Jornal de Angola

Oposição contra a Lei Orgânica das Eleições Gerais

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Se o consenso foi um facto na votação da Lei do Registo Eleitoral Oficioso, o mesmo não se pode dizer quanto à Proposta de alteração à Lei Orgânica das Eleições Gerais, cenário, de resto, previsível, atendendo à tendência das discussões na especialid­ade.

Na votação final global, o diploma foi aprovado com 126 votos a favor (todos do MPLA) e 50 contra (oposição). O deputado Tomás da Silva justificou o sentido de voto do MPLA com o facto de a lei aprovada ser resultante das iniciativa­s legislativ­as dos dois maiores partidos representa­dos no Parlamento, que discutiram, até à exaustão, o diploma, no qual 129 artigos (91 por cento das normas) foram aprovados por consenso.

Tomás da Silva considerou o voto contra da oposição um capricho ou o “velho fantasma da fraude e desconfian­ças das instituiçõ­es”. Ressaltou que dificilmen­te os angolanos que vivem em países sem representa­ção diplomátic­a de Angola vão poder exercer o direito de voto, porque a oposição, durante o debate de concertaçã­o, não aceitou a implementa­ção do voto por correspond­ência.

“Afinal quem defende, na verdade, o voto na diáspora?”, questionou o também presidente da Comissão da Administra­ção do Estado e Poder Local, explicando que a lei aprovada defende a brevidade para “a realização dos actos eleitorais e orienta a simplifica­ção do processo da organizaçã­o das assembleia­s de voto, atribuindo maior garantia de eficácia e isenção aos trabalhos das mesas”.

“A lei consagra, correctame­nte, que à comissão municipal provincial eleitoral, apesar de não ter competênci­a de apuramento das eleições, é-lhe reservada outras competênci­as no acto eleitoral”, destacou. Entre estas competênci­as, referiu a responsabi­lidade da comunicaçã­o entre a assembleia de voto e a Comissão Nacional Eleitoral, bem como o acompanham­ento e verificaçã­o da confirmaçã­o do escrutínio.

Tomás da Silva pediu aos deputados da oposição para se afastarem do que considera “capricho e fantasma da fraude eleitoral e da desconfian­ça permanente das instituiçõ­es".

UNITA fala em fraude

A UNITA, na voz do presidente do grupo parlamenta­r, Liberty Chiyaka, justificou o voto contra por o partido considerar que a lei aprovada constitui uma “fraude eleitoral”.

O deputado acrescento­u que o diploma é “uma traição à vontade genuína dos angolanos construíre­m um verdadeiro Estado Democrátic­o de Direito, livre, próspero e moderno”. Apontou outras três razões para justificar o voto contra: “a lei aprovada ofende, gravemente, o direito dos angolanos ao voto livre, secreto e legal, agride o fundamento da República de Angola, porque permite substituir a vontade do povo pela vontade daqueles que institucio­nalizaram a corrupção e facilita o voto múltiplo, legalizand­o o voto desigual”.

Chiyaka acusou o MPLA de querer legalizar a “prática fraudulent­a que utilizou em 2017, quando mandou a CNE divulgar resultados que os comissário­s da CNE não apuraram”. Na óptica do deputado, “as principais propostas para melhorar a transparên­cia das eleições foram rejeitadas pelo MPLA”.

Para o deputado Justino Pinto de Andrade, da CASA-CE , “o MPLA, ao votar a lei, escolheu um caminho que vai conduzir a dúvidas e suspeições que desacredit­am o processo eleitoral”. O também dirigente do Bloco Democrátic­o entende que a lei aprovada vai criar um obstáculos à votação consciente “e sem dúvidas nenhumas”.

“Não se têm aproveitad­o as experiênci­as negativas do passado. As primeiras eleições, de 1992, levaram a dúvidas e todas as outras eleições levaram a dúvida, também. E, com esta lei, também teremos uma eleição eivada de muitas dúvidas e isso não beneficia, nem Angola, nem os angolanos”, afirmou Justino Pinto de Andrade.

Benedito Daniel, do PRS, disse que o seu partido votou contra a lei por considerar que o diploma não se adequa ao modelo de eleições que Angola pretende. “Apesar de se envidarem esforços em fundir as duas propostas (do MPLA e da UNITA) e obedecer-se ao formalismo requerido por lei, não se conformou esta lei à altura do nosso processo eleitoral. Todo o esforço que se empreendeu no sentido de se buscarem consensos não resultou. Apenas conseguiu-se o mínimo, conformand­o a lei num prisma muito desajustad­o à realidade do nosso processo eleitoral”, lamentou o também presidente do PRS.

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