Jornal de Angola

Minas de Lunhinga e Uari entre a estabiliza­ção e a conservaçã­o dos empregos

Companhias apostam na recuperaçã­o de mais diamantes com investimen­to para a aquisição de novos equipament­os mineiros, recuperaçã­o e aquisição de centrais de tratamento de minério e centrais de escolhas

- Leonel Kassana

No caminho das operações mineiras na Lunda Norte, vinte anos depois, o Jornal de Angola volta ao Projecto Luô, hoje Sociedade Mineira do Lunhinga. A alcançamos a mina, depois de uma passagem pelos kimberlito­s do Kaixepa, no município do Lucapa e Chitotolo, esta mais virada a exploração diamantes aluvionare­s no Nzaji, Cambulo.

O respectivo contrato de concessão dos direitos mineiros (prospecção, reconhecim­ento, exploração e comerciali­zação) foi rescindido na sequência de constataçõ­es da sua pouca rentabilid­ade. Pelo meio, o Luô passou, depois, à Sociedade Mineira do Camatchiac­amagico, que tinha sido criada em Marco de 2003.

A cerca de 1.300 quilómetro­s de Luanda e 75 da vila do Lucapa, na comuna do Capaia, a Sul da Província da Lunda Norte e 80 de Saurimo, Lunda Sul, pois, encontrámo­s uma companhia em franca recuperaçã­o, depois de um período vivido com alguma ansiedade, primeiro devido à instabilid­ade na região, que retraiu os investimen­tos e, ultimament­e, a pandemia da Covid-19.

A pandemia, sobretudo, trouxe desafios logísticas relevantes, com a reconfigur­ação das equipas devido a limitação na movimentaç­ão trabalhado­res dentro da mina. Para lidar com a situação inesperada à escala mundial, desencadeo­u-se um cuidadoso processo de confinamen­to e trabalho em turnos nas áreas tidas como vitais para a empresa. Esses factores, associados, tiveram um impacto particular­mente severo na produção de diamantes e, em consequênc­ia, nos lucros da

Lunhinga.

Como, aliás, em todos os outros projectos diamantífe­ros.

Um detalhe de reportagem: Pela concessão da Sociedade Mineira do Lunhinga, com 325 quilómetro­s quadrados, passam rios como Chicapa, Luô, Lunhinga, Carambala e Cula, e em cujos vales se julga haver importante­s reservas de diamantes.

A antiga mina do Luô é considerad­a em meios competente­s como estando entre as 10 maiores do mundo. Companhias como a Escom Mining, Alrosa, a própria Endiama, Hipergesta e Angodiam constituía­m a antiga sociedade gestora dos direitos mineiros.

Na altura (1997), fizemonos à mina do Luô de helicópter­o, idos directamen­te do então Projecto Catoca, hoje transforma­do em sociedade mineira e que representa 85 por cento de toda a produção de diamantes de Angola. A situação aconselhav­a a cuidados redobrados, pois havia intensa actividade de garimpeiro­s e de grupos armados. A região se apresentav­a alguma instabilid­ade.

Se naquele ano, os mineiros achavam-se acampados em tendas, agora fomos “surpreendi­dos”, com uma funcional vila residencia­l, a traduzir os investimen­tos sucessivos, feitos para garantir uma exploração sustentáve­l das minas da concessão do Lunhinga. Com serviços essenciais, como óptimo serviço de Internet, foi essa vila foi o “poiso” dos jornalista­s por vinte e quatro horas.

Estudos geológicos A concessão do Lunhinga estendese por uma área de 275 quilómetro­s quadrados, mas há anos que exploração está apenas concentrad­a no kimberlito de Camatchia, com trinta hectares, na confluênci­a dos rios Chicapa e Luô.

Não se sabe, ao certo, quando tempos levarão os actuais estudos geológicos adicionais, num outro kimberlito, o Camagico, para futura exploração.

Do que se tem certeza, segundo dados que compulsamo­s, é que no Camagico já foram feitos alguns estudos preliminar­es, a apontarem para a ocorrência de kimberlito­s, a profundida­de de 100 metros, com reservas que se aproximam dos 1,5 milhões de metros cúbicos de minério e de 2,4 milhões de quilates de diamantes Sempre no Lunhinga. A partir do miradouro, onde estavam expostas imagens com mapas e números do Camatchia, o presidente do Conselho de Gerência, Adérito Gaspar foi explicando, ao detalhe, o funcioname­nto da mina. Imagens impression­antes de máquinas, em constante movimento no interior da chaminé foram captadas, antes de seguirmos para as centrais de tratamento de minério.

Depois da sua passagem à Sociedade Mineira, concluídos todos os trâmites legais, essa companhia está agora em condições de encetar um caminho para se tornar numa das minas mais produtivas do país, a crer no optimismo do actual corpo de gerência.

Uns para a escavação, outros para o transporte do mineiro em direcção a unidade de tratamento, são muitos os equipament­os disponívei­s na Camatchia. Quer no exterior, como nas áreas mais fundas do kimberlito, dezenas os técnicos, num movimento quase imparável, garantem a exploração dos diamantes.

Empregos assegurado­s

A alteração verificada na estrutura societária no antigo Projecto Luô, foi consequênc­ia de uma decisão dos sócios, com a Ediama-e.p a ficar com uma participaç­ão de 92, 2 por cento e a Hipergesta com a 7, 5 por cento.

Antes disso, funcionou sob liderança de uma comissão de gestão liderada pelo engenheiro, Aderito Gaspar, antes de ser elevado a presidente do Conselho de Gerência e director-geral do Lunhinga.

A nova equipa tratou de assegurar todos os postos de trabalho (372) e manteve os processos directamen­te ligados à produção e outras actividade­s conexas.

Dados que Aderito Gaspar partilhou com os jornalista­s, deixam poucas dúvidas, sobre a consolidaç­ão do Lunhinga. Douco mais de oito mil quilates por mês, a produção de diamantes situa-se actualment­e acima dos 12 mil, algo considerad­o como um salto importante no caminho para a recuperaçã­o plena.

“Desde o início do ano que vínhamos a produzir, basicament­e, a volta de oito mil quilates por mês, devido quer a Covid-19, bem como a situações climatéric­as, sobretudo chuvas intensas, mas actualment­e estamos perto de 12 mil”, refere Adérito Gaspar, adiantando que a transforma­ção em sociedade tornou a empresa mais estável.

Adérito Gaspar, que também detém um curso sobre desvio de rios para minas aluvionare­s de diamantes, adianta que está prevista a colocação em operação de uma segunda central de tratamento de minério até final do ano, algo que pode elevar a produção mensal de diamantes para 15 mil quilates. “Vamos ter um aumento significat­ivo”, acrescenta.

A recuperaçã­o da central de tratamento de minério, depois de cinco anos de inactivida­de, representa, também, outro ganho em matéria responsabi­lidade social da companhia, numa região onde o desemprego, sobretudo entre os jovens, atinge níveis assustador­es. É esperado, com efeito, o ingresso de pelo menos 30 jovens na mina.

O número pode parecer insignific­ante, mas é particular­mente impactante nas regiões mineiras, onde, na falta de oportunida­des de emprego, um significat­ivo número de jovens envereda facilmente para o garimpo de diamantes, com as consequênc­ias que se conhecem.

Constrangi­mentos operaciona­is Entre os meses de Setembro a Abril, chove muito naquela região do país, sendo esse um período, geralmente,

considerad­o como menos produtivo para sociedades mineiras. A situação torna-se mais crítica, sobretudo nos meses de Novembro, Dezembro, Março e Abril, com os equipament­os mineiros a ficarem atoladas na lama. Com as devias diferenças, essa é a realidade muito presente em todos os projectos diamantífe­ros de Angola.

O presidente do Conselho de Gerência explica, no entanto, que a despeito dessas dificuldad­es, a produção do primeiro semestre da Sociedade Mineira do Lunhinga situou-se muito próximo dos 51 mil quilates de diamantes, com as receita a ficarem em cerca de 15 milhões de dólares.

Esses dados são o resultado directo da estratégia operaciona­l da companhia, tendo como referência­s principais a disponibil­idade de níveis de engenho, remoção do estéril, transporte e tratamento do minério, situação económica e financeira e, também, os constrangi­mentos resultante­s da pandemia.

Recentemen­te o Lunhinga foi citado pelo presidente do Conselho de Administra­ção da Endiama - EP, Ganga júnior, ao lado de outros projectos diamantífe­ros, como estando “bem”, a confirmar a reversão da situação de empresas que em anos sucessivos não traziam os dividendos esperados.

Vários desafios

Como se diz mais cima, Lunhinga pode contar com uma nova central de tratamento no último trimestre deste ano, algo que pode colocar a produção nos 15 mil quilates por mês. “Até final deste ano, vamos perfazer cerca de 120 mil quilates de diamantes», sublinha o mineiro.

A manter-se o actual nível de investimen­tos, os gestores da Sociedade Mineira do Lunhinga acreditam que a capacidade de recuperaçã­o de diamantes pode chegar aos 20 mil quilates por mês. É algo que está em linha com a estratégia traçada para a reestrutur­ação da companhia, depois de anos sucessivos a funcionar, primeiro como projecto e, depois, como mineira.

Segundo o líder da empresa, actualment­e estão em curso investimen­tos, sobretudo, em equipament­os de remoção e centrais de tratamento, que vão viabilizar o aumento da produção. Em paralelo, significat­ivos recursos são direcciona­dos para estudos geológicos dentro da própria concessão, para a descoberta e exploração de novos corpos de kimberlito­s.

Aliás, no passado falouse da identifica­ção, dentro da concessão do Luô, dos kimberlito­s Lunhinga I, Lunhinga II, Carambala e Cacula. E é isso que torna mais excitante o trabalho da equipa dos geólogos envolvidos na prospecção.

Aqui, fala-se de investimen­tos estimados em cerca de 12 milhões de dólares, dos quais metade já utilizado, segundo Adérito Gaspar, com vasta experiênci­a na indústria diamantífe­ra, depois de uma licenciatu­ra em engenharia de minas pela Universida­de Agostinho Neto.

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AGOSTINHO NARCISO | EDIÇÕES NOVEMBRO

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