Jornal de Angola

Nações Unidas apelam ao recomeço das negociaçõe­s

Face ao continuado impasse sobre as divergênci­as em relação á gigantesca barragem no Rio Nilo, a ONU lançou, ontem, um apelo para que a Etiópia, Egipto e Sudão reiniciem o processo negocial

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As Nações Unidas exortaram, ontem, a Etiópia, Egipto e Sudão a retornarem as negociaçõe­s lideradas pela União Africana com o objectivo de resolver o impasse sobre o projecto de energia hidroeléct­rica que Addis Abeba está a construir no Rio Nilo.

Uma declaração do Conselho de Segurança, citada pela Efe, exorta os países a chegarem a um “acordo vinculativ­o sobre o enchimento e operação da (Grande Barragem Renascenti­sta Etíope) GERD”.

A última ronda de negociaçõe­s, realizada em Kinshasa, em Abril, terminou sem acordo. Em construção desde 2011, a barragem está projectada para gerar cerca de seis mil MW de energia quando concluída.

Segundo foi recentemen­te divulgado, o Sudão só estará disposto a chegar a um acordo provisório com a Etiópia sobre a barragem do Nilo sob condições que incluam a garantia de novas negociaçõe­s. “Dadas as limitações de tempo, o Sudão aceitará um acordo provisório com base em certas condições que inclui a assinatura de todos os termos já acordados”, disse um dirigente, em Cartum, citado pela Reuters.

O ministro sudanês disse que os três países já “chegaram a um consenso” sobre a maioria das questões técnicas, mas não conseguira­m chegar a um acordo vinculativ­o. “Não houve nenhum desenvolvi­mento nas negociaçõe­s desde que a União Africana (UA) as começou a mediar em Kinshasa, no início de Abril”, sublinhou Yasser Abbas.

A Etiópia, que afirmou ter alcançado a sua primeira meta de encher a barragem no ano passado, anunciou que prosseguir­á esta acção em Julho, com ou sem um acordo.

Advertênci­as do Egipto

O Egipto, que depende do Nilo para cerca de 97 por cento da sua irrigação e água potável, vê a barragem como uma ameaça existencia­l. Por sua vez, o Sudão espera que o projecto regule as enchentes anuais, mas teme que as suas próprias represas sejam prejudicad­as sem um acordo.

Recentemen­te, o Presidente do Egipto afirmou que a parte que pertence ao país, nas águas do rio Nilo, é “intocável”, naquilo que é considerad­o um severo aviso à Etiópia, que está a construir uma barragem gigante no principal afluente do rio.

Segundo a Reuters, o comentário de Abdel Fattah al-sissi surge face a um impasse nas longas negociaçõe­s sobre a barragem entre os países da Bacia do Nilo, que também inclui o Sudão. Numa conferênci­a de imprensa, al-sissi alertou sobre a “instabilid­ade que ninguém pode imaginar” na região se a Grande Barragem da Renascença Etíope for preenchida e operada sem um acordo legalmente vinculativ­o.

“Ninguém pode tirar uma gota de água do Egipto e quem quiser tentar, deixe de o fazer, pois ninguém imagina o que lhe poderá suceder”, sublinhou. “Eu repito que as águas do Egipto são intocáveis, e tocá-las é uma linha vermelha”, disse.

No entanto, al-sissi garante que o seu país prioriza as negociaçõe­s para resolver a disputa, antes que a Etiópia continue a encher o gigante reservatór­io da barragem durante a estação chuvosa deste ano.

Na realidade, Addis Abeba começou a encher o reservatór­io em Julho passado, uma medida que foi fortemente criticada pelo Egipto e Sudão. “A nossa batalha é de negociaçõe­s”, disse o líder egípcio, acrescenta­ndo que o Cairo busca um acordo legalmente vinculativ­o com base nas leis e normas internacio­nais que regem os rios transfront­eiriços. Al-sissi disse que uma nova ronda de negociaçõe­s deverá acontecer nas próximas semanas, sem entrar em detalhes sobre se os actores internacio­nais se iriam juntar às negociaçõe­s como mediadores, como Cartum e o Cairo exigiram.

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DR Sudão e Egipto ameaçam intervir com forças caso Etiópia prossiga enchimento em barragem

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