A unidade nacional
Numa altura em que nos preparamos para o ano eleitoral, começam a surgir várias reacções, algumas até a colocar em causa o espírito de unidade entre os angolanos. As nossas diferenças políticas nunca deveriam estar acima dos valores que unem a todos como filhos da mesma mãe, independentemente das makas, zangas e desavenças, sobretudo ao nível da política. Esta parece ser a área em que, como tudo indica, somos todos peritos, estamos todos muito bem informados e sabemos todos como deve andar. E quando as coisas, que não têm de correr necessariamente como gostaríamos, correm mal, lá colocamo-nos em trincheiras das disputas políticas, algumas vezes desrespeitando as autoridades, insultando os entes soberanos e minimizando o que os outros têm também a dizer. Assim, obviamente, não se faz país, na medida em que não podemos esperar que concordemos todos em tudo, com tudo e por tudo o que acontece no país. Não podemos esperar unanimidade em tudo, mesmo nas organizações ou nos agregados familiares em que as pessoas, em princípio, estão imbuídas do mesmo espírito de união e parentesco.
A unidade de todos é parte de um processo contínuo de superação de cada angolano, das famílias e das comunidades de Cabinda ao Cunene. Temos que ganhar consciência de que nunca vamos nos entender a cem por cento e, na verdade, esperar que nos entendamos sempre e a toda a hora vai traduzir-se naquilo que a Bíblia Sagrada descreve como um esforço para alcançar o vento. Não podemos esperar que concordemos todos com todos, facto que, às vezes, assusta a alguns, mas que nos deve lembrar de que somos diferentes e que vamos crescer na diversidade e na diferença. Os últimos acontecimentos que marcam os debates no nosso país fazem parte do processo em que nos encontramos para a construção do país que pretendemos bom para todos. Todas estas discussões, debates e discussões, algumas exageradas devem lembrar-nos, sempre, de que apenas com cedências e concessões, por parte dos actores políticos e cívicos, vai ser possível erguermos um país de todos e para todos.
Angola é de todos e deve ser erguida com o esforço de cada um, independentemente das nossas diferenças, exactamente tal como sucede. Acredito que estamos já a aprender e a caminhar, mesmo com os nossos erros, para fazermos melhor. Para terminar, gostaria de lançar uma palavra de encorajamento às forças políticas e às organizações da sociedade civil, no sentido de não usurparem o papel e as atribuições de umas às outras, mas privilegiarem os espaços de actuação prévia e legalmente consagrados pelas leis e pelas instituições do país. Não se pode esperar que os partidos políticos sejam ao mesmo tempo associações que ocupam os espaços que devem ser deixados para os grupos cívicos. Embora enquanto cidadãos nada impede que os actores políticos individualmente exerçam cidadania, aderindo a causas sociais. Mas a política deve distinguir-se do activismo cívico ao ponto de não se misturarem as duas coisas na medida em que os fins perseguidos por ambos são demasiado claros para se misturarem.
ANTÓNIO MUQUIXI
Saurimo