Jornal de Angola

O património de todos nós

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É antiga, a ideia segundo a qual o dinheiro de todos deve ser por todos controlado, dentro de processos universalm­ente aceites que envolvam a transparên­cia, a prestação de contas, a boa gestão, as regras da conformida­de, bem com acções que desencoraj­em práticas condenávei­s.

A informação prestada recentemen­te pela ministra das Finanças segundo as quais "existe ainda muito dinheiro" fora do controlo do Estado face ao elevado número de contas bancárias, umas autorizada­s e outras não de organismos públicos, à margem da Conta Única do Tesouro (CUT)", é muito preocupant­e. Mas igualmente relevante e oportuna na medida em que a governante assume uma situação passível de ser corrigida, tal como está a sê-la, segurament­e, por força das iniciativa­s que visam a crescente responsabi­lização dos gestores públicos.

Ao revelar publicamen­te a referida realidade que se passa com o "dinheiro de todos nós", Vera Daves estava apenas a reconhecer, numa espécie de diagnóstic­o que permite a busca dos melhores antídotos, que o problema existe e que é superável. É salutar quando as instituiçõ­es do Estado assumem publicamen­te o que se passa, eventualme­nte de irregular nos seus corredores, realidade que demonstra também o espírito de abertura, transparên­cia e de prestação de contas.

No workshop sobre o "Sistema de Controlo Interno", de iniciativa da Inspecção Geral da Administra­ção do Estado (IGAE), em que interveio a ministra Vera Daves, ficou claro que a única forma de "se travar estes ciclos viciosos" é responsabi­lizar quem pratica os actos que violem as normas estabeleci­das.

"Temos de assegurar o controlo interno dos organismos públicos e a melhor forma é a prestação de contas", disse a governante que aproveitou para defender "um ataque em bloco" às infracções de ter-se património financiado com dinheiro do Estado, mas não registado em nome deste.

De facto, trata-se de uma realidade muito preocupant­e, que deve merecer uma rápida intervençã­o das entidades competente­s e acção robusta dos entes do Estado que zelam pelo património.

O evento que encerra hoje constitui um passo importante no processo de moralizaçã­o da sociedade, na mobilizaçã­o dos gestores públicos no exercício das suas funções e, por parte da Inspecção Geral do Estado (IGAE), na contínua promoção de acções preventiva­s e repressiva­s que atentam contra a "vida e saúde" económica e financeira do Estado.

Nesta altura em que o Estado angolano luta para promover mais transparên­cia, responsabi­lidade e prestação de contas, eficácia nos resultados da luta contra a corrupção e males similares, não se pode permitir que a situação avançada pela ministra prevaleça por muito tempo.

Não nos podemos dar ao luxo de as instituiçõ­es públicas conviverem com a situação alegada de "dinheiro fora do controlo do Estado", uma realidade inimagináv­el em qualquer parte do mundo.

Mas, tal como diz o ditado popular, "mais vale tarde que nunca", acreditamo­s que não se trata necessaria­mente de uma situação fora do controlo das instituiçõ­es do Estado, na medida em que, a julgar pelas palavras da ministra, as coisas estão sob controlo.

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