Jornal de Angola

ADRIANO MIXINGE

- Adriano Mixinge

“Moça” é um filme de Denis Miala

Ele fez um filme sobre este tempo, em que nós vivemos: com o filme “Moça” (2021) Denis Miala acaba de concorrer, na categoria de curta-metragem independen­te, a um prémio no Festival “Venice Shorts”, na Califórnia (EUA).

Quando nos conhecemos, ele deveria ter uns 20 anos de idade e estava a terminar a sua formação na escola de “Estudos sobre o Terreno de Técnicas da Indústria Cinematogr­áfica” (ETTIC), em Gennevilli­ers, enquanto eu começava a minha “aventura parisiense”.

Já naquele período terei visto alguns dos seus exercícios académicos e, agora, quando já passaram quase dezoito anos, numa gentileza sua, no domingo passado, ao fim da tarde vi o seu último filme.

Naquela época, há quase duas décadas atrás, o seu irmão Márcio e ele iam frequentem­ente à Rua Salvador Allende, em Nanterre, nos arredores de Paris, ao bairro em que vivíamos para ver os seus amigos angolanos entre os que estavam o meu irmão Kady e os franceses, de diversas origens.

Muitas vezes, enquanto eu saísse ou entrasse, via o grupo deles, “na placa” do prédio, umas vezes na entrada principal e outras vezes, no jardim da parte traseira, a ouvirem música Rap e, no geral, sonoridade­s undergroun­d e experiment­ais, sem saber ao certo se aquela energia de juventude que reunia aquele grupo de jovens iria mesmo transforma­r-se em “produtos da criativida­de e da imaginação”, em trabalho duro e útil, em qualquer coisa que valesse realmente a pena.

Foi, pois, em Nanterre que Denis Miala (1988), já com a sua microempre­sa Mancha Negra Entertaine­ment realizou um dos seus primeiros dentre as mais de quatro dezenas de videoclipe­s que realizou até ao momento, no caso, o da música “Macadam” (2009) do músico Youssoupha, - que, por sinal, é filho do cantor congolês democrátic­o, Tabu Ley Rochereau -, com uma discreta participaç­ão no vídeo da famosa cantora francesa de origem grega-cipriota Diam`s: o dia da filmagem foi de festa no bairro, coisa que podemos verificar no entusiasmo dos extras, fundamenta­lmente jovens e crianças, que nela participar­am.

Denis Miala não parou por aí. Desde ainda muito antes de regressar, definitiva­mente, à Angola, em 2010, teve uma etapa em que dedicou-se entre outras coisas, a produzir e a realizar outros vídeoclipe­s de novos expoentes da nossa cultura urbana: as músicas “Freaking Me Out” (2010) de Paul G, “Eu Quero Mais Karga” (2009) de Big Nelo, “Solteiro” (2010) de Zona 5, “Zebede” (2011) de Puto Português e “A Cidade a Noite” (2021) de Young Double tem videoclipe­s realizados por ele.

É com este background que, ainda este ano, Denis F. Miala acabou de realizar a curta-metragem “Moça”, com produção executiva de Lourenço de Carvalho e Alberto Mendes. Na sequência da realização dos videoclipe­s, nesta curta-metragem de Denis Miala vemos já algumas das formas de fazer cinema de ficção, que apontam já para um estilo ou para fetiches que o realizador usa de forma recorrente: a maneira de colocar a câmara, a utilização dos planos paralelos e das histórias intercalad­as, a maneira como aproveita a banda sonora e ou musical e, sobretudo, o modo como trata a luz e as cores.

A história que nos conta em “Moça” é inquietant­e: o espírito justiceiro de uma moça vestida de branco assombra as noites, na Marginal de Luanda a procura de quem (do governo) desalojou arbitraria­mente a sua família de uns terrenos, causando a angústia e o desencanto do seu pai até à morte.

Ao longo dos vinte e cinco minutos, que dura a curta-metragem, o argumento se desenvolve através da recordação da história de uma vítima (maluco) contada por um jovem, na placa de um dos prédios dos combatente­s, com participaç­ões de José “Imperador” Inácio, Dalila Contreiras, José Dange, Ladilson Manuel, Marta Machado, Gaspar Pereira Wão, entre outros, actores estes saídos dos grupos de teatro e dos shows de stand upcomedy existentes no nosso país e uma banda sonora que termina sendo um compêndio de vários estilos e gerações musicais de Angola e do mundo.

“Moça” é, também, um registo de uma cidade de Luanda em ebulição, que muda com as suas gentes, com os seus acertos e com as suas contradiçõ­es: nela, presente e passado convivem nem sempre harmoniosa­mente.

Enfim, agora, quando Denis Miala já tem 43 anos de idade, aconselho ao leitor a, na primeira oportunida­de, ir ao Youtube ver o trabalho do realizador: ele sabe que o cinema é um espelho que contribui para a mudança de mentalidad­e dos cidadãos.

Ao longo dos vinte e cinco minutos, que dura a curtametra­gem, o argumento se desenvolve através da recordação da história de uma vítima (maluco) contada por um jovem, na placa de um dos prédios dos combatente­s, com participaç­ões de José “Imperador” Inácio, Dalila Contreiras, José Dange, Ladilson Manuel, Marta Machado, Gaspar Pereira Wão, entre outros, actores estes saídos dos grupos de teatro e dos shows de stand upcomedy existentes no nosso país

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