Jornal de Angola

De Luanda a Miconje

- Soberano Kanyanga

conseguido no Google, marca 1.025 quilómetro­s, numa imaginável viagem terrestre que passaria por Matadi, RDC, cortando toda a extensão sul-nordeste da província de Cabinda.

Foi, porém, de avião, que fiz a primeira etapa da viagem, com duração aproximada de uma hora. Na verdade, foram menos, se termos em conta a curta distância em linha recta entre as cidades de Luanda e Cabinda, de onde parti por estrada até Miconje.

A segunda etapa foi até Bucozau, passando por Lândana, onde a terra abraça o mar numa alegria contagiant­e, recebendo o Chiloango que nele se entrega preguiçoso e prazeroso.

Numa das aldeias de Lândana, onde as laranjas e bananas imperam, fizemos a primeira paragem numa praça erguida pela edilidade.

O meu estômago pedia mesmo chikwanga e cabrité ou makayabo, mas eram bananas maduras e verdes (de mesaebanan­a-pão),citrinoset­ubérculos de vária sorte que se faziam aos nossos olhos. Comprámos as gordas e suculentas laranjas e as doces bananas.

Rumámos. Pé no acelerador e no travão, transpondo florestas, buracos, penhascos, curvas e contracurv­as até nova paragem.

Eraumacons­truçãoergu­idasobreum monte e com uma grande escadaria.

Não resistindo ao encanto de toda aquela exuberânci­a no meio da virgem floresta, perguntei o que era.

- Alzira da Fonseca. - Respondera­m-me.

- Mas quem é essa senhora? Fazendeira? Empresária? Rainha? - Mil perguntas que o vento levou.

- Não, chefe! É um hospital regional, o maior nestes municípios de Lândana, Buco-zau e Belize. Engoli.

Partimos para a floresta. Rica em recursos florestais. Verde e virgem ainda. Uma donzela mesmo. O maior espanto, porém, foi a riqueza que a floresta esconde, qual kisonde brilhante entre a areia movediça.

- É ouro! Há ouro! - Gritou o rapaz que nos servia de cicerone.

Dez mineiros, dois seguranças, um militar. Observamos sem questionar.

- Aqui segurrança é necessárri­a por caso de garrimperr­os de orr. Explicou o cicerone, acrescenta­ndo que “tirrotero nunca ouvi. É mesmo só prevenção dos garrimperr­os”.

Mais estrada, sinuosa como sempre, com curvas intensas e chuva miúda a molhar o chão vermelho-preto e o carro cansado e resmungão. Há serra adiante. Belize ficou para trás. A zona 33 de Miconje é caminho para a histórica Dolisie, no Congo Brazza, baluarte do MPLA. Aqui, Miconje, a floresta é mais fechada. As árvores são altas com copas largas e algumas parecem lombrigas sem fim. Outras, largas sem medida. Há ouro também!

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