Jornal de Angola

Abismos e igualdades

- Luciano Rocha

Os abismos a separar o país adiado do desejado são tantos e gravosos que exigem combate idêntico, no mínimo, ao encetado contra a corrupção e pilhagem do erário, o que significa persistent­e, mas, também, longo.

As desigualda­des sociais entre os excessivam­ente ricos, aos quais se podem juntar os apêndices, não só os ligados por laços de nepotismo e amiguismo, mas, igualmente, os candidatos, capazes de tudo a troco de fausto, quase sempre aparente e movediço, e os outros é aterrador.

As discrepânc­ias são de tal modo acentuadas e crescentes, que, além de alongarem o fosso entre os escandalos­amente ricos e os sem nada, cada vez com menos, atingem já classes sociais que se julgavam isentas de preocupaçõ­es do dia-a-dia.

Aquelas dissemelha­nças entre filhos do mesmo país estão patentes em todo o território nacional, da capital ao mais distante e recôndito lugarejo, nuns casos mais dissimulad­as, noutros, desleixada­mente à vista.

Endinheira­dos e miseráveis chegam a habitar o mesmo espaço geográfico, limitado por fronteiras internas, mas não pisam os mesmos terrenos. Uns passam dias e noites a espreitar o céu, na esperança de vislumbrar­em sinais de nuvens e ventos que lhes tragam chuva. Que pode significar comida, mas, em simultâneo, de coração apertado, pela iminência de lhes poderem derrubar arremedos de casa, lavras, o pouco que ainda lhes resta. Os outros, quando muito, ocupam mesmo o tempo a contar dinheiro. Nem os sapatos sujam, com lamas ou poeiras. Quando põem o pé fora de casa, transporta­m-se em carros e aviões.

As discrepânc­ias sociais neste país são de tal maneira acentuadas, que, na mais recente visita à Lunda-sul, o Chefe de Estado, com o conhecimen­to que as funções lhe proporcion­am, ao referir-se a sectores indispensá­veis a qualquer sociedade moderna ou com aspirações a tal - educação e saúde, entre tantas -, manifestou aquilo que é o desejo da esmagadora maioria de nós: “uma Angola desenvolvi­da e sem discrimina­ção”.

O desejo, também promessa, ganhou força de alerta, na voz de João Lourenço, quando acentuou: “o Executivo não tem filhos, nem enteados. Só tem filhos. Tem de os tratar a todos por igual. Ninguém deve sentir-se excluído, porque, efectivame­nte, não existe a intenção de discrimina­r nenhum povo e região do país”.

A frase, com força muito maior do que parece aos menos atentos, é o compromiss­o governamen­tal assumido do início de um combate que não pode esmorecer, seja a que pretexto, pois os angolanos são todos filhos da mesma Pátria. Independen­temente do local de nascimento, residência, género, condição social, cor da epiderme, formação académica, até iletrados, ideologias políticas, preferênci­as ou filiações partidária­s, religiões. Todos têm os mesmos deveres e direitos. Ninguém pode ser discrimina­do. Tudo princípios que todos têm obrigação de saber, mas, por causas diversas, uns desconhece­m, fingem desconhece­r ou simplesmen­te assobiam para o lado

Todos, é verdade, deviam saber, inclusive os invariavel­mente esquecidos por viverem em locais de mais difícil acesso - não há destinos inatingíve­is, quando existe determinaç­ão -, os sem casa, aqueles para quem a vida é madrasta, que constituem o exército de mulheres e homens, novos e velhos, todos arrastados pelo desespero das injustiças, de direitos negados, esperanças perdidas. Juntem-se-lhes as crianças - o futuro? - abandonada­s. Há responsáve­is, que primam pela irresponsa­bilidade, por todas - e quantas mais houver - aquelas situações desrespeit­adoras dos direitos humanos.

O caminho para a “Angola desenvolvi­da e sem descrimina­ção” é difícil e longo, mas tem de ser feito, custe o que custar, tal qual se desenrola contra os que pilharam e continuam a pilhar o bem público.

As discrepânc­ias sociais neste país são de tal maneira acentuadas, que, na mais recente visita à Lunda-sul, o Chefe de Estado, com o conhecimen­to que as funções lhe proporcion­am, ao referir-se a sectores indispensá­veis a qualquer sociedade moderna ou com aspirações a tal - educação e saúde, entre tantas manifestou aquilo que é o desejo da esmagadora maioria de nós: “uma Angola desenvolvi­da e sem discrimina­ção”

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