Golpe de Estado na República da Guiné
Num vídeo posto a circular nas redes sociais pode ver-se Alphacondé sentado numa cadeira, de camisa aberta e descalço, rodeado por militares armados
As forças especiais da Guiné detiveram, ontem, o Presidente Alpha Condé e anunciaram a dissolução das instituições e da Constituição da República. Num vídeo divulgado nas redes sociais e na televisão, os insurgentes declararam, também, o encerramento das fronteiras. O Secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, condenou a tomada de poder pela força das armas e apelou à libertação do
Presidente. Numa publicação no Twitter, Guterres pediu a “libertação imediata do Presidente Alpha Condé”, sublinhando que está a seguir a situação na República da Guiné “de muito perto”.
O Presidente da Guinéconakry, Alpha Condé, foi, ontem, detido em Conacri, na sequência de um Golpe de Estado, liderado pelo chefe das Forças Especiais, Mamady Doumbouya, que terá contado com a cumplicidade dos seus homens.
Num vídeo posto a circular nas redes sociais, pode verse Alpha Condé sentado numa cadeira, de camisa aberta e descalço, rodeado por militares armados, deixando perceber que estava impedido de se movimentar e que teria sido apanhado de surpresa.
No vídeo podia ainda ouvir-se uma pessoa a perguntar ao Presidente se ele havia sido agredido, não se ouvindo qualquer resposta.
Às oito horas da manhã local, a France Press citava residentes de Conacri que diziam que tiros de armas automáticas foram ouvidos no Centro da capital e que muitos soldados eram visíveis nas ruas. Nenhuma explicação foi inicialmente disponibilizada sobre as razões para esta tensão na península de Kaloum, no Centro de Conacri, onde estão localizadas a Presidência, instituições e escritórios comerciais. As autoridades não falaram sobre esta situação.
No início da tarde, Mamady Doumbouya pôs a circular nas redes sociais uma declaração onde assumia que estava a liderar a situação, garantindo que tudo estava “sob controlo”. Na mesma declaração, o líder do golpe anunciava que a situação política e económica do país, bem como a inoperatividade das instituições republicanas e a instrumentalização da Justiça “levaram as forças armadas a assumirem as suas responsabilidades para com o povo”.
Mamady Doumbouya anunciava a dissolução do Parlamento, Constituição, Governo e o encerramento das fronteiras.
Antigo legionário integrado nas Forças Armadas Francesas, Mamady Doumbouya criou as Forças Especiais da Guiné, com as quais conseguiu uma independência face ao Exército Regular que lhe permitiu agora dar este Golpe de Estado sem que exista conhecimento de que tenha sido alvo de qualquer tipo de resistência.
Guterres e CEDEAO condenam o acto
O Secretário-geral das Nações Unidas e a Comunidade Económica de Estados da África Ocidental (CEDEAO) condenaram o acto e exigiram a libertação do Presidente da Guiné.
Numa publicação no Twitter, António Guterres disse que está a seguir a situação na Guiné-concari "de muito perto.
"CEDEAO exige respeito pela integridade física de Alpha Condé, a sua libertação imediata e sem condições, bem como de todas as personalidades detidas pelos militares", adianta a organização em comunicado .
A organização, dirigida atualmente pelo presidente do Gana, Nana Akufo Addo, manifestou "grande preocupação" com os "recentes desenvolvimentos políticos" em Conacri e condenou "firmemente" o que considerou uma "tentativa de golpe de Estado"
Guiné-bissau reforça segurança na fronteira
A Guiné-bissau reforçou as medidas de segurança na fronteira Leste e Sul com a Guiné-conakri, depois de forças especiais daquele país terem afirmado que capturaram o Presidente, disseram ontem à Lusa fontes militares. Os batalhões dos aquartelamentos de Gabu (Leste), de Quebo e Buba (no Sul) receberam ordens do Estadomaior das Forças Armadas no sentido de reforçarem as medidas de segurança nos postos de fronteira com a República da Guiné. Fontes do Governo disseram que Bissau "está a acompanhar o evoluir da situação" na Guiné-conacri.
A Guiné-conakri, país da África Ocidental que faz fronteira com a Guiné-bissau e é um dos mais pobres do mundo e enfrenta, nos últimos meses, uma crise política e económica, agravada pela pandemia de Covid-19.
A candidatura do Presidente Alpha Condé a um terceiro mandato, considerado inconstitucional pela oposição, em 18 de Outubro de 2020, gerou meses de tensão que resultou em dezenas de mortes. A eleição foi precedida e seguida da detenção de dezenas de opositores.
Vários defensores dos direitos humanos criticam a tendência autoritária observada durante os últimos anos na Presidência de Condé e questionam as conquistas do início da sua governação.