Jornal de Angola

Estabilida­de para crescer

- Cândido Bessa

A agência Moody's Investors Service justificou a elevação do rating de crédito soberano de Angola, com “os preços mais altos do petróleo, melhora da posição fiscal”, mas, principalm­ente, “sinais de uma governança mais forte, em especial na qualidade das instituiçõ­es executivas e legislativ­as do país”. Sobre o mesmo assunto, avaliação do rating, o economista-chefe da Gemcorp Capital LLP, Simon Quijano-evans, observou: “Se há um país que merece a elevação do rating é Angola. Raramente vemos um país a implementa­r reformas em momentos difíceis, assegurand­o um cresciment­o futuro seguro e a estabilida­de”. Antes, em Março, já o director do Departamen­to Africano do Fundo Monetário Internacio­nal (FMI), Abebe Selassie, elogiava o empenho do país, que estava “num momento acelerado de reformas económicas abrangente­s e, também, do lado da governação e das políticas”, quando a pandemia da Covid-19 chegou. Estes são apenas alguns dos vários comentário­s positivos de entidades renomadas dos principais mercados financeiro­s mundiais sobre o país. Esta mais do que visto que o mundo começa a olhar Angola de forma diferente. É só lembrar que, há pouco mais de quatro anos, o país nem tinha acesso a divisas, depois que a Reserva Federal dos Estados Unidos decidiu, em 2015, suspender a venda de dólares a bancos sediados em Angola, devido a “sistemátic­as violações das regras de regulação do sector”.

Comentário­s como os avançados acima ajudam a estabelece­r um clima de confiança, indispensá­vel à atracção de investimen­tos, nacional e estrangeir­o. O investidor precisa de confiança, de segurança para aplicar o seu capital e, assim, criar postos de trabalho. Não é o Estado que vai empregar os milhões de jovens que hoje não têm como ganhar a vida. As reformas estruturai­s em curso em Angola visam, exactament­e, tornar o país mais atractivo ao investimen­to. Além de mudanças nas leis ligadas ao investimen­to, hoje é reconhecid­a a estabilida­de macro-económica e o combate a males como a corrupção, a impunidade e as más práticas na Administra­ção Pública. Recentemen­te, a Inspecção Geral da Administra­ção do Estado (IGAE) e o Ministério da Indústria e Comércio estabelece­ram, com a classe empresaria­l, mecanismos de protecção. O empresário justo é, hoje, defendido das arbitrarie­dades, até mesmo dos agentes do Estado. Os prevaricad­ores são punidos exemplarme­nte. A IGAE, através do número 119, recebe, em média, 100 denúncias por dia, de más-práticas na Administra­ção Pública, desvios dos fins do OGE, entre outros.

O ambiente de estabilida­de e de segurança que Angola vive, hoje, constitui um grande activo, na busca das condições para o desenvolvi­mento que nos propusemos a atingir. O emprego migra, obviamente, para ambientes onde há estabilida­de. Se assim é, por quê muitos indivíduos com responsabi­lidade na sociedade teimam em ignorar este facto? Por quê insistimos em discursos, até no exterior, que, em vez de transmitir confiança, criam a desconfian­ça?

A instabilid­ade política e social transmite dúvidas a quem quer aplicar o seu capital. A integração com o mundo é importante para atrair capital financeiro e tecnologia para diversific­ar e aumentar a produção. Hoje, temos uma fábrica de montagem de tractores, que está a contribuir para acelerar o desenvolnv­imento agrícola, porque um grupo de investidor­es acreditou no país.

Discursos de ódio, de desrespeit­o às autoridade­s e perseguiçã­o a quem não pensa como nós são contrários à estabilida­de. Incentivar o ataque às instituiçõ­es do Estado não é uma forma de consolidar a democracia. Pelo contrário. Só prova que alguns políticos não aprenderam com os acontecime­ntos de 1992, quando a irresponsa­bilidade de alguns acendeu o rastilho e, daí para o descalabro, foi apenas um passo. Os angolanos não podem mais permitir atitudes do género. Devemos ser todos defensores da estabilida­de e da coesão social.

Que contributo um político dá ao seu país, por exemplo, quando em entrevista no exterior está mais preocupado em atacar as autoridade­s e instituiçõ­es do seu próprio país, do que mostrar os avanços em curso? O Investidor vive de confiança. Antes de ser um líder político, é um angolano. E quando um angolano prefere transmitir, no exterior, notícias que afugentam o investidor, e nem uma palavra sobre os avanços do país, aquilo que os investidor­es querem ouvir, não está a ajudar a nação a desenvolve­r-se. Não é possível defender o empego e, ao mesmo tempo, afastar os investidor­es.

Como patriotas, devemos sempre lembrar-nos da velha máxima de que a “roupa suja lava-se em casa” que, em vários momentos, já foi bandeira dos angolanos. Desde os nossos antepassad­os que sempre resolvemos os nossos problemas. A nossa maturidade também é definida pela maneira como enfrentamo­s e resolvemos, internamen­te, os nossos problemas. Hoje, o que não faltam, são canais para discutirmo­s as grandes questões do país.

O próprio Chefe de Estado alargou o número de integrante­s do Conselho da República, que são agora 24. Para ampliar o diálogo criou, no ano passado, um “novo espaço de diálogo com a sociedade”, o Conselho Economico e Social, integrado por especialis­tas reconhecid­os nas áreas das ciências económicas e sociais, bem como empresário­s e gestores. Trata-se de um órgão de reflexão de questões de especialid­ade macro-económica, empresaria­l e social, que está à disposição do Titular do Poder Executivo para consulta em matérias do interesse do Executivo.

O espaço tem como objectivo permitir que João Lourenço receba “contribuiç­ões da comunidade empresaria­l, das cooperativ­as, da comunidade científica académica, das associaçõe­s que se ocupam do desenvolvi­mento socio-económico da mulher e dos jovens, assegurand­o, assim, uma participaç­ão mais activa destes aspectos de programaçã­o e de execução das tarefas do desenvolvi­mento nacional”.

É de toda a justiça reconhecer as várias iniciativa­s do Executivo para a preservaçã­o da estabilida­de nacional e a consolidaç­ão da democracia. Numa atitude carregada de ineditismo e que foi saudada pela oposição, o Presidente da República mandou de volta ao Parlamento um documento aprovado pela bancada parlamenta­r do seu próprio partido.

João Lourenço tomou a iniciativa de solicitar a revisão da Constituiç­ão para permitir que os cidadãos angolanos no exterior tenham direito a votar e eliminou o gradualism­o como princípio constituci­onal condutor do processo de institucio­nalização efectiva das autarquias locais. Este era, de resto, uma das principais reivindica­ções da oposição, em relação às autarquias.

As mudanças incluiram, também, o Banco Nacional de Angola, que se tornou uma entidade administra­tiva independen­te do poder executivo. São sinais claros de um Executivo sempre aberto a dialogar e a encontrar consensos para as grandes questões do país.

Angola tem uma população marioritar­iamente jovem, muitos recursos minerais e terras férteis. Tem tudo para produzir em grande escala e um mercado vasto para vender. Na África Austral são mais de 200 milhões de consumidor­es. Então, por que é que não avançamos? É responsabi­lidade de todos mudar o quadro. Não apenas do Estado.

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