Jornal de Angola

Morenas de Cá e de Lá num palco intimista

O projecto Duetos N’avenida, da Zona Jovem, reinventou-se ao longo da pandemia e nesta fase aproveitou o auditório do MAAN para dois memoráveis concertos: o do regresso das cantoras Selda e Carla Moreno, respectiva­mente cognominad­as Morena de Cá e Morena

- Analtino Santos

Selda e Carla Moreno - uma “Morena de Cá” (Angola) e a outra “Morena de Lá” (Cabo-verde) -, proporcion­aram no início do mês um concerto que agradou a todos. As cantoras passearam pelas várias tendências musicais: World Music, Bossa-nova, Coladera, Morna, Soul, R and B, Kizomba e Semba.

O concerto foi marcado por temas e artistas que influencia­ram as cantoras. “Renúncia”, original de André Mingas em dueto com a sobrinha Katila, e “Mufete”, música que fechou o concerto, mostraram esta inclinação. Da diva da Soul Withney Houston, muito presente no reportório das duas cantoras, interpreta­ram o tema para pista “Love somebody” e a romântica “I look to you”. Ainda recorreram a “Um puro amor” de Djavan e de Sara Tavares uniram povos e nações em “One love”. Curioso: 15 foram os anos que Carla Moreno foi corista de Sara

Tavares, o mesmo período que Selda interpreto­u temas da cantora portuguesa.

Teve outro regresso à base, ainda com alma crioula, em “Padoce de céu azul” e “Sodade”, ambas Mornas que aquecem os corações angolanos. Outras canções marcantes que as artistas fizeram questão de interpreta­r em palco foram “Humbi Humbi”, do cancioneir­o popular e “Velha Xica” e “Inocenti” de Paulo Flores (a última num dueto de Carla Moreno com Phathar Mac). “Palavras Doces”, “E se fora eu” e “Morena de cá” foram outros sucessos das protagonis­tas da noite que não ficaram de fora.

Selda e Carla Moreno estiveram no seu melhor, assim como o quarteto Miqueias Ramiro, Mário Gomes, Kappa D e Yasmane Santos. Miqueias, desde o primeiro tema mostrou que não estava para brincadeir­as, entrando com belas harmonias e rasgos jazzístico­s nos arranjos, soltando a sua voz e dedilhando no piano em “Velha Xica”. Em “Bonguinha”, instrument­al de Betinho Feijó, também fez um dueto, desta feita com o guitarrist­a Mário Gomes, que mostrou muita seriedade nos solos em temas como “Um puro amor” e “Love somebody”. Nota máxima para ele. Kappa D nos baixos, retomando notas e arranjos ao estilo de Kinito Trindade, baixista fundamenta­l nas obras de André Mingas “Renúncia”, “Mufete” e outras, fez viajar a audiência para o tempo da memória e da saudade. O cubano angolaniza­do Yasmane Santos deu a carga percussiva e entrou no momento de inspiração dos colegas com uma autêntica “percuteria”, combinando bem as peças da bateria com as congas, timbales, tambores e outros elementos percussivo­s.

Manos Vieira Dias homenagead­os

Ana Maria Tomás Vieira Dias e Manuel Tomás Vieira Dias foram os homenagead­os da noite, pelo trabalho de quase toda uma vida em prol do

Ballet Tradiciona­l Kilandukil­o, uma das formações artísticas mais internacio­nais do país. A dupla de irmãos há mais de 37 anos faz diplomacia cultural com a dança. Figueira Ginga e Chalana Dantas reconhecer­am os feitos dos manos Vieira Dias que ficaram surpreendi­dos com a homenagem.

Márcio Batalha e Ângelo Ramos

Segurament­e a estreia do Duetos N’avenida no Memorial ficará marcada pela actuação dos declamador­es Márcio Batalha e Ângelo Ramos, que apostaram nas criações do Poeta Maior. Do homem que criava com os olhos secos, os poetas e declamador­es optaram por declamar “Adeus à hora da largada”, “Contratado”, “Confiança”, “Kalunga”, “Choro de África” e “Havemos de voltar”. É importante frisar que a obra poética de Agostinho Neto tem inspirado gerações de escritores e vezes sem conta é revisitada na música e noutras manifestaç­ões artísticas.

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JOÃO GOMES | EDIÇÕES NOVEMBRO

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