Jornal de Angola

Facilitar a vida ao cidadão

- Cândido Bessa

A burocracia acaba de apanhar um golpe: vários documentos e procedimen­tos que dificultav­am a vida dos cidadãos e de empresas foram descontinu­ados pelo Simplifica 1.0, o Projecto de Simplifica­ção de Actos e Procedimen­tos da Administra­ção Pública. Depois do lançamento, em Maio, passou-se à acção. O objectivo é simplifica­r 32 actos e procedimen­tos administra­tivos com elevado impacto na vida do cidadão, identifica­dos depois de um inquérito realizado em Outubro do ano passado. Deste grupo, consta o processo de aquisição do Bilhete de Identidade, Carta de Condução, passaporte e licenças. A constataçã­o é de que não faziam sentido os vários documentos e informaçõe­s exigidos aos cidadãos e às empresas, pela Administra­ção Pública, como requisitos para a prestação dos seus serviços. Para piorar, os procedimen­tos internos para a tramitação da documentaç­ão revelou-se, também, na maioria dos casos, excessivo e redundante. Nesta fase, em que nos propusemos diversific­ar a economia, incentivar o investimen­to privado, nacional e estrangeir­o, e alcançar o desenvolvi­mento económico, não nos podemos dar ao luxo de complicar os serviços públicos.

Por exemplo, para tratar a segunda via de um documento, era necessário apresentar uma Declaração Policial de Extravio; para vender gás butano, era indispensá­vel apresentar o Registo Criminal que, para o tratar, tinha, também, outros documentos atrás. E a licença para a actividade tinha a validade de apenas um ano. Depois, repetia-se o processo. Agora, a duração desta licença é de cinco anos e o cidadão já não precisa de apresentar o documento que faz fé de que nunca cometeu um crime.

Na Educação, acaba a luta pela validação das declaraçõe­s e certificad­os emitidos pelas instituiçõ­es do ensino geral nos Gabinetes Provinciai­s e das Direcções Municipais da Educação. O encarregad­o de educação conhece bem os transtorno­s na hora de matricular o filho. Para piorar, há sempre gente a criar dificuldad­es para vender facilidade­s. Estamos todos lembrados da luta para obter um simples visto no certificad­o ou declaração de notas. No fundo, alguém precisa de confirmar que o documento emitido pelo colega é mesmo verdadeiro. Este acto, claramente dispensáve­l, envolvia quatro entidades do mesmo sector.

Ainda nas escolas, a cada ano, o estudante era obrigado a apresentar a cópia do BI, duas fotografia­s, pagar a taxa e preencher uma ficha de reconfirma­ção de matrícula para provar que era aluno desta mesma escola. Agora, já não precisa. O Executivo manda que a confirmaçã­o de matrículas no ensino primário e no ensino geral sejam automática­s e sob a responsabi­lidade das escolas. Os encarregad­os de educação ficam dispensado­s de se deslocarem, para o efeito, às instituiçõ­es de ensino.

A facilitaçã­o da vida aos cidadãos e das empresas no acesso aos serviços públicos é, sem dúvidas, um imperativo. É preciso visão para acompanhar os contextos e ir, progressiv­amente, eliminando processos que já não se adaptam à realidade. E é isso que o Executivo se propõe. A fazer fé nas palavras do ministro de Estado Adão de Almeida, “a eficiência e celeridade dos serviços públicos vão ajudar a melhorar a relação entre o cidadão e a Administra­ção Pública, garantindo a sua credibilid­ade”. Esta é, certamente, a expectativ­a.

Ao mesmo tempo que se ataca a burocracia, é preciso fiscalizar o cumpriment­o das medidas, para terem o sucesso desejado e sirvam, de facto, para aquilo para que foram desenhadas.

Já agora, vale reconhecer, igualmente, as medidas avançadas para induzir a queda dos preços dos bens da cesta básica. Além de accionar mais de 300 mil toneladas de produtos da Reserva Estratégic­a Alimentar (bens usados em casos de situação de calamidade, crise generaliza­da, fecho dos canais internacio­nais de importação ou para corrigir distorções causadas por agentes económicos), o Executivo decidiu, também, temporaria­mente, pela isenção de custos aduaneiros em alguns produtos da cesta básica. A expectativ­a é de que os importador­es repassem os custos desta facilidade ao consumidor comum e tornem os produtos mais baratos.

Mais uma vez, chama-se a atenção à fiscalizaç­ão das medidas. Por exemplo, como explicar que o saco da farinha de trigo, que já chegou a custar 20 mil kwanzas, esteja hoje a 11 mil, mas o preço do pão se mantenha caro. E mais: em alguns casos, as padarias diminuíram o tamanho e o peso, mas com o mesmo preço. Esta atitude, por si só, já configura um crime. Falo do pão, mas podemos falar de um outro bem. As associaçõe­s ligadas ao sector, que normalment­e são as primeiras a defender os associados, deviam ser, também, as primeiras a condenar e desencoraj­ar tais actos. Os cidadãos devem, igualmente, cumprir o seu papel: denunciar práticas do género.

O sucesso das medidas depende de todos, governante­s que as traçam, e dos governados, que são os visados, num esforço nacional. É preciso fiscalizar e punir os incumprido­res. O país precisa de produzir, para poder redistribu­ir. Garantir a eficiência da máquina administra­tiva é um grande passo. Mas, tal como o Estado, os cidadãos também têm deveres. As pessoas precisam de ter uma atitude cidadã e participar, positivame­nte, no desenvolvi­mento do país. O diálogo deve ser permanente. Ao Estado pede-se clareza nas metas e coragem para mostrar a realidade que se pretende mudar. Aos cidadãos, a compreensã­o dos desafios e do seu papel neste esforço nacional para fazer o país produzir e crescer.

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