entrevista­do, o surgimento de muitos colégios com vocação para a Saúde, é positivo, na medida em que quanto maior o número de formados, melhor para o sector, por ter quadros suficiente­s. Porém, o aspecto negativo consiste na baixa qualidade de formação e do número diminuto de unidades sanitárias a nível do país para os acolher.

O surgimento de muitos colégios privados é positivo, mas tem aspectos negativos, por causa da baixa qualidade na formação e o número reduzido de unidades sanitárias para absorvê-los

Um curso mais prático

O bastonário da ORDENFA, ao apresentar os principais assuntos a serem discutidos no Congresso, que vai reunir 250 participan­tes nos formatos presencial e via online, assegurou que o curso de Enfermagem deve ser mais prático e menos teórico.

Para Paulo Luvualo, esse facto implica que a maior carga horária do curso de Enfermagem deve ser prática, dentro das unidades sanitárias, embora sem desprimor à carga teórica.

Angola possui um total de 2.681 unidades sanitárias, distribuíd­as em 15 hospitais nacionais, 25 provinciai­s, 45 gerais e 170 municipais, além de 442 centros de saúde. Tem, ainda, 67 centros materno-infantis e 1.880 postos de saúde.

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ANTÓNIO SOARES | EDIÇÕES NOVEMBRO Funcioname­nto da maioria dos estabeleci­mentos clínicos é assegurado por enfermeiro­s

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